Uma visita 'espiritual' ao local de nascimento de Buda – Por Susmita Baral
Espalhados por toda a Ásia, da
Índia à Coreia do Sul, milhares de templos, mosteiros, estupas e pagodes nos
lembram dos princípios do budismo e de sua profunda conexão com aquele
continente.
Mas nenhuma dessas verdadeiras jóias da arquitetura têm tanto valor histórico e simbólico como Lumbini,
localizada nas planícies de Terai, na base dos Himalaias, no sul do Nepal. Foi
aqui que, segundo a tradição budista, nasceu o príncipe Sidarta Guatama, ou
Buda, em 623 a.C., filho do rei Suddhodana e da rainha Maya Devi.
Trata-se de um dos quatro
principais locais de peregrinação para os 488 milhões de fiéis dessa religião
que vivem em todo o mundo. O lugar foi declarado Patrimônio da Humanidade em
1997.
Multidão de visitantes
Lumbini atrai turistas e fieis há
séculos. Em 249 a.C., o imperador indiano Asoka visitou o local e deixou sua
homenagem a Buda: quatro estupas e uma coluna de pedra com a figura de um
cavalo no topo.
Depois de um período de abandono,
o lugar foi redescoberto pelo arqueólogo alemão Alois Anton Führer, em 1896.
Posteriormente, com base na análise dos artefatos ali encontrados, Lumbini foi
reconhecida como a terra natal de Buda.
Hoje, mais de 400 mil turistas
visitam a cidade sagrada a cada ano, passeando entre as ruínas dos antigos
mosteiros e templos. Para homenagear o fundador do budismo, muitos percorrem a
rota ao redor das estupas e da coluna de Asoka. Também exploram o Templo de
Maya Devi, onde acredita-se que a rainha deu à luz, não sem antes se banharem
em um uma espécie de reservatório ali ao lado.
Todos os anos, nos meses de abril
ou maio, o festival do Aniversário de Buda, que dura um dia inteiro, reúne
milhares de pessoas da região para marcar o nascimento, a iluminação e a morte
do líder, com rezas e meditação.
Diferentes crenças
Mas além de ser um importante
local de peregrinação para os budistas, Lumbini também atrai milhares de
pessoas de diferentes origens e crenças. É algo que vemos em outros monumentos
religiosos em todo o mundo, como a Basílica de São Pedro, no Vaticano, o templo
de Angkor Wat, no Camboja, e a Mesquita Azul, na Turquia.
O que leva turistas a visitarem os centros de religiões que não são as
suas?
Para responder isso,
pesquisadores da Universidade Estadual do Arizona fizeram um estudo de caso em
Lumbini, em 2013, entrevistando visitantes ao longo do ano sobre suas
inspirações para viajar até o lugar.
Os pesquisadores, liderados pelo
antropólogo Gyan P. Nyaupane, concluíram que muitos dos hindus e cristãos que
responderam ao questionário disseram ter ido a Lumbini por acharem o budismo
semelhante à suas próprias religiões.
Muitos hindus, por exemplo,
acreditam que Buda é uma reencarnação de Vishnu, uma de suas principais
divindades. Para eles, Lumbini também é um lugar sagrado. O estudo americano
mostrou que os cristãos entrevistados veem o budismo como uma religião que não conflita
com suas crenças.
"Enquanto budistas têm uma
motivação religiosa maior para ir a Lumbini, como, por exemplo, sentir-se mais
perto de Buda, não budistas são atraídos pelo lugar pela oportunidade de
aprendizado e pelo próprio lazer", explica Nyaupane.
Uma pesquisa anterior, publicada
em 2009 na revista especializada Journal of Heritage Tourism, concluiu que
locais sagrados são bastante visitados por quatro razões principais.
Têm renome mundial, como os que
são declarados como Patrimônio da Humanidade; são exemplos de uma arquitetura
fora do comum, como o templo da Sagrada Família, em Barcelona; estão associados
a eventos e lugares famosos, caso da Catedral de St. Paul e da Abadia de
Westminster, em Londres; ou ainda por um componente espiritual, já que muitas
pessoas acreditam sentir mais paz interna ao visitar esses monumentos.
Impacto mundial
Minha visita a Lumbini foi
motivada por uma admiração profunda por templos budistas. Nenhum coquetel de
palavras pode resumir a serenidade e a sensação de harmonia que sinto quando
entro em um deles. Talvez seja por causa dos incensos, pelos suaves cânticos ou
pela minha fascinação com os estilos ecléticos da arquitetura budista.
Mas depois de conhecer inúmeros
templos budistas na Índia, na Tailândia e em outras partes do mundo, imaginei
que uma visita à terra natal de Buda seria ainda mais reconfortante.
Conforme explorei o principal
conjunto de prédios de Lumbini e caminhei pelos 2 quilômetros entre o templo de
Maya Devi até o Museu de Lumbini, passei por vários templos e estupas que foram
erguidos em homenagem a Buda por diferentes nações do mundo.
Fiquei em transe, contemplando o
belíssimo Templo Dourado, presenteado por Mianmar, o Mosteiro Budista Real
Tailandês, feito em mármore branco decorado, o pagode Phat Quoc Tu, construído
pelo governo do Vietnã, com seus dragões no teto, e a Estupa Lótus, projeto da
Alemanha, com seus coloridos afrescos ilustrando os ensinamentos de Buda.
Quando cheguei ao museu, que está
repleto de artefatos budistas, senti que tinha dado a volta ao mundo,
experimentando o imenso impacto do budismo no planeta e em seus habitantes.
Assim como as visitas que fiz a
outros lugares sagrados, o dia expandiu meus conhecimentos, ampliou minha
percepção e me ajudou a cultivar a tolerância.
Afinal, quando tiramos os sapatos
antes de entrar em um templo, nos cobrimos com um véu para visitar uma
mesquita, ou nos sentamos silenciosamente em um banco de igreja, somos invadidos
por um sentimento de solidariedade com os outros à nossa volta.
Fonte: http://www.bbc.com
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