Igreja fundada pelos Templários reabre em Santarém/Portugal
Após dois anos de
obras, Igreja de Santa Maria da Alcáçova abre as portas para mostrar as
suas três naves, capela-mor profunda e um órgão com 640 tubos, datado
do início do século XIX.
Fundada em 1154 por iniciativa de
um mestre templário, a Igreja de Santa Maria da Alcáçova, capela do primeiro
Paço Real de Santarém, vai reabrir no sábado depois de décadas de abandono e
graças a recentes obras de restauro.
O templo não apresenta qualquer
vestígio da sua traça original, uma circunstância já sublinhada em meados
do século XIX por Almeida Garrett, no livro: "Viagens na Minha
Terra".
O restauro da igreja, cuja
estrutura actual resulta da campanha realizada entre 1715 e 1724 por iniciativa
do Conde de Unhão, deixou a descoberto detalhes das intervenções realizadas nos
séculos XVI (como o arco do altar) e XIX (o cadeiral da Capela-Mor, a decoração
e o órgão), mas também um capitel romano existente numa das colunas que separam
as naves.
Eva Raquel Neves, da Comissão
Diocesana para os Bens Culturais da Igreja, disse à agência Lusa que durante
muitos anos a igreja serviu de arrecadação, sendo a informação relativa ao
último cónego-mor datada de Outubro de 1904, altura em que a diocese pediu a
extinção definitiva da Real Colegiada de Santa Maria da Alcáçova (criada em
finais do século XII), dada a existência de um único cónego já octogenário.
Composta por três naves e
capela-mor profunda, em abóbada de berço com caixotões de cantaria, o interior
da igreja é revestido a pintura decorativa de tons vermelhos e amarelos, com
relevos de grinaldas (que remete para uma decoração mais civil do que
religiosa), tendo na base azulejos dos finais do século XVIII com temática
alusiva às litanias (oração em ladainha) de Nossa Senhora.
O órgão que se encontra no
coro-alto da igreja (o sétimo a ser restaurado no centro histórico de
Santarém), com 640 tubos, está datado entre 1820 e 1822, tendo sido construído
por António Joaquim Peres Fontanes, um trabalho português coincidente com a
prática musical da época e que será tocado no sábado pelo organista Rui Paiva,
durante a inauguração presidida pelo secretário de Estado da Cultura.
A obra de requalificação,
iniciada em 2013 e agora concluída, resultou de uma parceria entre a Diocese de
Santarém e a Direcção Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo (que deu
lugar à Direcção-Geral do Património Cultural) e da candidatura a fundos
comunitários, que financiou metade do custo global da intervenção (da ordem dos
210 mil euros). De fora da intervenção ficou a
sacristia, cujo tecto, datado de 1637 e exibindo as armas do Conde de Unhão, a
Diocese quer ainda tentar recuperar, disse Eva Neves.
A tela existente na capela-mor
(de Cyrillo Machado, século XIX) mostra D. Afonso Henriques a entregar o
Eclesiástico de Santarém ao procurador dos Templários (um "prémio"
pela participação da Ordem na conquista de Santarém, em 1147, que veio a ser
contestado pelo bispo de Lisboa, obrigando o rei a anular a doação em 1159).
A igreja, que acolheu uma das
Colegiadas mais importantes do país, com cerca de 20 cónegos, terá sido fundada
em 1154 pelo mestre templário Hugo Martins e tido por construtor o frade Pedro
Arnaldo, segundo a inscrição colocada sobre a porta principal. Classificada em 1984 como imóvel
de interesse público, foi ainda alvo de uma campanha nos anos 90 do século XX,
que deu origem a alguns trabalhos arqueológicos.
A igreja situa-se junto ao actual
Jardim da Porta do Sol, que preserva parte das muralhas de Santarém, e paredes
meias com a Casa-Museu Passos Canavarro, que foi a residência de Passos Manuel,
onde pernoitou Almeida Garrett na visita que lhe fez no verão de 1843 e que deu
origem às "Viagens na Minha Terra", onde deixou uma descrição
demolidora do que encontrou naquela que fora "a quase catedral da primeira
vila do reino".
Fonte: http://rr.sapo.pt
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