Por boa convivência, imigrantes no AC separam dias de rituais religiosos – Por Caio Fulgêncio
Muçulmanos e cristãos dizem que o
mais importante é o respeito. Em novo abrigo, cada nacionalidade está instalada em um local diferente.
Com a transferência de abrigo em
Rio Branco/AC, do Parque de Exposições Marechal Castelo Branco para a Chácara
Aliança, iniciada na segunda-feira (30), os imigrantes ficam separados por
nacionalidade e sexo. Tanto em Brasiléia, município dos primeiros abrigos,
quanto na capital acreana, eles ficavam no mesmo espaço. A medida, segundo a
Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), é para facilitar a
convivência, devido às diferentes culturas, e nos cultos religiosos.
As principais religiões
existentes entre os imigrantes é o cristianismo, entre os haitianos, e o
islamismo, seguido pela grande maioria dos senegaleses. Natural do Haiti,
o jornalista Dorvil Kesnel, de 33 anos, é evangélico da Igreja Batista. Para
ele, existe o respeito entre todos e um acordo foi feito para que apenas uma
celebração religiosa ocorra por dia, para evitar confusão.
"Nós que estamos aqui, não
temos problema de religião. Fizemos um acordo para evitar problemas de
discussão, só há um culto católico, muçulmano, evangélico por dia. Hoje é um,
amanhã é outro, para não confundir. Nós somos imigrantes e temos que nos unir
para seguir mais adiante. Então, não temos tempo para conversar de religião,
cada um tem sua preocupação", afirma.
Em relação aos cultos cristãos, o
haitiano Dorvil Kesnel diz que, normalmente, um grupo se reúne à parte para
orar e buscar a Deus. Ele fala que chegou no estado no dia 15 de maio e não tem
destino certo ainda, mas está em oração para conseguir um emprego.
"Não tenho destino. Temos
amigos, estamos juntos orando a Deus para conseguirmos um bom emprego. Por
isso, não tenho destino, só estou orando para que Deus me dê um destino",
afirma.
A mesma opinião é compartilhada
pelo professor senegalês Moussa Faye, de 42 anos. Ele é muçulmano. "Não há
problema entre os cristãos, muçulmanos e outras religiões. Cada um respeita a
religião do outro. O Brasil é um país que respeita muito a liberdade de cada
um", fala.
Moussa conta que as celebrações
islâmicas ocorrem às quintas-feiras no abrigo da capital. No entanto, os
ensinamentos da religião vão além das palavras. Ele afirma que uma simples
ajuda em alguma coisa já é praticar os ensinamentos de Cheikh Ahmadou Bamba,
teólogo muçulmano fundador da Irmandade Muride, ordem religiosa islâmica.
"Na nossa religião, cada
momento da vida é por Deus. Estamos aqui ajudando na administração e é uma
maneira de viver a religião. Não é só fala, são ações. É uma maneira de louvar
a Deus. Há um momento específico, mas depois devemos sair para ter ações",
acrescenta.
O senegalês, que pretende permanecer
no estado, sonha em uma relação de cooperação entre o Acre e Touba, cidade do Senegal onde
o movimento iniciado Ahmadou Bamba ganhou impulso, em 1926, após a construção
de uma mesquita. É um local onde ocorrem várias peregrinações de muçulmanos que
querem reafirmar a religião.
"Em cada cidade grande do
mundo existe uma casa ou escola para ajudar senegaleses que querem conhecer a
religião muçulmana. Se eu tiver filhos aqui, meus filhos devem conhecer a
religião. É uma maneira de propagar. Por isso, queremos uma cooperação entre
Acre e Touba, porque precisamos disso", fala.
Para o secretário de
Desenvolvimento Social (Seds), Antônio Torres, a destinação de espaços para
cada nacionalidade colabora principalmente na comunicação com os grupos, mas
também previne de possíveis desentendimentos religiosos.
"A questão religiosa não é
predominante na gestão do abrigo. A gente organiza a divisão pelo grau de
afinidade entre eles, em relação ao reconhecimento próprio. Além de evitar
possíveis conflitos e, ao mesmo tempo, dá segurança ao próprio grupo, para
entender a própria linguagem. E a gente passa a ter uma comunicação maior com
os grupos", explica.
Fonte: http://g1.globo.com
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