Finanças e religiosidade cada vez mais unidas – Por Renato Bernhoeft
A prosperidade virou uma teologia
nos movimentos religiosos modernos.
Templos se confundem com centros comerciais
e catedrais. A salvação já não é apenas eterna, mas terrena. Sucesso e lucro
deixam de ser pecado para superar a pobreza. Movimentos pentecostais estimulam
a superação em todas as camadas sociais.
Um dos pontos de partida para que
se faça uma associação, entre a forma como as pessoas se relacionam com o
dinheiro e os seus vínculos com a religiosidade, foi provocada pelo sociólogo
Max Weber, em sua obra: “A ética protestante e o espírito do Capitalismo”, em
1905. Segundo ele “a ideia de acumulação capitalista nasceu da ética protestante não por atuação da igreja, mas, inadvertidamente, como resultado
das suas crenças.”
Posteriormente os chamados movimentos que nasceram sob a denominação de neopentecostalismo intensificaram a pregação baseada na chamada: “teologia da prosperidade”.
Eles procuravam romper com a mensagem fatalista de que tudo era
simplesmente a vontade de Deus. E a fé representava tão somente uma promessa de
uma vida melhor, mas apenas num futuro, e em outras vidas e dimensões.
Introduziram um discurso e práticas de ações que visam mostrar resultados num prazo mais curto. Ou seja, no presente.
Segundo o Prof. Laurence Iannaccone, da George Mason University, e pioneiro nas pesquisas sobre a relação entre economia e religião, “há 25 anos, não somente a religião influencia a economia, mas a economia é fundamental para entender a religião.”
Segundo ele, ao estudar grupos
religiosos como os Mórmons, Testemunhas de Jeová e os Amish, comunidades
religiosas espalhadas por vários estados americanos, algumas que inclusive
rejeitam a tecnologia moderna, ele percebeu que, embora vistos como “lunáticos”
pelos que estão fora, tais grupos oferecem uma série de “serviços” aos seus
seguidores.
“Ser membro de um grupo sectário
pode ser, na verdade, um bom negócio para o indivíduo”, diz Iannaccone. “Esses
grupos produzem bens comunitários, confiança, solidariedade e ajuda mútua, bens
que as pessoas não podem simplesmente encontrar no mercado”.
Reforçando todas estas conclusões
também um economista e uma socióloga da universidade de Harvard, Robert Barro e Rachel McCleary,
escreveram um artigo intitulado: “Religião e crescimento econômico”, onde
afirmam que “a concepção equivocada que estamos tentando corrigir é que o
desenvolvimento econômico elimina a religião, que ele necessariamente
seculariza uma sociedade".
Prosseguem afirmando que “muita
gente acredita que, quanto mais educadas e ricas, menos as pessoas precisam
acreditar em Deus e na vida após a morte. Na verdade, nós encontramos níveis
altos de crença religiosa em sociedades industrializadas, embora haja baixa frequência
à igreja”.
Os estudos realizados no Brasil
pelo antropólogo Ronaldo de Almeida também concluiu que “o discurso religioso,
das denominações neopentecostais, é muito voltado para os problemas cotidianos,
tais como o desemprego, a fila no banco, a crise familiar, o orçamento
doméstico, etc. Enquanto que os grupos religiosos considerados mais
tradicionais, ainda mantém uma proposta voltada para o valor de uma nova vida,
após a morte.” Ou seja, para um futuro incerto e duvidoso.
Ainda segundo o teólogo e
professor do Instituto Metodista, o coreano residente no Brasil Jung Mo Sung, e
que se dedica a pesquisar os efeitos da religião na economia diz que “shoping
centers têm uma cara, e até um jeitão de igreja. Eles possuem portal de igreja,
torres, cúpulas, pirâmides, e até uma iluminação distinta, tanto de dentro como
de fora lembra. Um efeito similar ao das catedrais”.
Segundo ele existe “uma estrutura
teológica fundamental no coração da teoria econômica. A economia importou o
discurso religioso do sacrifício. É uma exigência divina, pois se fizer com
obediência, você terá a recompensa. Se você se rebelar não obterá a recompensa.
E vai para o inferno. Ou seja, o conceito neoliberal de que fora do mercado não
há salvação, foi importado da religião”.
O economista austríaco Friedrich
A. Von Hayek já dizia que: “Um economista que é somente um economista não pode
ser um bom economista”.
Curiosamente importa registrar que todos estes comentários e conclusões não são nenhuma novidade. Eles apareceram em várias crises anteriores. O que acabo de fazer é apenas revisitar o noticiário dos fins dos anos 90 e início de 2.000.
As complexas relações do ser humano com o dinheiro, sucesso, ostentação, solidariedade, miséria e riqueza fazem parte de cabalas, passagens bíblicas, corão, mensagens budistas, etc. Mais uma vez muitos milionários tiveram que rever seus modelos de vida e, nesta hora, foram impelidos a se confrontar com questões de fé, religiosidade e dogmas tidos como inquestionáveis.
Parece ser que o retorno a frugalidade bem como a busca do próprio sentido da vida, terminam sendo resultados que as crises provocam. Afinal, já sabemos de longo tempo que palavra crise possui também o significado de oportunidade. O único cuidado a ser tomado é de que esta “oportunidade” não seja utilizada, e beneficie apenas os gurus de auto-ajuda. É importante que a mesma sirva de reflexão e aprendizado para toda a humanidade.
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