Religião e ciência – Por Ivan Maciel de Andrade
O papel das religiões no mundo atual tem sido objeto muito mais de acirradas
polêmicas do que de análises objetivas, isentas, esclarecedoras. É que nessa
área tudo está eivado de dogmatismo, paixão, intolerância.
A tentativa de usar
qualquer argumento lógico é de modo geral infrutífera e algumas vezes
desastrosa. Não se consegue nem mesmo ouvir ou fazer-se ouvir. A divergência é
tratada como objeção mal-intencionada, blasfêmia, apostasia, obnubilado sinal
de incompreensão.
Não se abre, a não ser excepcionalmente, um espaço civilizado
em que possam ser estabelecidos consensos e dissensos que conduzam a um diálogo
sob o signo da sensatez, do bom senso, da lúcida confrontação de ideias e
convicções. Sempre que isso se torna possível, no entanto, são descobertos, por
extremados antagonistas, numerosos pontos de identidade que tornam possível uma
convivência de equilibrado respeito mútuo e de parceria em obras humanitárias,
como as de socorro a populações submetidas a uma crônica e secular miséria ou
vítimas de catástrofes, de guerras e de epidemias.
O que se percebe é que predomina
um irredutível e intransigente fundamentalismo: cada seita religiosa se
considera a única detentora de princípios e ensinamentos verdadeiros e da
legítima maneira de cultuar a Divindade. Daí os dirigentes religiosos terem
sobressaído, ao longo da história, mais pela hostilidade e rivalidade com
relação a outras crenças do que pelo combate à transgressão pelos próprios
fiéis dos dogmas que lhes são impostos.
Embora sejam bem conhecidos os excessos
da Santa Inquisição medieval: só depois é que os “hereges” passaram a ser
punidos pela Igreja Católica de forma mais branda, através da excomunhão. Mas
ainda hoje há graves manifestações de beligerância entre as próprias religiões,
o que tem levado a conflitos intermináveis, de insuperável, aterradora,
requintada desumanidade.
Afinal, o ódio entre adeptos de diferentes religiões
parece ser maior do que entre religiosos e ateus. Será a força atávica do ódio
entre Caim e Abel (Gênesis, 4)?
É preciso que se respeite
incondicionalmente o direito de religiosos, seja qual for a sua religião e de
ateus, agnósticos ou céticos dizerem o que pensam e agirem em total sintonia
com as suas concepções. Qualquer tentativa de restringir o direito à religiosidade
ou à antirreligiosidade é preconceituosa e inaceitável.
Recentemente, surgiu um
contraponto ao radicalismo religioso: cientistas que interpretam a teoria de
Darwin como categórica negação de Deus vêm assumindo posições apaixonadas e
intolerantes. Como é o caso de Richard Dawkins, autor de várias obras de
sistemático e fervoroso ateísmo, entre as quais “Deus, um delírio” (2006), que
vendeu milhões de exemplares e foi traduzida em 31 idiomas.
O que irrita nesses
fundamentalistas às avessas é a arrogância, o tom de escárnio assumido em
relação a quem se atreve a admitir a possibilidade do Transcendente.
Os pobres
deístas são considerados mentecaptos, ridículos sobreviventes de épocas
paleolíticas, tão desinformados sobre os modernos avanços científicos que não
merecem ser incluídos na espécie do “homo sapiens”. O pior (ou melhor) é que as
explicações científicas nada têm ainda de conclusivas.
Fonte: http://tribunadonorte.com.br
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