Pela primeira vez, Igreja Católica é alvo de ameaça terrorista na França – Por Philippe Wojazer
A situação foi classificada como
“inédita” na manhã desta quinta-feira (23/04) pelo primeiro-ministro francês,
Manuel Valls.
Pela primeira vez, a religião católica pode sofrer as
consequências da ameaça terrorista no Ocidente, que até então tinha como alvos
principais os governos e populações das grandes potências e os judeus. A
constatação foi feita depois de o serviço secreto ter detido um suspeito de
preparar um ataque contra uma igreja católica na periferia de Paris.
Em entrevista nesta manhã à rádio
France Inter, Manuel Valls indicou que, pela primeira vez, as igrejas católicas
estão no alvo dos terroristas. Segundo ele, atacar qualquer instituição
religiosa do país "é uma violência direta contra a França".
Como medida de segurança, o
governo reforçou a proteção de 178 igrejas católicas do total de 45 mil do
país. A decisão foi tomada depois de o serviço secreto ter descoberto que o
argelino Sid Ahmed Ghlam, de 24 anos, preso no domingo em Villejuif, na
periferia de Paris, planejava um atentado. De acordo com o procurador
responsável pelas investigações, François Molins, o estudante estava em contato
com uma pessoa na Síria que pedia "explicitamente" que o ataque fosse
realizado contra uma igreja católica.
Manter a calma
Ontem, a Conferência dos Bispos
da França pediu que os fiéis mantenham a calma. "Os católicos franceses
não podem ceder ao medo", declarou a instituição, por meio de um
comunicado. Para a conferência, as igrejas devem permanecer abertas, "como
lugares de acolhimento, dentro do espírito da religião católica".
O discurso não convence os fiéis,
que descobriram que, ao lado dos judeus, também estão no alvo dos extremistas.
Ao saber que os católicos de Villejuif poderiam ser vítimas de um atentado, o
bispo de Créteil, Michel Santier, confessou estar assustado e surpreso.
"Imagine a igreja de Villejuif cheia, seria um massacre", declarou.
Psicose
Criar psicose é o objetivo dos
terroristas, de acordo com o historiador especialista em religiões, Odon
Vallet. "A exemplo do que já aconteceu em países africanos, pensávamos há
muito tempo que atentados poderiam ser realizados em igrejas católicas
ocidentais. São lugares onde se entra facilmente e onde é possível atacar um
grande número de fiéis", avalia.
O ministro francês do Interior,
Bernard Cazeneuve, se reuniu hoje com a maior autoridade católica do país, o
cardeal André XXIII. A grande preocupação é com a aproximação de datas
católicas, como a Ascensão e Pentecostes que, de acordo com o calendário deste
ano, serão celebradas no dia 14 de maio e 24 de maio, respectivamente.
Segurança reforçada
O Vigipirate, plano de segurança
do governo colocado em prática depois dos atentados de janeiro, aumentou a
vigilância nos principais locais de culto judeus e muçulmanos. Grandes igrejas
católicas, como a Catedral de Notre-Dame e a basílica de Sacré-Cœur, em Paris,
também tiveram a segurança reforçada.
Desde o início do Vigipirate, a
recomendação é que todos os lugares religiosos disponibilizem apenas uma
entrada. Os funcionários dos locais também têm o direito de revistar as bolsas
e mochilas dos visitantes.
Mas os fiéis se sentem seguros?
"Claro que não", disse um turista na Notre Dame. "Passamos por
um controle na entrada: revistaram nossas coisas rapidamente. Mas se eu fosse
terrorista, poderia ter quinze quilos de explosivo em minha mochila e facilmente
explodiria a igreja", declarou.
Já outras pequenas igrejas, mesmo
em bairros turísticos de Paris, não contam com nenhum segurança ou vigia
policial. Para o historiador especialista em religiões, Odon Vallet, é
impossível garantir a proteção de todos os locais de culto do país.
Fonte: http://www.portugues.rfi.fr
Comentários