A Conferência da ONU e as religiões – Por Marcelo Barros
Dentro de poucos dias, a ONU fará
em Paris mais uma Conferência internacional sobre as mudanças climáticas para
pedir aos Estados membros novos compromissos que possam deter o aquecimento
global. Nessa semana, tivemos no dia 06 de Novembro:
"o dia internacional
para a prevenção da exploração do meio ambiente”
Cada vez mais, a humanidade toma
consciência de que a prevenção contém um elemento técnico, supõe uma opção
política clara, mas não basta. O ser humano só mudará a sua forma de
relacionar-se com os seus semelhantes e com os outros seres vivos se optar por um
olhar de amor sobre o universo.
Na sua mais recente encíclica, o Papa
Francisco mostra que, para cuidar da Terra, nossa casa comum, é preciso
aprofundar a relação consigo mesmo, com os outros e pressentir uma marca divina
por trás de cada ser do universo.
Atualmente, o nosso planeta
abriga quase 7 bilhões de pessoas. Nos próximos 50 anos, a previsão é de que o
mundo tenha entre 8,5 a 9 bilhões de habitantes. Mas, como viverá essa
população, se metade dos recursos hídricos disponíveis para consumo humano e
47% da área terrestre já são utilizados? E ainda assim, um bilhão de
pessoas sofrem desnutrição e insegurança alimentar.
A cada dia, mais de 30 mil morrem
por este motivo. A relação entre crescimento populacional e o uso de recursos
do Planeta já ultrapassou em 20% a capacidade de reposição da biosfera e esse
déficit aumenta cerca de 2,5% cada ano. Isso quer dizer que a diversidade
biológica, de onde vêm novos medicamentos, novos alimentos e materiais para
substituir os que se esgotam, está sendo destruída muito mais rápido do que
está sendo reposta. Esse desequilíbrio cresce a tal ponto que, até 2030,
70% da biodiversidade poderá ter desaparecido.
Quando, no século XVIII, os
bandeirantes e aventureiros de São Paulo penetraram no nosso Centro-oeste, atrás
de ouro e de índios para escravizar, depararam-se com a Serra Dourada, qual
misterioso paredão de pedras que atravessa quilômetros, se levanta como uma
barreira que exige parada e reflexão.
Hoje essa cadeia montanhosa, que
atravessa diversos municípios do cerrado goiano, divide os territórios da
querida Cidade de Goiás da velha Mossâmedes, que, até pouco mais de um século,
era um aldeamento para amansar "bugres brabos”, ou seja, índios que não
aceitavam ser escravos. Dizem que a serra foi ficando
amarelada de tanto ver injustiças e opressões.
Os brancos que só pensam em
riquezas viram a serra empalidecer. Julgaram ser por causa do brilho do ouro em
suas veias de pedra. Denominaram-na de Serra Dourada. Ao aproximar-se da cidade de
Goiás, o majestoso paredão se enriquece de picos para que melhor se contemple,
do mais alto, o planalto agreste tão amplo, que no horizonte se torna azul e se
faz um só com o céu sem nuvens.
Dizem que ali, sobre um daqueles
pontos altos mais próximos ao céu, há uma pedra misteriosa que os índios
chamavam de "Salto do Vento”. É um recanto sagrado que nenhum branco sabe
com certeza designar onde fica. Naquele ponto do paredão vertical, muitos
guerreiros Kaiapós voaram para os campos sem escravidão, para não ser
aprisionados por seus algozes.
Até hoje, os espíritos dos
antepassados rondam aquele lugar sacrossanto. Com o urubu-rei que, nos fins de
tarde, sobrevoa o paredão, velam sobre aquele santuário, até hoje, intocado. Agora, os espíritos choram não
mais apenas pelos jovens guerreiros que saltaram sobre o Salto do Vento. Eles
lamentam a situação trágica do Cerrado goiano, o mais frágil dos ecossistemas
brasileiros e que continua agredido de todas as maneiras pelo sistema econômico
que busca apenas o lucro fácil.
O clamor da Terra ferida só tem
sido escutado pelos povos originários indígenas e afrodescendentes. E também
pelos grupos da sociedade civil que aprofundam a espiritualidade ecológica e se
põem em diálogo para buscar novos caminhos. Todos esses buscam resgatar a
dignidade da Terra, da Água e do Ar.
No Ocidente, o Papa Francisco e
no Oriente, Bartolomeu, patriarca ecumênico de Constantinopla, têm pedido a
todas as Igrejas cristãs que se insiram nessa caminhada de cura da Terra e
ajudem a humanidade a contemplar e respeitar o Espírito presente e atuante na
natureza.
Para a Conferência das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 21), que acontecerá em Paris no final
desse mês, as Igrejas e outras religiões devem se colocar junto com os
movimentos sociais e organizações da sociedade civil internacional no
compromisso de priorizar o que o Papa Francisco chama de "ecologia
integral”. Devemos colaborar na educação de toda a humanidade para restabelecer
a aliança entre o ser humano e todos os outros seres vivos.
Não basta que as religiões
cultivem em seus cultos o cuidado com a Terra, a Água e todos os seres vivos. É
fundamental que esse amor se expresse em termos sociais e políticos. Toda
humanidade deve ser convidada para fazer da vida e da convivência com a Terra
uma experiência de ternura e amor.
Fonte: http://site.adital.com.br
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