Editor da Charlie Hebdo lança livro póstumo sobre o Islão – Por Andreia Martins
A obra de Charb, editor da
revista satírica Charlie Hebdo, assassinado durante o ataque terrorista de 7 de
janeiro, é lançada em França na quinta-feira (16/04). O Islão e as ameaças constantes
de que foi alvo são alguns dos assuntos abordados.
Stéphane Charbonnier concluiu o
livro sobre islamofobia dois dias antes do ataque à redação do Charlie Hebdo. O
antigo editor, mais conhecido por Charb, expressa na sua derradeira publicação
a preocupação de que a designada “luta contra a islamofobia” veio substituir o
combate ao racismo.
Uma palavra que originalmente
significa “medo do Islão”, e que, segundo o cartoonista, tem vindo a ser usada
de forma incorreta e sensacionalista pelos media ocidentais. “Muitos dos que protestam contra
a Islamofobia não estão de facto a proteger os muçulmanos enquanto indivíduos,
mas sim para proteger a religião de Mohammed”, argumenta Charb.
“Vou publicar todas as ameaças”
Nas páginas do livro póstumo: “Uma
Carta Aberta aos Defraudadores da Islamofobia que brincam entre as Mãos dos Racistas”,
Charb defende os critérios de publicação da revista satírica de que era editor,
e justifica a publicação regular de caricaturas mordazes para com as crenças
das várias religiões.
A ridicularização do Islão foi a
que mais atenção trouxe à publicação semanal, com várias revoltas e protestos
do mundo islâmico. As sátiras feitas ao profeta Mohammed valeram várias
intimidações, e em última análise, os próprios atentados à redação, onde
morreram 11 pessoas: “Um dia, por brincadeira, vou publicar todas as ameaças
que recebi na Charlie Hebdo”.
Corão e Bíblia são “dois romances
maus”
“Se estabelecermos que podemos
rir de tudo menos do Islão, só porque os muçulmanos são muito mais suscetíveis
do que o resto da população, não seria discriminação?”
A crítica direta às religiões e
às suas bases não é propriamente uma novidade para quem acompanhava as
publicações editoriais de Charb. O cartoonista explica que ter medo do
Islão “é absurdo, mas não é ofensivo. O problema não está no Corão, nem na
Bíblia, que são apenas dois romances mal escritos, incoerentes e soporíferos. O
problema está no crente que os lê como um manual de instruções sobre como
montar um móvel do Ikea”.
Charb argumenta também que o
Islão não deveria ser considerada uma “religião menos compatível com o humor”
do que todas as outras. O cartoonista refere ironicamente
a revista “Inspire”, publicada pela al Qaeda, e que publicou num número de 2013
uma lista de pessoas procuradas “vivas ou mortas” pelos crimes cometidos contra
o Islão, onde o seu nome constava “mal escrito”, perto de uma “hábil
montagem" onde se pode também ler “uma bala por dia mantém longe o
infiel”.
Fonte: http://www.rtp.pt
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