"é um deus muito exigente", conta professor especialista sobre a religião judaica
Moré Nelson, um dos maiores
estudiosos do judaísmo no Brasil, esteve no programa Pânico no Rádio na
terça-feira (31/03) para falar sobre a Páscoa judaica, data comemorativa que
começa na sexta-feira no calendário judeu.
A história do judaísmo é contada
da mesma forma que outras religiões, como o catolicismo e o islamismo, baseadas
na Escritura Sagrada. O que muda é a forma de interpretação de cada uma delas.
Algumas com mais detalhes que outras, exigindo maior tempo de estudo e
dedicação. “O judeu estuda até o último dia da vida, e ele vive até 120 anos”,
contou o professor teoricamente.
No judaísmo, Deus também criou o
mundo em seis dias e descansou no sétimo. A narrativa segue com Adão, Eva, a
serpente, os filhos Caim e Abel e, dez gerações depois, Noé. A tentação de
superar o poder divino continua presente desde o desrespeito às regras de Deus,
como a desobediência de Adão ao comer o fruto proibido no Jardim do Éden.
“É um Deus muito exigente. Não tem
argumentação, não é democrático. Mas tem que ser, senão a gente apronta”,
concordou Moré Nelson, salientando que era nessa época que Deus estava estabelecendo
as bases do judaísmo.
Mas, segundo o professor, é a
partir de Abraão que a história judaica começa. “O Noé era um cara bom para sua
época, mas Abraão tinha um ‘plus’, ele respeitava seus semelhantes. Isto o Noé
não fez, por isso ele não é considerado o pai dos judeus. Abraão é o primeiro
judeu”, disse.
A Páscoa para os judeus começa na
sexta-feira à noite que antecede o domingo de Páscoa, data que representa a
fuga dos judeus do Egito com Moisés.
“Nós só somos considerados povo judeu
depois da saída do Egito, que significa liberdade. Depois eles ficaram andando
durante 40 anos no deserto porque eles tinham a ideia de que o povo que saiu do
Egito só sabia ser escravo, então ficaria no deserto para morrer. E só os
filhos que lá nascessem seriam levados adiante para prosseguir com a religião”,
explicou o professor. E prosseguiu sobre o sentido da
comemoração especial.
“A comemoração dá ênfase à ideia de liberdade, criar
minha família, criar meu povo, com justiça”. E na religião judaica é obrigação
do ser humano continuar o trabalho de Deus. “É obrigado a casar e obrigado a
ter filho. Pelo menos um casal”, contou.
O judaísmo, segundo Moré Nelson,
está enraizado e tem mais influência no Brasil do que imaginamos. “Um terço de
todo o Norte e Nordeste tem origem judaica. Todos eles têm algum costume
judaico, mesmo sem saber”.
O professor citou um exemplo: “Você pode chegar em
uma casa no interior do Piauí e uma pessoa falar que não pode acender a luz da
casa porque o costume veio da avó. Isso é de origem judaica”.
O ato de acender a luz à noite é
uma das tarefas proibidas do judaísmo, dependendo do contexto. Para alcançar a
inspiração e o descanso espiritual, a Torá (texto central do judaísmo)
instituiu uma série de trabalhos, os quais os judeus são proibidos de fazer no
Shabat, dia do descanso semanal. Portanto, acender a luz significa um trabalho
por meio do qual se cria algo que não existia antes, como uma nova faísca de
eletricidade.
“Se vem de Deus, faça. A
explicação vai ser entendida ao longo da vida. E nem tudo vai ser possível
entender”, concluiu o professor e especialista Moré Nelson.
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