Liberdade religiosa demais atrapalha crescimento, diz estudo – Por João Pedro Caleiro
Crescimento econômico é maior
quando estado regula atividade religiosa sem favorecer uma crença em detrimento
da outra, diz estudo que será apresentado este mês.
A liberdade de praticar uma (ou
nenhuma) religião é um dos pilares da democracia, mas ela também
pode levar a consequências econômicas negativas e crescimento menor se não
tiver seus excessos contidos.
Esta é a conclusão de um estudo
que será apresentado este mês na Georgetown University por Shaomin Li, da
Old Dominion University, Ilan Alon, da Rollins College, e Jun Wu, da Savannah
State University.
Primeiro, os autores definem
liberdade religiosa com uma perspectiva de custo: se fica mais difícil
acreditar, praticar e disseminar alguma crença, isso significa que a liberdade
está sendo restringida.
Estes obstáculos podem ser de
duas naturezas: social (a hostilidade das pessoas) ou governamental (leis e
políticas do estado).
Para medir estas duas variáveis,
eles utilizaram uma pesquisa de diversidade religiosa do Pew Research Center
realizada em 200 países e cruzaram com dados de crescimento do PIB e
do PIB per capita.
Resultados
Em relação à dimensão social, o
que eles descobriram não surpreende: a falta de tolerância religiosa entre a
população semeia a violência e a disputa entre grupos, o que atrapalha a
capacidade que um país tem de fazer sua economia crescer.
Em relação à atuação do estado, a
conclusão é outra: países com restrições mais fortes à religião tendem a ter
crescimento econômico mais acelerado.
Para entender como isso acontece,
os autores foram além e separaram estas "restrições religiosas" em
dois lados: o quanto o governo restringe a religião como um todo e o quanto o
governo favorece uma (ou mais) religiões em detrimento de outra(s).
No primeiro lado, estão fatores
como o controle do proselitismo, da reza e do uso de símbolos religiosos no
espaço público. No segundo, itens como ensino religioso nas escolas e a
submissão do governo a interesses religiosos em questões legais.
O resultado? Os dois tipos de
restrições tem efeitos opostos. Quanto maior a restrição geral e horizontal e menor
a discriminação do governo entre as diferentes religiões, maior é o crescimento
econômico.
Mecanismos
No estudo, os autores fazem uma
analogia com o funcionamento do livre mercado em uma economia capitalista:
"Em um mercado onde diferentes religiões competem por seguidores e
recursos econômicos e sociais, uma liberdade sem regulação ou freio pode
eventualmente levar a uma 'guerra de todos contra todos' (...) em certas
circunstâncias as restrições governamentais à religião podem exercer uma
influência positiva na performance econômica, análoga a uma economia livre que
é regulada de forma justa e eficiente pelo governo".
Em resposta a EXAME.com sobre se
isso se aplica ao caso brasileiro, Shaomin Li diz que: "se a religião
dominante ganha tratamento preferencial do governo e algumas religiões
minoritárias são discriminadas, isso seria considerado 'liberdade de religião
desenfreada'. Baseado no nosso estudo, hostilidades sociais envolvendo religião
ou políticas e leis do governo que discriminam ou favorecem certas religiões
são ruins para o crescimento."
A discussão entre religião e
crescimento econômico vem dos tempos de Max Weber e seu clássico: "A
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", mas está voltando para o
meio acadêmico.
No início do ano, um estudo
da Universidade de Harvard com base na prática islâmica do Ramadã concluiu
que ela tem um efeito claro de diminuição do crescimento do PIB nos países
analisados.
Fonte: http://exame.abril.com.br
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