Música, Cinema e Religião - as principais práticas culturais do brasileiro
Estudo realizado durante o biênio
2013-2014, o Panorama Setorial da Cultura Brasileira, traz o cenário do consumo
de cultura no Brasil.
A indústria criativa está entre
os mais dinâmicos setores do comércio mundial, segundo relatório lançado pela
Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD).
Sua
atividade econômica, a chamada 'Economia Criativa', é considerada eixo
estratégico de desenvolvimento para diversos países, entre eles o Brasil, que
hoje conta com a Secretaria da Economia Criativa, ligada ao Ministério da
Cultura.
Os agentes produtivos dessa cadeia, no entanto, muitas vezes estão
tão imersos na prática que acabam por criar sem conhecer seu público, levando a
um círculo vicioso de produção segmentada e descolada da realidade, ou ainda,
restrita a alguns nichos.
Tendo em vista o fomento ao desenvolvimento desse
setor produtivo, a partir de informações e dados sólidos que possam apontar
caminhos, tendências e realidades mais consistentes para os produtores
culturais, as pesquisadoras Giselle Jordão e Renata Allucci, com o apoio do
Ministério da Cultura e da Vale, produziram a segunda edição do Panorama
Setorial da Cultura Brasileira, voltado para o estudo dos hábitos do consumidor
de cultura no Brasil.
Na pesquisa atual chama a atenção
o fato de que, pelos dados interpretados e de forma geral, o consumo de
atividades culturais ainda é realidade distante da maior parte dos brasileiros.
Por exemplo, quando perguntados sobre as práticas culturais realizadas fora de
casa no último um ano, menos da metade da amostra respondeu ter realizado
alguma atividade fora de casa, sendo que apenas 5% responderam ter frequentado
bibliotecas, 6% visitado cidades ou igrejas históricas e apenas 9% foram ao
teatro.
Já entre as atividades culturais mais
citadas, a campeã é frequentar alguma religião, resposta de 42% dos
entrevistados, seguido de cinema, com 38%.
De certa forma, o estudo conclui
que a prática religiosa realiza as necessidades de inclusão social e, pela
representatividade na pesquisa, reforça diretamente sua concorrência com as
práticas culturais. Essa constatação é interessante, mas revela apenas uma
parte da realidade do consumo de cultura no país.
Algo interessante de se
observar no extenso e profundo estudo realizado pelas autoras Gisele Jordão e
Renata Allucci, é a ênfase nas atividades culturais realizadas fora de casa,
como idas ao cinema/teatro, restaurantes, festas religiosas e shows.
O que
chama a atenção é que a pesquisa sobre o consumo de cultura através de
radiodifusão ou internet não estava em foco no estudo, apesar de essa ser uma
realidade em um país que, por conta da baixa renda da população e da distância
dos grandes centros urbanos, tem nesses meios um importante canal de acesso não
só à informação mas ao entretenimento cultural.
Das atividades praticadas,
'Ouvir música' é a mais apreciada (36% no Brasil), seguida 'Ir ao Cinema'
(35%), 'Assistir à TV' (31%), 'Ouvir rádio' (26%) e 'Acessar a internet' (22%).
Todas as atividades realizadas fora de casa vem depois, lideradas por 'Ir a
Shows de música popular' (19%).
Também relevante nos dados da
pesquisa é a constatação da forte e decisiva influência familiar nos
praticantes de cultura, sendo o inverso também verdadeiro. Ou seja, quanto mais
incentivo ou exemplo familiar se tem, infinitamente maiores as chances de
hábitos com a cultura.
Atrelado à isso, os benefícios esperados de uma
atividade cultural pelo consumidor refletem a característica de
"sociabilidade" promovida por uma prática cultural, tendo como
principais fatores 'Ser divertido' (21%) e 'Provocar fortes emoções' (20%).
O caráter social das práticas culturais pode explicar o enfoque
da pesquisa em atividades realizadas fora de casa e, possivelmente, mais
identificadas como "coletivas" em portanto, mais
"divertidas" pelos entrevistados.
Ao mesmo tempo, o estudo reforça
que a cultura não é associada à diversão ou à informação, sendo ainda muito
associada à erudição para a maioria dos entrevistados. Isso reflete uma
realidade de constante distinção, infundada, entre a "alta" e a
"baixa" cultura no Brasil, e que não nos permite avançar na produção
cultural em vários aspectos, dado que ainda debatemos o que é ou não valor
cultural em dada prática ou produto.
Certamente, o Panorama trará luz
para essa discussão, não só com novos e importantes números relacionados ao
consumo de cultura no Brasil, mas também com as contribuições de nomes de peso
como Bernhard Lahire, Ana Rosas Mantecón e John Sinclair, entre outros, cujos
Ensaios constituem quase metade da íntegra do estudo.
disponível através do link-http://www.panoramadacultura.com.br
Fonte: http://cmais.com.br
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