Textos combatendo a reforma política e acusando a Conferência dos Bispos são distribuídos – Por Cristina Fontenele



Panfletos apócrifos acusando a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) de apoiar "ideais totalitários” vêm sendo distribuídos em frente às igrejas de Natal (Estado do Rio Grande do Norte). 

A CNBB estaria atuando juntamente com "coisas”, como a CUT [Central Única dos/as Trabalhadores/as], UNE [União Nacional dos Estudantes], Contag [Confederação Nacional dos/as Trabalhadores/as da Agricultura] e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). 

"Não precisamos de reforma política nesse momento”, declara o texto sem autoria. Amostras foram enviadas para conhecimento da CNBB, em Brasília.

A Conferência e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) foram algumas das primeiras organizações a aderirem à Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas. A coleta de assinaturas é uma orientação da CNBB, sendo realizada nas paróquias de vários estados. A Coalizão reúne mais de 100 entidades e pretende coletar 1,5 milhão de assinaturas, para apresentar ao Congresso Nacional um Projeto de Lei de Iniciativa Popular.

Em entrevista à Adital, o diácono Francisco Adilson da Silva, assessor do Setor Social da Arquidiocese de Natal, comenta que os panfletos são algo "normal” e fazem parte do processo democrático. Mesmo sem assinatura, ele acredita que são de autoria do mesmo grupo que faz parte do "Fora Dilma” [em referência à presidenta Dilma Rousseff].

Silva informa que o processo de questionar a política já vem desde 2011, com as Semanas Sociais Brasileiras (SSB), eventos que visam a democratizar e promover a participação dos pobres e excluídos. É quando comunidades eclesiais, movimentos sociais, pastorais, organismos e a sociedade civil se reúnem para refletirem sobre os acontecimentos sociais, políticos e econômicos do país. O tema da SSB de 2011-2013 foi: "A participação da sociedade no processo de democratização do Estado – Estado para que e para quem?”.

O diácono esclarece que a reforma política vai muito além da reforma eleitoral. "Hoje, quem manda no Congresso é o poder econômico. É preciso, no entanto, mexer nos três Poderes. Particularmente, vejo o Judiciário como o mais podre, pois é o mais cego em perceber o direito dos pobres, já que está comprometido com os grandes”, declara.

Para ele, nem todas as pessoas entendem a questão da reforma política e muitas delas não têm acesso às discussões. A mídia teria um papel importante nesse debate, porém os veículos têm realizado discursos direcionados a determinados interesses. Ele comenta que a Rede Globo [de Televisão] e outras grandes emissoras estão atuando sem isenção, "jogando o povo contra si mesmo, gente trabalhadora, assalariada que vai na onda”.

Um exemplo de manipulação seria a questão da redução da maioridade penal. O diácono cita o fato de pessoas que têm filhos jovens, sabem a dificuldade de educar, mas ainda assim têm apoiado o projeto, sem entender a questão. Para ele, a violência é uma questão estrutural, que não se resolve diminuindo a idade penal. "Depois, teremos que reduzir para 14 anos, em seguida, para 12 anos”, explica.

Silva revela que muitas pessoas têm buscado a fé para satisfazerem necessidades materiais. "Hoje, se estimula muito o consumo”, diz. É a chamada "Teologia da Prosperidade”. Uma fé de maneira individualista, o que dificulta trabalhar as questões sociais dentro da Igreja.

Para o diácono, o governo atual fez a inclusão pelo consumo, incluiu uma faixa da população que estava na pobreza. "Vejo a diferença da miséria da década de 1980 para hoje”, destaca. 

No entanto, apesar dos avanços, ele aponta que o governo dever ir mais além e promover também mudanças na educação, saúde e segurança. Ressalta que a mudança incomodou outra faixa da população, uma elite que é mais "conservadora” e que não aceita, por exemplo, a reforma agrária. "Porém, países que se desenvolveram tiveram que passar pela reforma agrária”, destaca.

"Já melhoramos bastante se comparamos com o passado. Temos mudado para melhor”, diz Silva. Segundo ele, hoje, há uma consciência mais aguçada em relação aos direitos da pessoa. Mas ainda há um longo processo e a fé faz parte desse caminho. 

"A fé não pode ser desvinculada da realidade. A fé concreta ajuda na construção da vida, se não contribuir para a realidade, então é uma fé em vão”, conclui.


Cristina Fontenele - Estudante de Jornalismo pela Faculdades Cearenses (FAC), publicitária e Especialista em Gestão de Marketing pela Fundação Dom Cabral (FDC/MG). E-mail: cristina@adital.com.br e crisfonte@hotmail.com



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