Igreja ditadura como religiosos se tornaram maior inimigo militares - Por Igor Natusch
Saudada pela Igreja, a ditadura
tomou o poder no Brasil. Mas bispos e frades ajudaram a sociedade civil a
reencontrar o caminho da democracia.
O golpe que lançou o Brasil em 21
anos de regime militar em 1964 encheu de euforia o coração de um presbítero de
Petrópolis (RJ). Reconhecendo na “revolução” a chance de um novo país, livre do
comunismo ateu que ameaçava a cristandade, o padre deslocou-se até o Rio de
Janeiro com um só objetivo: dar a bênção às tropas do general Olímpio Mourão
Filho, que tinham vindo desde a mineira Juiz de Fora para ocupar a Guanabara.
Dois anos depois, esse religioso,
chamado Paulo Evaristo Arns, foi ordenado bispo; em 1970, assumiu como
arcebispo de São Paulo. Desde então, o outrora entusiasta da ascensão dos
militares assumiu posição decisiva na contestação e denúncia dos crimes da
ditadura. Lutou contra a tortura, liderou o histórico ato na Catedral da Sé em
memória do jornalista Vladimir Herzog, criou a Comissão Justiça e Paz e abraçou
o projeto Brasil: Nunca Mais, que evitou o sumiço de milhares de documentos
fundamentais para contar a história daqueles dias. Hoje é considerado, com
justiça, um herói da resistência aos generais, um contraste e tanto com o
apoio prestado ao então recém-nascido regime.
As posturas de dom Paulo são
representativas da trajetória da Igreja Católica durante a ditadura no Brasil.
Um caminho acidentado no qual, após a euforia pela queda de João Goulart,
posições conservadoras e atos de reação conviveram durante muito tempo, até que
a ilusão de um governo redentor desabasse e a redemocratização se tornasse
inevitável. Em um país de forte base católica, os movimentos da Igreja desenham
a própria postura da sociedade civil diante do estado de exceção que a muitos
pareceu promissor, mas que com o tempo se revelou intolerável.
O apoio
“Em maio de 1964”, diz o
historiador Paulo César Gomes Bezerra, “um manifesto assinado por 26 bispos da
CNBB agradecia aos militares por ‘salvarem’ o país do perigo iminente do
comunismo”. Bezerra é autor de: Os Bispos Católicos e a Ditadura Militar
Brasileira: a Visão da Espionagem, que será publicado em 2014 pela Editora
Record para marcar os 50 anos do evento.
A declaração dos bispos manifestava
gratidão aos novos governantes por terem “acudido a tempo” e impedido a
consumação de um “regime bolchevista” no Brasil. “Ao rendermos graças a Deus”,
dizia o documento, “agradecemos aos militares que, com grave risco de suas
vidas, se levantaram em nome dos supremos interesses da nação”.
As palavras refletem um
sentimento que animou boa parte das ações da Igreja naqueles dias: o temor
diante do comunismo, destruidor da família, que vinha para esmagar os preceitos
cristãos. Mas demonstra também uma proximidade com o poder, o que, no caso
brasileiro, não era novidade. No país, até o final do século 19, a Igreja nem
sequer existia como entidade autônoma. No sistema do padroado, eram os
governantes que nomeavam bispos e padres, além de financiarem e administrarem
grande parte da estrutura eclesiástica. Mesmo com a República e a
institucionalização do Estado laico, a ligação estreita se manteve, e os
dirigentes entendiam bem a importância do apoio religioso às suas decisões.
A Marcha da Família com Deus pela
Liberdade, decisiva como suporte ideológico e popular ao movimento militar,
evidenciava tais laços, uma vez que a Igreja atuou fortemente na organização
das manifestações. Em São Paulo, Leonor Mendes de Barros, esposa do governador
Ademar de Barros, ao fim da marcha, assistiu à missa do padre irlandês Patrick
Peyton, que estava no Brasil a convite do cardeal Jaime de Barros Câmara, da
Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Manifestações semelhantes
ocorreram no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba. O padre Antônio Abreu,
ligado há mais de 40 anos ao Instituto Brasileiro de Desenvolvimento (Ibrades),
organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
descreve outros aspectos que influenciaram a posição da instituição. Segundo
ele, além de proteger a Igreja e a cristandade, havia entre alguma simpatia por
um nacionalismo popular de base militar, a exemplo do que Gamal Abdel Nasser
promovia no Egito.
“No momento do golpe, a identificação da Igreja era com as
elites em geral, em uma postura política antiliberal e antidemocrática”, afirma
Abreu. “Entre os que realmente queriam políticas públicas de caráter social,
parcela razoável acreditava ser mais provável os militares realizarem aquilo
que na democracia não era viável. Julgavam ditaduras esclarecidas mais eficazes
para o bem público”.
Fundada em 1952, a CNBB elegeu em
1964 uma direção conservadora. A presidência ficou com dom Agnelo Rossi, que
logo em seguida seria nomeado pelo papa Paulo VI arcebispo de São Paulo. O
então secretário-geral da entidade, dom Hélder Câmara, opositor de primeira
hora do regime, foi deslocado do Rio de Janeiro para a arquidiocese de Olinda e
Recife, sendo substituído por dom José Gonçalves, mais simpático aos novos
tempos. Com uma elite católica pronta a dar seu aval, os militares estavam
legitimados para agir.
Apesar do conservadorismo da
cúpula, vivia-se um período de renovação na Igreja Católica. Entre 1962 e 1965,
ocorreu o Concílio Vaticano II, uma das mais amplas reformas da história do
catolicismo. A partir dele, a Igreja tentou transformar sua relação com a
sociedade, colocando em primeiro plano a justiça social, a defesa dos direitos
humanos e o auxílio aos necessitados de todos os tipos. Era momento de repensar
a relação da fé católica com o ambiente político e social que a cercava, um
sopro de mudança que demorou um pouco a arejar o alto comando da Igreja
brasileira, ainda que tenha sido percebido em outros lugares.
A contestação
O apoio da Igreja Católica ao
golpe pode ter sido majoritário, mas não foi unânime. O bispo de Volta Redonda,
dom Waldyr Calheiros, foi quase um pioneiro: já na noite do 31 de março de 1964
leu um sermão cheio de comentários desabonadores à derrubada de Jango. Sem
contar a oposição férrea de dom Hélder Câmara, um homem tão combativo que logo
passou a ser monitorado de perto pelos militares.
Pelo menos desde 1966, o
Centro de Informações da Polícia Federal abastecia um dossiê sobre o bispo, e a
divisão de segurança e informações do Itamaraty fazia de tudo para impedir suas
viagens ao exterior, nas quais ele invariavelmente denunciava a violência da
ditadura brasileira. A partir de 1970, a imprensa não podia nem ao menos citar
o nome de dom Hélder, para o bem ou para o mal; era como se o religioso, mesmo
vivo e atuante, não existisse.
Os mandatários religiosos seguiam
alinhados aos militares, mas outras esferas adotavam uma postura crescente de
resistência e contestação. “A Igreja, em todos os tempos e lugares, sempre
refletiu a luta de classes, como todas as instituições”, afirma Frei Betto,
dominicano famoso pela atuação em movimentos pastorais e sociais. Ele tomou
parte direta na mais explícita atuação de setores da Igreja junto à guerrilha:
o alinhamento com a Aliança Libertadora Nacional, de Carlos Marighella.
Enquanto os dominicanos como Frei
Betto auxiliavam pessoas a fugir do Brasil, o arcebispo do Rio de Janeiro, dom
Eugênio Sales, oferecia ajuda a indivíduos perseguidos por outras ditaduras da
América do Sul. Iniciado em 1976, o processo ganhou tal volume que, a partir de
1979, o bispo chegou a hospedá-los em sua própria residência, na Rua da Glória.
Ao todo, com o apoio da Cáritas brasileira e do Alto Comissariado das Nações
Unidas para Refugiados (Acnur), dom Eugênio teria socorrido, até 1982, mais de
4 mil pessoas.
Alguns chegavam por iniciativa do então padre da Companhia de
Jesus Argentina Jorge Mario Bergoglio, hoje Papa Francisco. Tanto dom Eugênio
quanto dom Paulo Evaristo Arns teriam recebido pessoas enviadas por Bergoglio
ao Brasil, uma das muitas histórias que evidenciam a colaboração entre
religiosos no continente.
A ditadura não estava alheia a
esses movimentos e começou a agir de forma cada vez mais dura. Em 1966 o padre
Henrique Pereira Neto, auxiliar de dom Hélder Câmara, foi assassinado pelo
Comando de Caça aos Comunistas (CCC), um grupo paramilitar. A partir daí o
porão do regime perdeu o constrangimento e se voltou contra a Igreja.
A reação
dos órgãos eclesiásticos, em princípio, foi tímida: apenas em maio de 1970
viria o primeiro documento da CNBB denunciando a prática de tortura no país,
ainda assim com o cuidado de criticar também ações atribuídas à esquerda, como
assaltos e sequestros. Em outubro daquele ano, porém, a prisão do
secretário-geral da CNBB, dom Aloísio Lorscheider, durante uma ação do
Departamento de Ordem Pública e Social (Dops) na sede do Ibrades, azedou
totalmente o diálogo. Foi a primeira vez que um alto dirigente da CNBB se viu
nas mãos dos militares.
Lorscheider ficou preso durante
cerca de quatro horas. Tempo suficiente para o alto clero atacar o regime com
ousadia inédita. Os cardeais chegaram a enviar carta diretamente ao então
presidente, o general Emílio Garrastazu Médici, lamentando a “deterioração” de
seus vínculos. O impacto internacional também foi péssimo: a imprensa do
Vaticano noticiou o fato e até o papa Paulo VI manifestou publicamente apoio
aos bispos brasileiros.
“Foi quando se resolveu criar a Comissão Bipartite, que
funcionou entre 1970 e 1974, com o intuito de promover diálogos entre a Igreja
e o Estado e evitar a ruptura”, afirma o historiador Paulo César Gomes Bezerra.
O efeito da medida, contudo, foi limitado: as relações entre as instituições
jamais voltariam a ser as mesmas.
Dominicanos no cárcere
Nenhum setor da Igreja brasileira
foi tão fundo na oposição ao regime quanto os dominicanos. Os frades passaram a
apoiar perseguidos políticos que precisavam esconder-se ou fugir do país. Foi
essa ação que os aproximou de Carlos Marighella e da Aliança Libertadora
Nacional. Em 1968, com o advento do AI-5, a repressão chegou ao momento mais
duro, e Frei Betto, morando no Rio Grande do Sul, ajudou dezenas de pessoas a
atravessar a fronteira do Uruguai.
A ligação dos dominicanos com
questões sociais e políticas vem desde os anos 1940, a partir da Ação Católica
(AC), movimento que buscava maior inserção da Igreja junto aos movimentos da
sociedade civil. Como forma de recrutar estudantes, surgiram dentro da AC
grupos como a Juventude Estudantil Católica (JEC) e a Juventude Universitária
Católica (JUC). A partir deles, nasceu a Ação Popular (AP), segundo Frei Betto
“um movimento de esquerda, laico, independente da Igreja”, com forte presença
dos dominicanos e forte inserção no meio universitário. Depois do golpe, a
organização passou à clandestinidade.
Com o endurecimento do regime, os
serviços de inteligência passaram a prestar especial atenção nos dominicanos,
levando a uma série de prisões, como a dos frades Fernando, Ivo e Tito, todos
alvo de torturas e expostos como terroristas. O caso de frei Tito tornou-se
tristemente célebre: incapaz de conciliar-se com as memórias dos padecimentos,
ele se suicidou nos arredores de um convento francês em 1974, aos 28 anos. No
exílio ou na cadeia, os dominicanos continuavam incomodando o poder.
“Nós, religiosos presos, éramos a
principal fonte de denúncia no exterior dos crimes praticados pela ditadura. E
o papa Paulo VI nos deu ouvidos e apoio”, diz Frei Betto. “Na tentativa de nos
neutralizar, nos obrigaram a partilhar do mesmo regime carcerário dos presos
comuns. Nem assim cessamos as denúncias, pois as informações sempre nos
chegavam”. A voz dos dominicanos ecoou em todo o mundo e levou a uma rejeição
cada vez maior à ditadura no exterior.
Em 1970, a mudança de comando na
Arquidiocese de São Paulo aumentou o fosso entre Igreja e militares. Frei Betto
afirma que, mesmo após visitar dominicanos no Dops e ouvir seus relatos, o
então arcebispo, dom Agnelo Rossi, seguia negando que houvesse tortura nas
prisões. O Vaticano, então, resolveu transferir dom Agnelo a Roma, uma espécie
de promoção às avessas, já que abriu espaço para seu auxiliar, dom Paulo
Evaristo Arns, assumir a arquidiocese.
A essa altura, a simpatia de dom
Paulo pelo golpe já tinha virado fumaça. Ele se tornou firme opositor da
ditadura no Brasil, tanto no discurso quanto na prática: fundou a Comissão
Justiça e Paz, o grupo Clamor (uma rede de solidariedade a fugitivos das
ditaduras sul-americanas) e o projeto Brasil: Nunca Mais, que reunia em segredo
documentos relativos aos porões da ditadura militar. Além disso, promoveu a
criação de várias pastorais (como a da Moradia, a da Criança e a Operária), de
valioso papel na consolidação dos movimentos sociais na reta final do período dos
militares no comando do país.
Durante os anos de chumbo,
surgiram também as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Incentivadas por
seguidores da Teologia da Libertação, como Leonardo Boff e o próprio Frei
Betto, as CEBs tentavam suprir a falta de sacerdotes nas áreas de baixa renda,
em especial no Nordeste. “Por serem movimento de Igreja, a repressão não deu
muita importância a elas, que se tornaram incubadoras de movimentos populares”,
diz Frei Betto.
Em 1975, o caso do jornalista
Vladimir Herzog, torturado até a morte no quartel-general do II Exército, em
São Paulo, abalou os alicerces do regime. A partir do episódio,
ficou impossível negar o que acontecia nos porões. No ano seguinte, o
metalúrgico Manuel Fiel Filho foi outra vítima fatal da tortura nas prisões do
Doi-Codi. A repercussão do assassinato, mais um suicídio por enforcamento, na
versão dos militares, foi tão expressiva que o general Ednardo d’Ávila Mello,
advertido pelo presidente Ernesto Geisel no caso Herzog, foi exonerado do
comando do II Exército. Para o jornalista Elio Gaspari, autor da maior obra
sobre a ditadura militar brasileira, o enquadramento de Geisel aos militares do
porão no episódio marcou o fim da bagunça na tropa.
Próximo de dom Pedro,
o padre João Bosco foi morto em 1976 com um tiro dentro de uma delegacia onde
tinha ido denunciar abusos contra camponeses. A sequência da queda de braço com
os religiosos incluiu investigação a outros bispos, como dom Fernando Gomes e
dom Waldyr Calheiros, e o monitoramento de perto do jornal O São Paulo, da
Arquidiocese da cidade, o último veículo brasileiro a livrar-se da censura
prévia, já em 1978.
O ato ecumênico por Herzog na Sé
“A morte do Vlado evidenciou
muitas ações dos bispos. Antes, o registro do que diziam ficava no canto de
página dos jornais. Isso quando saía”, diz o jornalista Audálio Dantas, autor
de As Duas Guerras de Vlado Herzog, livro-reportagem que recebeu o Prêmio
Jabuti em 2013. A versão de suicídio apresentada pelos militares foi contestada
não apenas pelos colegas do jornalista morto, mas também por líderes
religiosos. Herzog era judeu. Segundo o rito judaico, os suicidas devem ser
enterrados perto dos muros dos cemitérios. Mas ao ver o corpo, o rabino Henri
Sobel tomou uma decisão que teve o peso de denúncia: ordenou que Herzog fosse
enterrado na área comum do Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo, um
claro desmentido à versão dos militares.
Foi o Sindicato dos Jornalistas
de São Paulo, do qual Audálio fazia parte, que teve a ideia de um culto
ecumênico em memória de Herzog. No dia 28 de outubro, mesma data em que dom
Paulo concordou em ceder a Catedral da Sé para o ato, dom Eugênio Salles
recusou no Rio de Janeiro pedido da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) para
uma missa com o mesmo objetivo.
A recusa não era inexplicável: o clima era de
tensão, com constantes ameaças. Pouco antes do ato na Sé, dom Paulo Evaristo
Arns foi visitado por dois secretários do governador de São Paulo, Paulo Egydio
Martins. Segundo os emissários, centenas de policiais tinham ordens de atirar
ao menor sinal de confusão. Usando uma inauguração como pretexto, o presidente
Geisel abalou-se de Brasília para a capital paulista para acompanhar os
desdobramentos. “Só foi embora quando o culto terminou”, diz Audálio.
O culto ecumênico aconteceu no
dia 31 de outubro de 1975, presidido por dom Paulo e com a presença do rabino
Henri Sobel e do pastor protestante James Wright. Mesmo proibida qualquer
menção a seu nome em veículos de imprensa, dom Hélder Câmara também compareceu,
sem pronunciar palavra. Mais de 300 barreiras policiais impediam o acesso da
população à catedral; ainda assim, 8 mil pessoas lotaram o lugar.
A memória
Da segunda metade dos anos 1970
em diante, a Igreja brasileira acertou o passo com a sociedade civil na
caminhada de retorno à democracia. Entre 1976 e 1977, a CNBB lançou documentos
denunciando de forma explícita casos como o que vitimou o padre João Bosco e o
operário Fiel Filho. “A segurança, como bem da Nação, é incompatível com uma
permanente insegurança do povo”, dizia uma dessas notas, condenando as “medidas
arbitrárias”, os “desaparecimentos inexplicáveis” e “inquéritos aviltantes”
promovidos pelos militares. Ainda assim, alguns bispos, entre eles dom Antônio
Castro Mayer e dom Geraldo Sigaud, teriam, segundo o historiador Paulo César
Bezerra, permanecido fiéis ao regime militar até o fim.
Com a consolidação da abertura
política, a tensão entre religiosos e militares diminuiu. Entretanto, o lado da
fé continuou somando vítimas, como o líder metalúrgico Santo Dias da Silva,
militante da Pastoral Operária, morto pela Polícia Militar em Outubro de 1979
enquanto participava de uma greve em São Paulo. A violência representou mais um
abalo nas já frágeis estruturas do regime: o velório, novamente na Catedral da
Sé, reuniu mais de 15 mil pessoas e o cenário forçou uma mudança de postura do
governo com relação às entidades sindicais.
A CNBB assumiu no final da década
papel ativo na campanha pela anistia e depois contribuiu na articulação do movimento
Diretas Já. Além disso, seguiam os esforços para preservar a memória do
período. A Editora Vozes, vinculada à Igreja Católica, editou o livro: Brasil:
Nunca Mais em 1985, meses depois da retomada da democracia. Se tinham sido
fundamentais na sustentação do regime militar quando este se iniciou, no apagar
das luzes da ditadura os religiosos abriam caminho para que não fossem
esquecidos os duros anos de repressão.
O projeto Brasil: Nunca Mais
resultou em cerca de 900 mil páginas, referentes a centenas de processos. O
material foi microfilmado e enviado ao Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra,
na Suíça, para evitar que fosse apreendido e destruído pelos militares. Foram
necessários 25 anos até que esse pedaço da história brasileira fosse
repatriado. Em 2011, os microfilmes voltaram ao país, e em agosto de 2013 foi
lançado o BNM Digital, site que disponibiliza a consulta a toda essa
documentação.
Hoje, com a Comissão Nacional da
Verdade e suas ramificações estaduais, o país busca iluminar os cantos escuros
do período gerado pelo golpe e, a partir deles, enxergar melhor a si mesmo. A
ditadura talvez não tivesse se consolidado sem a bênção inicial da Igreja
Católica ao novo regime, mas as denúncias e a combatividade dos religiosos
foram igualmente fundamentais na retomada da democracia.
Saiba Mais
Livros
Brasil Nunca Mais, dom Paulo
Evaristo Arns, Editora Vozes, 1996.
Os Bispos Católicos e a Ditadura
Militar Brasileira: A Visão da Espionagem, Paulo César Gomes Bezerra, Editora
Multifoco, 2013.
A Ditadura Derrotada, Elio
Gaspari, Cia. Das Letras, 2003.
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