CIP é ponto de encontro de judeus alemães refugiados em São Paulo – Por Silke Bartlick
Foram em sua maioria judeus
liberais que migraram da Alemanha para o Brasil. A Congregação Israelita
Paulista que mantêm até hoje foi durante muitos anos o centro da vida de muitos
imigrantes.
Antigamente, a casa ficava
aberta. Hoje, um portão alto bloqueia a entrada do prédio. Quem quer entrar na
sede da Congregação Israelita Paulista, conhecida entre seus membros por CIP,
precisa tocar a campainha e se identificar perante o porteiro.
São as medidas de segurança
comuns em São Paulo, uma cidade onde todo prédio de melhor categoria têm cercas
elétricas e arame farpado para garantir a segurança. E onde câmeras vigiam as
portarias e os carros ficam guardados em garagens subterrâneas, depois de passarem
por dois portões de controle. A taxa de criminalidade na cidade é alta e o medo
de sequestros, enorme.
Bem no centro
A CIP fica localizada numa
pequena rua, não muito distante da movimentada Avenida Paulista, com suas
quatro pistas e suas infinitas torres de concreto, que parecem concorrer umas
com as outras para tocar o céu. Em 1936, quando a comunidade judaica na cidade
foi fundada, a região ainda era tranquila, sem arranha-céus, sem a poluição
deixada pelos carros e com crianças que ainda brincavam nas ruas.
Resquícios do que a cidade foi no
passado
A Congregação Israelita Paulista
foi fundada pelo médico alemão Dr. Lorch, que já vivia em São Paulo com sua
esposa, Luisa, desde os anos 1920: um homem prestativo, como contam todos os
que com ele conviveram. Ele recomendou com veemência muitos amigos e
conhecidos, que ainda se encontravam na Alemanha sob o regime nazista, a
deixarem o país o quanto antes. E salvou, desta forma, a vida de muita gente.
Em 1936, Lorch fundou a CIP, aberta a todos os que chegavam, mas sobretudo
ponto de apoio e lugar de conforto para os refugiados alemães vítimas do
Holocausto.
Ponto de fuga: São Paulo
Os judeus alemães migravam para
São Paulo porque a cidade tinha feições europeias, conta Henrique Cohen,
nascido em 1928 em Hamburgo. E também porque o clima era mais fresco do que o
do Rio de Janeiro. Além do fato de a cidade oferecer empregos na indústria.
Henrique Cohen foi durante 40 anos diretor comercial da CIP.
"As pessoas
me chamam de 'memória da comunidade'", conta ele com um sorriso. E desta
memória fazem parte as histórias sobre os primeiros anos da comunidade judaica
na cidade.
Antigamente, lembra Cohen, os
funcionários voluntários da CIP recebiam regularmente no porto de Santos os
imigrantes que chegavam. E os levavam para São Paulo, onde ajudavam na
organização dos documentos necessários, bem como na busca de trabalho. Na sede
da CIP, os recém-chegados recebiam o conforto emocional necessário e podiam
também se divertir, jogando ou ouvindo música, por exemplo.
A casa que servia de sede à
comunidade foi por muitos anos o centro da vida de muitos imigrantes. Ali
eles se reuniam nas noites de sexta-feira para o shabbat ou em dias de festa. E
havia grupos para mulheres, idosos e crianças. É impressionante como muitos
homens ainda hoje se lembram, com um brilho nos olhos, das aventuras de seus
tempos de escoteiro.
Comunidade em transformação
Os judeus vindos da Alemanha eram
cultos, tinha boa formação educacional e uma consciência acirrada para a
justiça e responsabilidade social, diz o rabino Ruben Sternschein, desde 2008
na comunidade judaica de São Paulo. Eles vinham, continua ele, de uma tradição
liberal de quase um século, tendo sido formados pelo pensamento de Moses
Mendelssohn, Martin Buber, Kant, Hegel e Nietzsche. "Tudo isso eles
trouxeram para cá", diz o rabino. Para a comunidade e para a cidade.
A Congregação Israelita Paulista
é a maior comunidade judaica da América Latina, com um total de aproximadamente
1500 famílias e 8 mil pessoas. A CIP tem grupos de jovens, idosos e diversos
grupos de estudos, além de abrigar diversas festividades durante o ano e sediar
cerca de 50 casamentos. Mas algo mudou no decorrer das últimas décadas: os
judeus provenientes da Alemanha e seus descendentes integraram-se à sociedade
brasileira. A CIP já não é mais o centro de suas vidas.
Hoje, diz o rabino Sternschein, a
comunidade enfrenta novos desafios, tendo que se perguntar como o judaísmo pode
manter seu significado e como ele pode contribuir para responder às grandes
questões do homem moderno. Algumas destas questões estão, por exemplo,
relacionadas às formas de vida atuais. "Se encontrarmos boas respostas,
teremos sucesso no futuro", prevê o rabino.
Fonte: http://www.dw.de
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