Voto evangélico ainda está inseguro com Marina Silva – Por Adriana Carranca
Os valores religiosos não
aparecem como as principais preocupações dos eleitores evangélicos.
Se as pesquisas apontam
predisposição dos eleitores evangélicos em votar na candidata Marina Silva (PSB),
não há ainda convicção no voto.
O Estado percorreu templos das dez maiores
denominações evangélicas em São Paulo e entrevistou quase uma centena de fiéis
sobre em quem votariam para presidente e por quê.
Encontrou um eleitorado
hesitante, desconfiado da capacidade de Marina de governar, embora ela tenha
preferência entre os fiéis; insatisfeito com a presidente e candidata à
reeleição, Dilma Rousseff (PT), apesar de ela ser vista como favorita; e
distante de Aécio Neves (PSDB).
A consulta, embora não tenha
valor estatístico, serve como termômetro da atmosfera entre eleitores em São
Paulo, maior colégio eleitoral do País. E indica: a menos de um mês do 1.º
turno, a disputa continua em aberto.
Ao contrário do que apregoam
pastores como Silas Malafaia e o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), que na
semana passada indicaram apoio a Marina, os valores religiosos não aparecem
como as principais preocupações dos eleitores entrevistados.
"Eles deveriam se preocupar
menos com o casamento gay e mais com a saúde, porque o povo está morrendo no
corredor do hospital lá da minha região", disse a diarista Maria de Souza,
na saída do culto da Assembleia de Deus, Ministério de Madureira, no Brás, na
região central.
"Sempre fui petista, mas
estou arrependida. O Aécio não sei o que faz. A Marina... É, estava pensando em
votar nela, porque é evangélica, mas eu estou com tanta raiva de político, que
esse ano acho que não vou votar em ninguém, nem se o pastor pedir. Acho que
esse ano, nem se Deus mandar!"
No entorno do templo no Brás, o
líder da igreja aparece em propaganda eleitoral ao lado do pastor Cesinha e de
Jorge Tadeu, candidatos a deputado estadual e federal pelo DEM, coligado ao
PSDB.
"O pastor Samuel Ferreira apoia", lê-se nos cavaletes.
Ferreira, porém, deve declarar apoio a Dilma, sinalizado quando a presidente
visitou o templo, em 8 de agosto, a convite do pastor.
Seu pai, bispo Ferreira,
é o primeiro-suplente na candidatura do petista Geraldo Magela ao Senado pelo
Distrito Federal. É um exemplo das divisões
internas na Assembleia de Deus, igreja que Marina Silva integra.
Ela está tecnicamente empatada
com Dilma nas pesquisas, com 33% das intenções de voto contra 37% da rival. Mas
salta para 43% entre evangélicos e dispara num eventual 2.º turno porque tem o
dobro dos votos da petista entre os fiéis dessa religião.
O eleitor petista, porém, é menos
pendular, 61% dos eleitores de Dilma estão convictos da decisão ante 50% de
Marina.
"Ser evangélico tem peso maior. Então, Marina seria a minha
candidata, mas como ela entrou na disputa gora, ainda estamos avaliando
propostas", disse o montador de móveis Luiz Roberto, de 30 anos, em visita
ao Templo de Salomão, da Igreja Universal do Reino de Deus.
Para ele, o recuo da candidata
evangélica sobre a criminalização da homofobia e o casamento gay, embora tenha
agradado a setores da igreja, demonstrou "insegurança". "Foi um
ponto negativo para Marina. Me deu a impressão de que ela não tem
firmeza."
Luiz Roberto é carioca e diz que,
para governador do Rio de Janeiro, votará no senador Marcelo Crivella, do PRB, partido da
base aliada do PT, que tem o apoio do bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus. A
opinião do bispo conta, ele diz, por isso, se não votar em Marina, sua opção
será por Dilma.
"Para mim não faz diferença.
Vou em quem o pastor mandar, porque nesse meio político tem muita gente que
quer atrapalhar o trabalho da igreja", diz a empregada doméstica Débora
Silva, de 28 anos, da Igreja do Evangelho Quadrangular.
"A mudança intempestiva do
programa de governo por Marina foi malvista mesmo entre evangélicos. Muitos
perderam a confiança nela", acredita o cientista político Carlos Macedo,
professor do Insper.
"Além disso, embora Marina seja evangélica, a
identidade dos fiéis com seus líderes religiosos é maior. A palavra do pastor é
importante. E não podemos esquecer que o PT tem raízes populares inclusive
nesse setor. Já o PSDB de Aécio não tem. Nenhum eleitorado decide sozinho uma
eleição, é claro, mas sem apoio dos evangélicos, os candidatos vão mal." E
eles sabem disso.
Errata
Menos de 24 horas depois de
publicar um programa de governo que defendia o casamento de homossexuais, entre
outros temas polêmicos, Marina divulgou uma "errata" eliminado esse
pontos a tempo de o assunto não chegar aos cultos de sábado à noite.
Dilma
correu para anunciar que apoiaria no Congresso lei que dá benefícios às
religiões, apresentado em 2009 pelo deputado George Hilton (PRB-MG), ligado à
Igreja Universal que a apoia. Em 2010, o aborto foi tema de destaque.
Eleitores entrevistados, porém,
demonstraram menos preocupação com esses assuntos na hora de votar do que seus
líderes. "Ser evangélica conta a favor de Marina, porque nós
compartilhamos valores de família, mas o que conta mesmo é o fato de ela ser
uma alternativa fora do PT e do PSDB", diz a empresária Eliane Peixoto, de
52 anos, da Assembleia de Deus.
Luciano Borges, de 37 anos, da
Igreja Apostólica Vida Nova, na Mooca, na zona leste, também quer ver o fim da
polarização entre PT e PSDB, mas diz ainda ter dúvidas sobre a capacidade de
Marina governar. "Não sei se ela vai ter poder no Congresso", diz.
Pelo mesmo motivo, não vai votar no Pastor Everaldo (PSC). "Eu também sou
contra o casamento gay, mas, para administrar um país do tamanho do Brasil, isso
só não basta. É preciso ter pulso firme!"
Fiel da Igreja Presbiteriana, o
vendedor de livros Airton de Oliveira, de 52 anos, cresceu em Minas Gerais, Estado
governado por Aécio entre 2003 e 2010, e vive há seis anos em São Paulo, sob
governo tucano desde 1994.
"No PSDB não voto mais. No PT também não.
Chega, né?", afirma, emendando a fala em outra pergunta. "Mas será
que Marina vai conseguir cumprir as promessas de campanha?"
"Apesar de as pesquisas
darem vantagem a Marina, seu eleitor é mais volátil. Ele está dando um voto de
confiança a ela, após a morte de Eduardo Campos (em um acidente aéreo, em
agosto), mas pode mudar de opinião no decorrer da campanha", diz o
cientista político Marco Antonio Carvalho, professor da Fundação Getúlio
Vargas. "Além disso, as lideranças evangélicas estão polarizadas com
Dilma. Já Aécio está deslocado."
O tucano, que em agosto se reuniu
com 2 mil líderes da Assembleia de Deus, Ministério do Belém, foi mencionado
como favorito no 1.º turno somente por entrevistados da Igreja Batista, uma das
mais conservadoras. Marina aparece como a alternativa deles a Dilma no 2.º
turno.
Os evangélicos são 22,2% da
população, segundo o Censo 2010. Somam 28 milhões de eleitores. Desde o
ingresso de Marina na disputa, as campanhas dos três principais candidatos
iniciaram uma corrida por esse voto.
"Em uma disputa tão
polarizada, e se considerarmos que eles têm um comportamento coeso, os
evangélicos podem decidir essa eleição", avalia Carvalho. As informações
são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: http://exame.abril.com.br
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