Muitos pacientes se encontram na fé - Por Daniela Penha
A espiritualidade em diferentes
formas faz com que dependentes consigam se manter firmes na busca por
recuperação.
Na comunidade terapêutica Olaria
de Deus só “a palavra do Senhor” é bem-vinda. Televisão e rádio só podem ser
ligados para a transmissão de programas evangélicos e todos os dias são
realizados quatro cultos.
“A gente está de braços abertos
para qualquer religião”, diz o coordenador Reginaldo Chagas. “Mas é necessário
que todos participem. A internação é voluntária, se o paciente não quiser
participar, ele pode ir embora.”
A base do tratamento de 27 dependentes
químicos internados no local é a fé evangélica. “Se tiver demônio, é expulso.
As pessoas chegam da rua sujas, atormentadas. Isso não é de Deus”, diz
Reginaldo.
Nem mesmo café é permitido. “O
café lembra o cigarro”, explica o paciente Breno Marques Miranda, 20 anos, que
está em tratamento há seis meses.
Religião
Nas outras duas comunidades
visitadas, a fé não é a metodologia principal, mas a espiritualidade está
presente. Na Amostra, há internos evangélicos, católicos, espiritas. Todos
cantam juntos musicas religiosas e fazem a leitura da Bíblia, ainda que não
seja uma imposição.
“A gente deixa livre, mas eles
têm muita fé”, diz o psicólogo Fabiano Duarte, fundador da Amostra.
Diego Donizete Simões chegou à comunidade com o amparo de um frei. De família católica, ele nunca deixou de ir à missa, ainda que antes usasse uma carreira de cocaína. “Eu ia só por ir”, conta. Está internado há cinco meses e, todos os dias, ora ao acordar e antes de dormir. “Tive um despertar. Deus restaurou minha vida”.
A Rarev começou como uma
comunidade católica, mas transformou-se em um local “de todas as fés”. As
raízes, porém, continuam aparentes. Logo na entrada da fazenda, imagens de Deus e uma gruta com Nossa Senhora. A
história encanta.
“Foi um paciente que construiu em
2001, mas não aguentou. Morreu pelo álcool”, conta o coordenador Luiz Guimarães
Júnior. Todos os dias, os pacientes oram, cada um da sua forma. “A fé dá força
para a gente continuar”, diz.
Lei determina o respeito a todas
as religiões
Para o vice-presidente do Comad
(Conselho Municipal de Álcool e Drogas), Luiz Damasceno, a fé é fundamental na
recuperação do dependente químico. “A dependência é problema físico,
psicológico e espiritual.” Ele diz que 90% das comunidades da região trabalham
a espiritualidade como base da recuperação.
Resolução da Anvisa sobre as
comunidades terapêuticas determina “o respeito ao credo religioso”. A
fiscalização, no entanto, é falha e as comunidades se amparam no livre-arbítrio
das internações voluntárias.
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