A CNBB e a Reforma Política
A reforma política, um dos itens
mais citados na pauta das manifestações populares realizadas no País desde
2013, é uma necessidade urgente.
No documento: "Por uma
reforma do Estado com participação democrática”, a CNBB, em 2010, já apontava
alguns dos graves motivos que justificam a necessidade da reforma política:
"as crises consecutivas nas casas legislativas em todos os níveis da
Federação, os escândalos que se sucedem nos executivos em suas relações com o
capital privado e nas suas relações nada republicanas com os legislativos
pertinentes” (doc. 91 da CNBB, 100). O documento defende a participação
"de todas as instâncias da cidadania” no processo da reforma política e
sugere "alguns eixos básicos para nortear a definição das propostas”.
Tendo concluído, após debates
internos, que, ao consenso da inadiável necessidade da reforma, somava-se, na
sociedade brasileira, o mais forte dissenso sobre como fazê-la e que pontos
considerar, e entendendo que só a mobilização popular poderia lograr êxito no
propósito da desejada reforma política, a CNBB uniu-se à OAB, ao Movimento de
Combate à Corrupção Eleitoral e à Plataforma dos Movimentos Sociais pela
Reforma do Sistema Político e decidiu convidar, em agosto de 2013, várias
entidades para discutir uma proposta a ser apresentada ao Congresso Nacional
por meio de um projeto de lei de iniciativa popular. Nascia, ali, a Coalizão
pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, que hoje reúne mais de cem
entidades.
A diversidade das propostas
analisadas exigiu muito discernimento e diálogo entre as entidades da
Coalização, que, ao final dos debates, entraram em consenso em torno de quatro
pontos: a proibição do financiamento de campanhas por empresas; a adoção do
voto proporcional em dois turnos, denominado voto transparente; a alternância
de homens e mulheres nas listas de candidatos e o fortalecimento da democracia
mediante a regulamentação do artigo 14, caput, da Constituição Federal, que
trata das formas como é exercida a soberania popular. Das reuniões, resultou a
elaboração de um projeto de lei de iniciativa popular que detalha cada um
desses pontos.
O projeto recebeu o endosso da
52ª Assembleia Geral da CNBB, em maio de 2014, com a aprovação do documento: "Pensando o Brasil”. Por iniciativa da Coalizão, o Projeto (PL 6316/2013),
foi apresentado, mediante subscrição de parlamentares de diversos partidos, à
Câmara dos Deputados, onde tramita desde agosto de 2013. Para apoiá-lo, está-se
realizando a coleta de 1,5 milhão de assinaturas de eleitores, providência
fundamental para pressionar o Congresso a votar mais esta proposta de
iniciativa popular.
Ao declarar seu apoio ao Projeto,
a CNBB o faz com a consciência de que é dever da Igreja cooperar com a
sociedade para a construção do bem comum, conservando a autonomia e
independência que a caracterizam em relação à comunidade política, como lembra
o Concílio Vaticano II (GS 76). Se à Igreja não cabe assumir a responsabilidade
da organização política da sociedade nem colocar-se no lugar do Estado, como
nos recorda Bento XVI, tampouco pode ela ficar alheia à luta pela justiça.
"Toca à Igreja, e profundamente, o empenhar-se pela justiça trabalhando
para a abertura da inteligência e da vontade às exigências do bem” (Deus
Caritas Est, 28).
A CNBB acredita que, para levar a
bom termo um empreendimento tão amplo e complexo como a reforma política, é
preciso juntar esforços e superar os radicalismos e as ideias preconcebidas que
obstruem a via do diálogo e impedem o aperfeiçoamento da democracia. Considera
saudável, tanto para o mundo político quanto para a Igreja, o pluralismo que
marca a sociedade democrática na qual vivemos: ele favorece o diálogo, o debate
respeitoso e a busca de harmonia nas diferenças. Por isso, quanto ao projeto
que tem o seu apoio, a CNBB se declara aberta ao debate e reitera profundo
respeito à pluralidade que enriquece a sociedade brasileira.
Cardeal Raymundo Damasceno Assis - Arcebispo de Aparecida (SP) - Presidente da CNBB
Fonte: cnbb.org.br
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