Em busca do Divino Pai Eterno
Romaria para Trindade reúne
cavaleiros, muladeiros, ciclistas, caravanas de ônibus e famílias. Todos em
busca de um milagre ou da bênção divina.
A Festa do Divino Pai Eterno, que
começa hoje em Trindade, região metropolitana de Goiânia, a 18 km da capital,
reúne milhares de fiéis todos os anos. Eles participam da Romaria do Divino Pai
Eterno, ocasião em que renovam votos, pagam promessas, rezam e agradecem as
bênçãos recebidas.
O padre e missionário
redentorista do Santuário Divino Pai Eterno, Idemar Costa, explica que a
tradição começou por volta de 1840, quando o casal de lavradores Constantino
Xavier e Ana Rosa de Oliveira encontrou um medalhão de barro. Nele, uma imagem representava a
Santíssima Trindade coroando a Virgem Maria.
A partir daí a devoção ao Divino
Pai Eterno ganhou força. Primeiro na casa do casal, próxima do Córrego Barro
Preto, que mais tarde recebeu o nome de Trindade. Em um ato de fé e devoção, o
casal teria começado a realizar encontros para a prática de rezas do terço. Idemar afirma que logo começaram
os relatos de milagres. A notícia se espalhou e outros moradores se juntaram à
família para pedir e agradecer graças e milagres.
“Deus traça caminhos que aos
olhos do homem, às vezes, não tem sentido. Ao encontrar o medalhão, o casal se
encheu de fé. E foi por causa dessa fé que começou toda essa devoção. Aos
poucos, gente de toda redondeza começou a vir de carro de boi para participar
dos encontros”, relata o padre.
O redentorista explica que o
termo ‘Trindade’ surge por conta da própria imagem gravada no medalhão que
representa o Pai, o Filho e o Espírito Santo que coroam Nossa Senhora.
“Nós
interpretamos e fazemos uma teologia, que no centro da ação da Trindade está a
pessoa humana, que é ali representada por Maria. O desejo dessa Trindade é
coroar cada pessoa e conduzi-la à graça, à vida em plenitude”, explica.
Novo Santuário
O crescimento da fé motivou a
própria comunidade a construir espaços maiores para acomodar os fiéis que
chegavam tendo em vista o período de festividades. O que começou numa casa de
família, posteriormente ganhou a primeira capela, construída em 1843.
Conforme relatos históricos, a
capelinha era coberta com folhas de buriti. Com o vertiginoso crescimento de
fiéis, capelas maiores foram edificadas, até que em 1912 foi inaugurado o
primeiro Santuário do Divino Pai Eterno, hoje conhecido como Santuário Velho ou
Igreja Matriz, sede da Paróquia do Divino Pai Eterno.
“E agora, numa perspectiva também
de atender melhor os fiéis, está sendo construída aquela que acreditamos ser a
casa definitiva do pai, o Santuário do Divino Pai Eterno”, afirma padre
Idemar.
As obras para a construção do santuário começaram em 2012. Para o professor do programa de
mestrado em História e do programa de pós-graduação em Ciências da Religião da
PUC Goiás, Eduardo Gusmão de Quadros, a Romaria ao Divino Pai Eterno é uma
devoção específica, dedicada a Deus e diferente de outros festejos populares do
País.
Ele esclarece que, na verdade, a
devoção é direcionada para a Santíssima Trindade, um dogma cristão definido em
torno do século 5.
“O culto se centrou exatamente na figura do Pai. Ainda é
meio misteriosa esta forma de adoração. Hoje, a Basílica do Pai Eterno é um dos
poucos santuários dedicados propriamente à figura de Deus na América Latina. Em
outros lugares, predominam os grandes santuários marianos dedicados a Cristo.
Em segundo lugar e terceiro, os dedicados aos santos e santas. A devoção ao
“Divino” era mais relacionada ao Divino Espírito Santo, que possui festas
populares nos sertões brasileiros”, explica.
O especialista informa que a
imagem do Pai Eterno é encontrada na Península Ibérica dos fins da Idade Média
e foi trazida para o Brasil colonial. “Em algumas igrejas de Minas Gerais
encontramos uma imagem semelhante ao que existe no Santuário de Trindade. Ao nosso ver,
o casal de mineiros trouxe essa devoção de lá ou alguém a trouxe e perdeu o
famoso medalhão, que depois foi encontrado pelos lavradores”.
Para Eduardo Gusmão, as
circunstâncias que possibilitaram a devoção ao Divino Pai Eterno estão
intrinsecamente ligadas ao milagre.
“Um aspecto relevante das devoções
populares é o milagre. Essa procura das pessoas incentivou aquela devoção à
imagem da Trindade, pois os relatos das graças obtidas cresceram na região.
Outro aspecto é que o catolicismo predominante até o início do século 20 era
leigo, não sendo tão controlado pelo clero. Então, o povo foi criando suas
devoções de modo espontâneo, mantendo os cultos e posteriormente os padres
foram disciplinando essas práticas devotas ou adequando-as à ortodoxia
católica”, relata.
Eduardo observa que o clero, no
princípio, foi resistente a tal devoção, mas ele reconhece a enorme contribuição
dos padres redentoristas que vieram em 1894 administrar a pequena igreja. “Eles
contribuíram bastante, assim como em Aparecida do Norte (SP), para organizar,
difundir e adequar a devoção, ao mesmo tempo respeitando os costumes do povo,
como ensinava o fundador da Ordem, Santo Afonso de Ligório”, diz.
Idemar Costa afirma que “mesmo
com o passar do tempo a fé continua presente, viva”. Para ele, mesmo com as
transformações sociais tão grandes, de uma modificação de meio rural para o
meio urbano, a fé se mantém e conserva suas tradições. “Esse é o fundamento de
se olhar essa visão histórica e perceber que, apesar de todas essas mudanças,
os fundamentos da fé permanecem”, confessa.
Ele reconhece que a romaria ao
longo da história começou com pessoas que vinham a Trindade, na época, Barro
Preto, a pé, de carro de boi e hoje conservam a tradição. Mas também somam
outras expressões, em que vêm cavalheiros, muladeiros, ciclistas, bem como
caravanas de ônibus e famílias inteiras em carros para celebrar o Divino Pai Eterno.
“Vão se associando outras
expressões, mas o ato de fé inicial dessa devoção permanece. É a pessoa que
confia, é a pessoa que cultua o pai nesse santuário num gesto de fé profundo”,
acredita o padre.
Milagres reforçam festa religiosa
De acordo com o missionário
redentorista do Santuário Divino Pai Eterno, Idemar Costa, são muitas as graças
registradas na Sala dos Milagres quando, por exemplo, trazem fotos e objetos
como gesto de agradecimento para demonstrar que foram válidos por Deus. Ele
explica que são situações múltiplas que levam aos agradecimentos desde a saúde,
finanças, acidentes a problemas psíquicos.
Conta que um dos primeiros
milagres registrados ocorreu quando a cidade de Trindade ainda era uma região
de grandes matas. Conforme o padre, um homem teria sido salvo de um ataque de
onça, em que, ao ser atacado pelo animal, pediu a proteção do Divino Pai
Eterno. E este teria saído ileso e, a partir daí, passou a agradecer todos os
anos o livramento. “Ao ser atacado, ele gritou pelo Divino Pai Eterno e
miraculosamente a onça o deixa sem o ferir”, relata.
A Festa do Divino Pai Eterno
começa hoje e vai até o dia 5 de julho. Durante esse período, está prevista a
visitação de milhares de romeiros que em alguns casos percorrerão a pé os 18
quilômetros entre Trindade e Goiânia pela GO-060, conhecida como Rodovia dos
Romeiros.
A maioria das pessoas fará o
trajeto em uma Via Sacra para pagar promessas e agradecer graças alcançadas.
“Cada pessoa que vem a Trindade vem por um ato de fé, confiança, num gesto de
entrega e consagração total”.
Significado da representação da Santíssima Trindade
Deus Pai, 1ª pessoa da Santíssima
Trindade, aquele para quem nada é impossível, o Pai eterno é amoroso e criou o
mundo para manifestar sua bondade, sua glória e beleza. Jesus Cristo, 2ª pessoa da
Santíssima Trindade, o filho predileto, o ungido e enviado para nos redimir de
nossas faltas, o verbo que se encarna para nos salvar das trevas, que nos
reconcilia com Deus, modelo de nossa santidade.
Espírito Santo, 3ª pessoa da
Trindade, é o intercessor, o espírito de verdade, procede do Pai e do Filho e
com eles é adorado e glorificado. Maria, esposa do Espírito Santo,
mãe de Deus porque é a mãe de Jesus, a Imaculada Conceição, a mãe de todos os
viventes e a humanidade presente junto ao mistério da Santíssima Trindade.
Programação especial da Festa do Divino Pai Eterno
26 junho
RODOVIA – 16h – Saída da 1ª
Romaria da Vila São Cottolengo – Trevo de Goiânia (Participação na Novena
Solene)
27 junho
BASÍLICA – 15h – Saída da 12ª
Romaria Arquidiocesana – Trevo de Goiânia (Participação dos Vicariatos na
Novena Solene)
17h30 – Missa da 1ª Romaria dos
Coroinhas do Santuário de Santo Antônio do Descoberto (GO) – Basílica
Missas na Madrugada: Basílica –
0h, 2h e 4h
28 junho
BASÍLICA – 7h – Saída da 1ª
Romaria dos Ciclistas da Arquidiocese de Goiânia – Trevo de Goiânia
10h – Missa da 9ª Caminhada
Franciscana pela paz com o tema “Eu vim para servir” – Basílica
Missas na Madrugada: Basílica –
0h, 2h e 4h
2 julho
MATRIZ – 9h – Saída da Romaria
dos Carros de Boi com bênção até as 15h – Praça da Matriz
20h – Novena Solene com a
participação das Obras Sociais Redentorista
3 julho
BASÍLICA E MATRIZ – 9h – Romaria
dos Cavaleiros e Muladeiros – Praça da Matriz
10h – Missa da Romaria dos
Militares – Basílica
17h30 – Missa com os Cavaleiros e
Muladeiros – Basílica
20h – Novena Solene, participação
dos internos da Vila São Cottolengo
22h – Nightfever – Basílica
Missas na Madrugada: Basílica –
0h, 2h e 4h
4 julho
BASÍLICA – 12h – Missa com os
Foliões – Basílica
14h – Encontro dos Carreiros –
Salão Paroquial
17h30 – Missa com os Carreiros –
Praça da Basílica
Missas na Madrugada: Basílica –
0h, 2h e 4h
5 julho
BASÍLICA E MATRIZ – 4h30 –
Alvorada festiva com fogos e sinos
5h – Procissão da Penitência
5h45 – Santa Missa na Praça da
Basílica
8h – Missa Solene da Festa
16h30 – Procissão Luminosa e
Missa de Encerramento, saindo da Matriz até a Praça da Basílica (levar velas)
Missas deste dia:
Matriz: 11h, 12h30 e 14h
Basílica: 0h, 2h, 10h30, 12h,
13h30 e 15h
6 julho
BASÍLICA E MATRIZ – 5h – Toque de
despertar
Missas na Basílica: 5h30, 7h, 10h
e 19h30
Missas na Matriz: 7h, 9h e 19h
Fonte: http://www.dm.com.br
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