Líderes religiosos pedem diálogo e respeito para combater discursos odiosos
Líderes religiosos pediram
diálogo e respeito às diferenças para combater a propagação de intolerâncias e
discursos odiosos.
As declarações foram feitas em encontro ecumênico durante
audiência pública da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos
Deputados. Números do Disque 100, da
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, mostram que
seguidores de umbanda e candomblé e evangélicos lideram a lista de vítimas das
denúncias de intolerância religiosa no País.
Os deputados também receberam dados
da Secretaria de Assistência Social do Rio de Janeiro, que registrou 948
queixas relacionadas a religião em todo o estado, entre 2012 e 2014.
Para ilustrar a crescente
violência contra os cultos afros, a líder do candomblé no Pará, Oneide
Rodrigues, mais conhecida como Mam’etu Nangetu, citou o caso da menina Kayllane
Campos, de 11 anos, apedrejada, na zona norte do Rio de Janeiro, quando voltava para casa
com roupas típicas do candomblé. Mam’etu Nangetu fez um apelo dramático por paz
e respeito.
“O ódio religioso a cada dia
cresce mais. Estamos vendo pessoas invadirem os nossos terreiros e destruírem o
nosso sagrado. Então, eu vim pedir socorro pelo meu povo. Tem que se dar um
basta nisso. Nós temos que fazer campanha e todas as religiões se unirem para
que o povo veja que nós só cultuamos um Deus diferente, mas nós somos todos
iguais. Nós somos humanos e merecemos respeito”, declarou.
Mam’etu Nangetu afirmou que, por
causa de suas crenças e vestes, seguidores de cultos afros são perseguidos
cotidianamente em ambiente público e que muitas denúncias são ignoradas pelas
autoridades.
Vítimas de intolerância
Líderes evangélicos também
afirmaram que os seguidores da religião são vítimas históricas de intolerância
no país, resultante de resistências da maioria esmagadoramente católica da
população, até o fim do século passado. Em nome dos evangélicos, o senador
Marcelo Crivella (PRB-RJ) atribuiu os casos de intolerância religiosa a
fanatismos.
“Nós, evangélicos, talvez
tenhamos episódios a lamentar por parte de certos segmentos que, no afã de
defender seus ideais e a fé, esbarram no fanatismo. Mas não se pode, de maneira
nenhuma, sob pena de cometermos uma injustiça histórica, generalizarmos isso.
Na sua imensa maioria, o povo evangélico é um povo tolerante, pacífico e amoroso
sem arredar um milímetro de suas convicções”, disse o senador.
O encontro também contou com
religiosos católicos e anglicanos. O bispo anglicano e presidente do Conselho
Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), dom Flávio Irala, defendeu o Estado laico
e afirmou que toda forma de intolerância e discriminação atinge a dignidade
humana. “Sou anglicano e busco a inclusividade. Para nós, a diferença é uma
bênção”, declarou.
Já o escritor, teólogo e monge
católico beneditino Marcelo Barros reconheceu “erros históricos” da Igreja
Católica, que, segundo ele, “foi uma das religiões mais intolerantes, durante
séculos”.
Ao fazer essa espécie de
autocrítica, ele lamentou que alguns seguidores de grupos pentecostais
mantenham hoje discursos discriminatórios, sobretudo contra cultos afros.
“As
igrejas dominantes têm dívidas históricas. A religião surgiu para ser
instrumento de amor universal e não tem a ver com intolerância, discriminação e
crueldade”, disse Barros. Ele defendeu ainda o Estado laico
como “um bem, uma dádiva; seria muito ruim se o Brasil fosse só católico”.
Diálogo inter-religioso
“O objetivo é contribuir para a
promoção do diálogo inter-religioso, a liberdade e convivência respeitosa entre
os diversos cultos e a laicidade do Estado. Todos nós sabemos que as instituições
religiosas são vocacionadas à formação de valores humanistas, mas há também uma
outra realidade histórica, que é a ocorrência de episódios de violência e de
intolerância entre as religiões”, afirmou o deputado.
A Câmara dos Deputados analisa uma proposta (PL
1219/15) que cria o Estatuto da Liberdade Religiosa, incluindo as liberdades de
consciência, pensamento, discurso, culto e organização religiosa.
Fonte: http://wp.clicrbs.com.br
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