Até à 5ª Casa: A pouca fé do fanatismo - Por Sérgio Diamantino
Para quem é fanático, não há nada
melhor do que aquilo em que acredita. Aquilo em que acredita é mais forte que
tudo. É inabalável.
Mas a grande questão é que o fanático é exactamente aquele
que mais facilmente se deixa abanar quando questionam aquilo em que acredita.
Ora o fanático acaba por ser, por defeito, aquele que acaba por ter menos fé.
Isto é válido para a religião,
como é válido para o futebol ou para a política, ou para o que for. E acaba por
ser interessante que aqueles que abalam a instituição que o fanático defende,
atenção, o fanático acha que o que abana é a instituição e não o questionar da
sua fé naquela instituição, são apontados como infiéis ou, pior que isso,
traidores (como se alguma vez tivessem defendido as cores do que agora estão a
criticar).
Religião que é religião não abana
com a falta de crença dos outros. Religioso que é religioso acredita que lhe
basta praticar o bem enquanto está nesta vida de mortal porque Deus (seja lá
Ele de que religião for) tratará de si na eternidade. Tal como tratará também
dos prevaricadores.
E mesmo assim, dizem as religiões
que, Deus perdoará aquele que, mesmo nos momentos finais, realmente se
arrepender dos seus pecados. Ou seja, alguém que foi assassino e ladrão uma
vida inteira poderá ter o perdão de Deus se mostrar real arrependimento no
final da vida. Fica tudo resolvido.
Ora se há alguém que crê tão
fortemente da religião que professa, como é que pode querer e sentir
necessidade de fazer "justiça" (nomeadamente pelas próprias mãos), nesta vida, quando
a eternidade da justiça está lhe reservada no Além? Para si e restantes fieis,
como também para os infiéis. Há qualquer coisa no fanatismo que faz turvar a
crença.
Fonte: http://diariodigital.sapo.pt
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