Ensino laico centraliza debate – Por Litza Mattos
Material adotado em escolas
públicas é criticado; instituições particulares mudam de postura.
Se oficialmente o Brasil é
considerado um Estado laico, pois a Constituição e outras legislações preveem a
liberdade de crença religiosa para os cidadãos, na prática, o que se vê é o
preconceito e a intolerância como parte da lição de casa de milhares de
crianças e jovens do ensino fundamental brasileiro.
Essa conclusão é da professora da
Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB), Débora Diniz, que
analisou as 25 obras mais usadas para o ensino religioso nas escolas públicas
do país. O estudo gerou o livro: “Laicidade: O Ensino Religioso no Brasil” e diz
que a disciplina, da forma como está configurada, é uma ameaça à liberdade
religiosa ao tentar impor questões católicas, além de promover a homofobia.
“Em
uma escola pública, a educação deve ser laica. A liberdade religiosa não pode
ser a liberdade de uma corrente em detrimento de outras. Isso é imposição de
uma crença, e o preconceito começa assim. Dessa forma, o ensino religioso
coloca em risco a formação de toda uma geração”, alerta.
Débora, que também é pesquisadora
do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis), reforça que é na
escola que deve existir o estímulo ao debate, o acesso à informação e o eterno
exercício da dúvida. Ao contrário, quando isso é desrespeitado, são criados
cidadãos sem senso crítico.
“Não podemos educar crianças e
adolescentes como se saíssem programadas de fábrica. Elas não são robôs. São
pessoas com características de personalidade, caráter e índole em
desenvolvimento. Por que não colocar à disposição delas o conhecimento
humanista que contempla todas as vertentes? Não contemplar religiões
minoritárias também é uma forma de discriminação e preconceito, o que pode
afetar de forma negativa a formação dos alunos”, contesta.
Débora lembra que o ensino
religioso nas escolas públicas é obrigatório pela Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB). Para ela, uma alternativa seria o ensino de história das
religiões. “Pode ser uma boa saída, pois estimula os alunos a pensar. Um ensino
humanista tem o comprometimento com o respeito e a tolerância”, sugere a
professora.
O pai e ator paraense Johnny
Russel concorda. “Olhando para a história, é fácil concluir que a religião, por
si só, não molda o bom caráter. Devemos optar por uma educação sem vínculos. O
Estado precisa ser imparcial e neutro. Sempre converso com meus filhos e o que
faço é tentar colocá-los na posição de observadores. Nisso o ateísmo ajuda:
tentar optar por uma atitude humana, de respeito aos nossos iguais”, diz.
Particulares
Segundo o
presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais, Emiro
Barbini, nas instituições privadas, cada escola é livre para escolher o seu
material didático, mas a orientação é que os professores não exponham juízos de
valor em seus pensamentos, e sim que ofereçam sobretudo subsídios e conteúdos
para que o aluno tire a sua própria conclusão, sem interferências.
Barbini afirma que as
instituições já perceberam, há alguns anos, que elas têm um público
diversificado e heterogêneo e, por isso, adotaram a semântica da formação
humana. “A preocupação das escolas, tanto as religiosas como as não religiosas,
é com a formação do ser humano na sua plenitude, independentemente da
religião”.
Segundo ele, até as escolas católicas têm adotado essa linha porque
sabem que, nelas, também estudam alunos de outras religiões e de famílias
ateias.
Fonte: http://www.otempo.com.br
Comentários