Crescem conflitos sobre religião dentro de empresas francesas



Religião e trabalho: como encontrar um equilíbrio?

Os conflitos ligados à religião dobraram dentro das empresas francesas e o tema ganhou a manchete do jornal Le Parisien que circulou na terça-feira (21/04). O problema virou um verdadeiro quebra-cabeça para os executivos, constata o diário.

Uma pesquisa feita pelo Instituto Randstat e pelo Observatório de Assuntos Religiosos nas Empresas (Ofre, na sigla em francês) revela que 23% dos gerentes ouvidos devem esclarecer dúvidas dos funcionários sobre religião no trabalho. Esse índice era de 12% no ano passado.

Outro dado revelador da sondagem feita com 1.000 pessoas é que 64% dos gerentes entrevistados defendem a proibição do uso de símbolos religiosos visíveis no ambiente de trabalho. Os gerentes atualmente se confrontam com muitas questões envolvendo a religião, como a ausência de trabalhadores para celebrar festas e datas religiosas, uso de roupas específicas e até pausas para orações.

Motivos para o aumento da sensibilização

Até então tratada discretamente no ambiente de trabalho, a religião ganhou mais visibilidade principalmente depois dos atentados de janeiro em Paris, afirma o artigo. Mas o presidente do Ofre, Lionel Honoré, diz que a maior sensibilização para a questão religiosa vem sendo observada antes mesmo dos ataques do início do ano. A grande mobilização no país contra o casamento gay e casos de grande repercussão na mídia envolvendo o aspecto religioso contribuíram para uma nova abordagem sobre o tema.

Um exemplo citado pelo Le Parisien é o da creche Baby Loup. Em 2008, uma funcionária foi demitida por ter se recusado a tirar o véu muçulmano. Ela entrou com pedido de indenização na justiça, mas depois de quatro anos de muita polêmica, perdeu o processo. O código francês do trabalho permite que uma empresa ou associação limite a liberdade religiosa do funcionário se não estiver de acordo com a sua missão profissional.

Ouvida pelo jornal, a diretora do Instituto Randstat afirma que os executivos das empresas enfrentam dificuldades de lidar com o tema. "Os gerentes estão criando seus próprios obstáculos e têm medo de serem taxados de discriminadores", avalia Aline Crépin.

"Em um país onde a laicidade (princípio que defende a separação do Estado e da religião) faz parte da base de identidade, muitos têm dificuldades para diferenciar as liberdades individuais dos princípios republicanos", diz o artigo.

Para ilustrar a importância crescente da questão religiosa, não apenas dentro das empresas, mas em toda a sociedade, Le Parisien fez uma reportagem sobre os cursos oferecidos pela Faculdade libre de estudos políticos e economia solidária (Flepes). Um dos objetivos das formações propostas, escreve o jornal, é ajudar os executivos a lidar com questões religiosas no trabalho, entre outros assuntos.





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