O Rolezinho e o dinheiro


O filósofo Walter Benjamin apresentou a ideia de que o sistema capitalista funciona como uma autêntica religião. 

Não seria por acaso a semelhança entre expressões como crédito e crença, débito e culpa, que operam de maneira similar tanto no domínio religioso quanto na esfera econômica.

Estar em débito com Deus ou com o credor é o inferno para o pecador-endividado. Atentar contra a crença na sacrossanta sociedade de mercado configura-se numa grande blasfêmia. Atrapalhar o culto ao lucro ganha ares de profanação.

Por essas razões, os ‘rolezeiros’ encarnam os novos hereges. Sua presença nos shopping centers, novos templos da sociedade de consumo, incomoda. O desconforto às ‘pessoas de bem’ se dá tanto por não participarem do culto (só vão ao local para passear e não compram nada), quanto por ousarem fazer parte da celebração (quanta insolência terem condições de compra próximas às da classe média).

Em defesa da ordem sagrada, os lojistas lançam mão de soluções simplistas e autoritárias, como a proibição do ingresso de jovens desacompanhados dos pais, verdadeiro atentado às liberdades por restringir direitos fundamentais sem garantir a proteção de outros direitos com o mesmo status constitucional. Por isso, inúmeras decisões judiciais não têm acolhido os pedidos dos shoppings.

Liberdade não é presente que se ganha sem nenhum esforço, mas sim bem que se conquista com obstinação todos os dias. Qualquer restrição a esse valor supremo merece a pronta resistência das forças democráticas. 

É por isso que, diferentemente de Goethe, que afirmou preferir a injustiça à desordem, preferiremos, como Albert Camus, ‘eternamente a desordem à injustiça’, já que ‘não há justiça nem liberdade possíveis quando o dinheiro é sempre o rei’ ou o próprio Deus.


Defensores Públicos de SP em Franca - SP



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