Papa vai a Sarajevo exortar a diálogo inter-religioso e reconciliação na Bósnia – Por Angelo Carconi
O Papa Francisco irá visitar
Sarajevo no sábado para "encorajar o cruzamento" de religiões na
Bósnia-Herzegovina de forma pacífica.
Esta será a segunda visita de um chefe da
Igreja Católica a Sarajevo, depois da efetuada em 1997 por João Paulo II.
O Papa Francisco desloca-se no
sábado a Sarajevo, numa visita de um dia destinada a “encorajar o cruzamento”
de mundos e religiões na Bósnia-Herzegovina, 20 anos após os acordos que
puseram fim à guerra.
Pouco mais de oito meses após uma
visita à Albânia, outro país balcânico na “periferia da Europa”, Jorge
Bergoglio confirma o seu compromisso em relação à coexistência dos povos e das
religiões. Na Albânia, como na Bósnia, o
poder é partilhado entre representantes de diferentes tradições religiosas.
O país de 3,8 milhões de habitantes
é composto por duas entidades, a Republika Srpska (República Sérvia), onde os
sérvios (cristãos ortodoxos) são maioritários, e a Federação Croato-Muçulmana,
na qual os muçulmanos são largamente mais numerosos que os católicos croatas.
A Presidência Bósnia, com quem o
papa se reunirá durante a manhã, é alternativamente ocupada de oito em oito
meses por um representante sérvio, muçulmano e croata. Neste momento, é o
representante sérvio quem ocupa o cargo de Presidente. É precisamente este sentido de
comunidade que o Papa Francisco tenciona promover, num país marcado pela
história e onde a guerra intercomunitária deixou sequelas.
O papa vai a Sarajevo “para
transmitir uma mensagem de paz, de reconciliação, de construção conjunta de um
país” onde o “diálogo inter-religioso é essencial”, explicou na semana passada
à imprensa o padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano.
O momento alto da visita, que
terá a duração de uma dezena de horas, será o encontro inter-religioso, na
tarde de sábado. Francisco reunir-se-á com os representantes das religiões
católica, ortodoxa, muçulmana e judaica. Os muçulmanos são maioritários na
Bósnia, onde representam cerca de 40 por cento da população. Seguem-se os
ortodoxos sérvios, com 31 por cento, e os católicos, quase todos croatas, com
10 por cento.
Os judeus são uma pequena minoria. A minoria croata católica
sente-se asfixiada no país dividido em dois pelos acordos de Dayton de 1995,
que puseram fim a uma guerra (1992-95) que fez cerca de 100.000 mortos. Mas o
papa tentará, todavia, encorajá-los a ficar, e a viver em conjunto, apesar dos
cerca de 300.000 católicos (de 800.000 antes da guerra) que já abandonaram a
Bósnia desde os anos 1990.
Uma missa “pela paz e pela
justiça” realizar-se-á no estádio olímpico de Sarajevo, onde são esperadas mais
de 65.000 pessoas. Francisco ouvirá igualmente
testemunhos da guerra, incluindo alguns muito dramáticos, como os de dois
padres e uma freira, e também, durante a tarde, os de uma sérvia e de um
católico croata, na visita a um centro de jovens.
Aí, o coro infantil de
Srebrenica, cidade que se tornou um símbolo da tragédia que foi a guerra da
Bósnia, cantará para o papa.
O coro “Superar”, composto por 40
meninos e meninas sérvios, cristãos ortodoxos e muçulmanos, todos nascidos em
Srebrenica, cantará no encontro com Francisco, num exemplo de tolerância e
reconciliação, após o massacre ocorrido na cidade durante o conflito.
Em julho de 1995, pouco antes do
fim da guerra da Bósnia, tropas sérvio-bósnias tomaram Srebrenica, então protegida
pela ONU, e mataram cerca de 8.000 rapazes muçulmanos. Foi o maior massacre na
Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Nenhum dos meninos do coro era
ainda nascido quando tal sucedeu, mas esse assassínio em massa continua a
envenenar as relações entre as duas principais comunidades da cidade de 15.000
habitantes.
Durante a visita papal, pelo
menos 5.000 polícias estarão destacados em toda a capital Bósnia, mas o
Vaticano não está preocupado. “Não há uma particular preocupação quanto à
segurança” do papa, assegurou o padre Lombardi à imprensa.
Esta será a segunda visita de um
chefe da Igreja Católica a Sarajevo, depois da efetuada em 1997 por João Paulo
II, que também se deslocou, em 2003, a Banja Luka, na Bósnia. Trata-se da
terceira viagem do Papa Francisco na Europa, após as realizadas a Estrasburgo,
à sede do Parlamento Europeu, e à Albânia.
Fonte: http://observador.pt
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