Por que as religiões encolhem quando o capitalismo avança? - Por Leandro Narloch
Duas teorias tentam explicar por
que as igrejas se esvaziam à medida que os cidadãos enriquecem.
Essa é uma questão antiga entre
os estudiosos da religião. Com uma ou outra exceção, as religiões entram em
declínio quando a economia se desenvolve e a renda dos cidadãos aumenta. A
Suécia é um entre muitos bons exemplos: luterana no passado pobre, secular no
presente rico. Só 10% dos suecos consideram a religião relevante para a vida.
Pode ser que os dois fenômenos,
apesar de acontecerem juntos, não tenham relação entre si. Mas pelo menos duas
teorias tentam relacioná-los. A primeira, rascunhada por Max
Weber em: A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo e
desenvolvida pelo sociólogo Peter L. Berger, defende que a racionalização
necessária ao avanço do capitalismo minou crenças místicas e impôs meios
seculares de vida.
Como dizia o economista Joseph Schumpeter, “o processo
capitalista racionaliza comportamento e ideias, e desse modo persegue
em nossa mente, junto a crenças metafísicas, ideias místicas e românticas
de todo o tipo”. Desse ponto de vista, o capitalismo minou a fé e, assim, a
frequência à igreja.
Para a segunda teoria, o processo
foi inverso: o capitalismo minou a frequência à igreja, e assim a fé. Nessa
visão, o mercado resolveu as necessidades materiais e psicológicas que antes
levavam as pessoas às missas e à vida comunitária religiosa. A frequência às
igrejas caiu porque as pessoas arranjaram outras coisas para fazer, como ir ao
cinema ou viajar no fim-de-semana. Em vez de conversar com o padre para
resolver problemas emocionais, procuraram um psicólogo.
Qual das duas teorias tem mais
poder explicativo? O sociólogo Jochen Hirschle, da Universidade de
Innsbruck, na Áustria, encontrou uma resposta compilando centenas de dados de
renda, crescimento da economia, frequência a igrejas e crença religiosa de
treze países europeus. Descobriu que a relação entre progresso econômico e
igreja vazia é mais forte que entre progresso econômico e menor crença. A
pesquisa favorece, então, a segunda teoria.
Quando a economia cresce, as
pessoas deixam de ir tanto à igreja, mas muitas vezes mantém a fé. Em alguns
casos, como na Itália, a fé em Deus aumentou apesar do declínio da frequência
às igrejas. Não necessariamente, então, as pessoas ficam menos religiosas
quando ricas. Mas encontram outros meios de seguir a religião.
Fonte: http://veja.abril.com.br
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