Laicismo e intolerância – Por Sergio Sebold*
Estamos novamente sendo varridos
por um vendaval de conceitos políticos, sociais, filosóficos, através de
entidades que buscam destruir nossas tradições cristãs.
A discussão se refere
ao Estado laico, levando um bom número de pessoas intelectualizadas (se realmente
forem) a gerar uma verdadeira confusão mental e política.
Constitucionalmente o Estado brasileiro é
laico. E que bom que assim o seja. No Estado laico, presume-se a ideia de
neutralidade, não ingerência sobre questões religiosas. Implica haver liberdade
para os cidadãos e as instituições manifestarem sua crença, qualquer que seja
ela, sem controle ou imposição de uma específica; tem como princípio a imparcialidade
sobre temas religiosos, sem apoiar ou discriminar qualquer confissão, inclusive
protegê-las em suas manifestações desde que sejam pacificas.
Poucos são os países não laicos;
nestes se enquadram de maneira geral os países islâmicos e Israel; conhecidos por
países de Estado teocrático. Neles o Estado é “submetido” por uma fé ou
religião.
Em alguns casos, intolerância a outras crenças em suas fronteiras,
por grupos fundamentalistas ou mesmo fanáticos. O único caso que se sabe de
tolerância total é Israel, que aceita todas as demais confissões, inclusive o
islã, sua inimiga bíblica, mesmo sendo um Estado teocrático.
Desde os primórdios da era cristã,
a Igreja Católica sempre aceitou e apoiou a separação entre a autoridade
espiritual e o poder temporal de reis, príncipes e imperadores. A consolidação
dessa separação, de maneira alguma, levou ao ódio recíproco. As relações
passaram a tomar corpo normativo, por onde se estruturou toda a civilização
ocidental.
O Magistério da Igreja sempre apontou no sentido da autonomia de
modo que cada instituição possa colaborar com a outra na busca de
suas finalidades precípuas.
Em possuindo finalidades distintas, a religião e o
poder político possuem bens diferentes entre si, cada qual necessário para a
plenitude do espiritual e temporal, respectivamente. Por exemplo, o Estado
laico impõe uma identidade para cada cidadão ao nascer; a Igreja aceita com
tranquilidade este registro, não exigindo outra pelo simples fato de ser
batizado na sua crença. O próprio papa Francisco é bem conhecido pelo seu nome
laico Jorge Mario Bergoglio como foi registrado na cidade de Buenos Aires.
O laicismo, embora derivado da
palavra laico, procura por outro lado secularizar toda a esfera
privada e impor aos cidadãos de uma sociedade um estilo de ser contra a
religião e as formas tradicionais da cultura. Transforma-se em um movimento
político/ideológico totalmente contrário à liberdade de culto; manifestação
pública de crenças, com forte apelo de argumento laicista pela força das
opiniões. Por isso, ele é contrário ao Estado laico, não guardando qualquer
semelhança. O laicismo procura fundamentar sua intolerância, com o intuito de
organizar um mundo sem Deus na sociedade. Isto é uma falácia.
Os povos que se formaram ao longo
da história trazem uma tradição cultural, experiências sociais e políticas, mas
somente se consolidaram e se mantiveram unidos através de uma força
transcendental assumida: a fé. Todas as nações que transgrediram a ordem moral de
Deus caíram e desapareceram nas areias do tempo.
Na Inglaterra, há
plena liberdade religiosa, mas assume constitucionalmente o anglicanismo como
religião oficial, onde a rainha é a chefe da Igreja. Diversos países da Europa
têm suas bandeiras com o símbolo da cruz, mas oferecem plena liberdade
religiosa a seus súditos. Em todos funciona o primado da democracia.
O Brasil tem uma tradição
profundamente assentada na fé cristã. Agora, aparecem arautos da liberdade,
pós-modernidade, muitos ateus assumidos sem qualquer significado estatístico,
querendo destruir toda nossa história, mexendo com o maior símbolo cristão: a
cruz. (Veja: Estamos a um passo da barbárie, Jornal do Brasil 17/03/2012).
Um caso de insensatez se
revelou quando uma decisão judicial mandou retirar da sala do fórum da
Magistratura do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul um crucifixo; mas,
despreocupado com montanhas de processos que se acumulam no limbo da inoperância
e do descaso com a prestação de serviços de justiça à cidadania. Segundo os
laicistas querelantes, a presença de símbolos religiosos ofende as lésbicas.
Esta é uma via de mão única, uma vez que não se reconhece o mesmo direito de
cidadãos ofendidos nos seus valores, pelas manifestações de lesbianismo em
espaços públicos (?).
Nessa escalada de intolerância
laicista, crescente e ideológica, não nos surpreenderá uma explosão de
estupidez contra nomes históricos de nossas cidades, estados, ruas etc e a
derrubada de nosso maior símbolo brasileiro: o Cristo Redentor. Será a festa da
barbárie.
Será que não há mais nada a fazer
no Brasil a não ser o combate contra símbolos religiosos e tradicionais,
empunhando a bandeira do laicismo? Estado laico, sim. Mas articulado
com país real, tolerante, aberto, miscigenado, multicultural.
*
Sergio Sebold, economista, é professor.
Fonte: http://www.jb.com.br
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