Aires Mateus ganha projecto para Mesquita em Bordéus/França – Por Catarina Moura
Esquecer as
conotações visuais de uma mesquita e traduzir no espaço a religiosidade
muçulmana é o que propõe o atelier de arquitectura Aires Mateus que ganhou o
projecto para o Centro Muçulmano de Bordéus, em França.
A ambição de construir um espaço
contínuo e em que a ideia de unidade entre a religião e o quotidiano são
centrais fez do projecto do arquitecto Manuel Aires Mateus o escolhido em
concurso pela Fédération Musulmane de la Gironde.
Neste concurso, em que
os candidatos entraram por convite, chegaram à fase final, para além
do atelier Aires Mateus, quatro franceses: o atelier de
arquitectos Poly Rythmic Architecure, que tinha já desenhado uma mesquita
na Arábia Saudita, o atelier Lion Associés, que organizou a área urbana
junto à Grande Mesquita, em Meca, o atelier Marjan Hessamfar-Joe Verons
Architectes, de Bordéus, e o arquitecto Éric Lapierre.
A obra com o valor de 24 milhões
e meio de euros e com quase 12 mil metros quadrados centra-se no culto e na
cultura muçulmana, em que o lado religioso de cada indivíduo se estende à sua
vida quotidiana. Foi esta ideia de continuidade e unidade da vida religiosa com
a vida social que o atelier procurou neste projecto que vai ser erguido de raíz
junto ao rio Garona, na zona nova de Bordéus, em França.
“Para este projecto procurámos um
espaço absoluto, uma topografia contínua, uma arquitectura onde tudo está
ligado: os diferentes usos [do edifício], os percursos que os relacionam, a luz
filtrada que os caracteriza. Um todo sem partes”, lê-se na nota explicativa que
acompanha o projecto.
Para a concretização física deste
conceito, há um andar térreo de ligação à cidade com lojas e cafetarias, o lado
social, e um outro superior onde estão as funções culturais, salas de aula.
Entre estes dois, há um espaço aberto, revestido a vidro dedicado ao culto:
duas salas, uma com 350 lugares para uso diário, e outra com 4 mil, para uso
semanal.
“Esse espaço é o grande vazio, em continuidade com o mundo, em que a
luz exterior que se prolonga é um espaço para a religião sem fronteiras”,
explica Aires Mateus ao PÚBLICO, acrescentando que o “culto é este lugar que
está entre o céu e a terra, que o une e que nos interessa”.
O piso térreo quer ser ainda um
lugar de ligação da comunidade muçulmana com a comunidade de Bordéus: este
espaço é perfurado para que se possa circular por ele sem se seja um objecto
fechado, perturbador da circulação na cidade.
“É mais estimulante por ser
um espaço religioso, em que o que interessa é a espiritualidade e
transcendência”, disse o arquitecto Manuel Aires de Mateus a propósito do
primeiro projecto do atelier Aires Mateus para um espaço religioso. Apesar
desta novidade, como nos anteriores trabalhos deste atelier, a centralidade do
projecto volta a estar numa ideia de espaço.
Em Março, o atelier Aires Mateus
venceu também em concurso o projecto da Faculdade de Arquitectura de Tournai,
na Bélgica, e em 2012, foram os escolhidos para recuperar a antiga escola
de Belas-Artes e lhe adicionar um novo volume contemporâneo, de forma a
criar um centro cultural em Tours, em França.
Fonte: http://www.publico.pt
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