Cristãos perseguidos no século XXI: números estarrecedores – Por Javier Ordovás



O ser humano teima em não aprender com a própria história. 

Como se já não fossem absurdas todas as guerras que houve entre religiões e todas chacinas racistas que procuraram dizimar outros povos, hoje nos vemos, em contraste com níveis altíssimos de desenvolvimento da civilização, no meio de mais uma explosão de cruéis perseguições religiosas.

É necessário que a sociedade seja bem informada e que nós, cristãos, não ignoremos a dimensão deste horror. Mas não para “jogar lenha na fogueira”, provocando reações que piorem o nível de violência, e sim para responder como cristãos, com fortaleza, dignidade e exigência de soluções de paz. Todos os cristãos atualmente perseguidos e martirizados devem ser, para nós, um profundo incentivo contra a nossa comodidade e mediocridade.

É possível que o maior número absoluto de vítimas da intolerância religiosa no mundo atual esteja entre os muçulmanos perseguidos por outros muçulmanos, na sangrenta rixa entre xiitas e sunitas. Além disso, as minorias muçulmanas na Rússia e na China sofrem acosso dos respectivos governos, o que também acontece com os bahai por parte do xiismo iraniano, com os tibetanos por parte do comunismo chinês e com os judeus nas sociedades em que persiste o antissemitismo.

A lista de religiões perseguidas é longa e leva a uma conclusão clara: a intolerância religiosa ainda condiciona o comportamento de importantes setores governamentais e sociais de todo o planeta.

O que o Ocidente finge não ver é o quanto o cristianismo também sofre essa intolerância. Javier Rupérez, membro da Real Academia de Ciências Morais e Políticas da Espanha, levantou uma série de dados assustadores sobre a perseguição religiosa mundial contra os cristãos.

Do total de 7 bilhões da habitantes do planeta, quase um terço é cristão: 2,18 bilhões de pessoas, que, mais do que qualquer outra comunidade religiosa, constituem um grupo sistematicamente perseguido e urgentemente necessitado de ajuda. 

Grande parte da África subsaariana, toda a costa mediterrânea do continente africano, o Oriente Médio, o Golfo Pérsico e todo o continente asiático, incluindo as costas russa e chinesa do Pacífico, são cenários em que o cristianismo sofre acosso habitual.

A International Society for Human Rights, uma ONG de Frankfurt, na Alemanha, estima que 80% da discriminação religiosa que acontece atualmente no mundo é voltada contra os cristãos.

De acordo com o Center for the Study of Global Christianity, do Gordon Conwell Theological Seminary, uma instituição evangélica de South Hamilton, no Estado norte-americano de Massachusetts, mais de 100.000 cristãos foram assassinados por ano entre 2000 e 2011, ou seja, 11 cristãos por hora durante esse período.

Segundo a Open Doors, uma organização norte-americana protestante que monitora as perseguições contra os cristãos no mundo, 75% da população mundial estaria vivendo hoje em países com sérias restrições ao exercício da liberdade religiosa. 

Cem milhões de cristãos, cerca de 5% desse total, sofreriam perseguição em mais de sessenta países. Estes dados coincidem com os publicados na detalhada pesquisa feita em 2011 pelo Pew Research Center sobre restrições globais à religião.

A Open Doors também lista 50 países que, em 2012, atentaram especificamente contra os cidadãos pertencentes a confissões cristãs. A organização os separa em quatro categorias:
 
  • “Perseguição extrema”: Coreia do Norte, Arábia Saudita, Afeganistão, Iraque, Somália, Maldivas, Mali, Irã, Iêmen, Eritreia, Síria. 
  • “Perseguição severa”: Sudão, Nigéria, Paquistão, Etiópia, Uzbequistão, Líbia, Laos, Turcomenistão, Catar, Vietnã, Omã, Mauritânia. 
  • “Perseguição moderada”: Uganda, Cazaquistão, Quirguistão, Níger, Tanzânia, Egito, Emirados Árabes Unidos, Brunei, Butão, Argélia, Tunísia, Índia, Myanmar, Kuwait, Jordânia, Bahrein, Territórios Palestinos, China, Azerbaijão, Marrocos, Quênia, Comores, Malásia. 
  • “Perseguição escassa”: Djibuti, Tadjiquistão, Indonésia, Colômbia.



A Open Doors recomenda que as confissões religiosas denunciem as perseguições conjuntamente, diante de organismos nacionais e internacionais, pedindo com contundência a imediata solidariedade de todas as demais confissões cristãs para fortalecer a mensagem comum. Essa renovação ecumênica seria uma denúncia profética perante os que praticam a perseguição, os que a alimentam, os que a permitem e os que fecham os olhos para ela.

Afinal, como refletiu o pastor protestante alemão Martin Niemoller, “Primeiro vieram buscar os comunistas; eu não disse nada porque não era comunista. Depois vieram buscar os judeus e eu não disse nada porque não era judeu. Depois vieram buscar os sindicalistas e eu não disse nada porque não era sindicalista. Depois vieram buscar os católicos e eu não disse nada porque não era católico. Depois vieram me buscar, mas já não restava ninguém que dissesse nada”.



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