Karl Rahner e o método Antropológico-Transcendental – Por José Ivan Lopes
Em meados de 1964, Karl Rahner
foi convidado para substituir o sacerdote, escritor e teólogo Romano Guardini
(1885-1968) na cadeira de Filosofia da religião, na Weltanschauung católica
em Munique.
Logo no início do seu trabalho
naquela universidade, Rahner desenvolveu uma “Introdução ao conceito de
cristianismo”, que mais tarde foi publicado com o nome de Curso
fundamental sobre a fé (1976), sendo considerada a obra mais relevante e
significativa da teologia católica do século XX.
Nenhum outro teólogo do século XX
foi mais familiarizado com as mudanças ocorridas no campo teológico católico do
que Karl Rahner. Foi um teólogo singular que abalou as estruturas do
cristianismo face às outras denominações religiosas. Sua reflexão desperta a
teologia católica para o valor das outras religiões no que se refere à questão
soteriológica.
O autor se revela um intenso
opositor da visão pessimista da história. Introduziu de maneira contundente na
teologia o estatuto de método antropológico-transcendental, que lhe permitiu
incentivar a passagem de uma racionalidade reduzida da cultura secular ao
alargamento para o horizonte mais vasto de uma racionalidade capaz de
reconhecer dialeticamente na modernidade o valor do mistério e da graça de
Deus.
A presente discussão deixa claro
que Rahner, em sua teologia antropocêntrica, se propõe a defender a teoria de
que todos os seres humanos estão abertos a Deus e à sua graça. O homem só se
realiza pessoalmente a partir da sua relação com Deus. Essa relação se dá por
meio de Jesus Cristo como Salvador.
A antropologia rahneriana revela
a chamada receptividade natural do homem a Deus, pois ela do pressuposto do
chamado existente sobrenatural, ou seja, a graça, que, segundo o autor, há em
todos os seres humanos. O ponto de partida para tal construção teórica se
inspira na certeza de que Deus quer a salvação para todos (1Tm 2.4), para tanto
mostra que a fé em Cristo é imprescindível. Lembra ainda que todos podem crer,
pois a graça de Deus atua na existência de todos os seres humanos, até que o
homem ou a mulher sejam atingidos pela boa nova de Jesus.
Para Rahner a graça de Deus, ou
seja, o existencial sobrenatural, operando diuturnamente até mesmo em quem se
afirma ateísta, embora possa possuir fé, esperança e caridade, mesmo que
continuem ateus. Mesmo um ateu não está excluído de receber a salvação, uma vez
que ele não age contrariamente à sua consciência moral.
Segundo Rahner, a própria fé
salvadora. Nesta perspectiva, mesmo quem não tem acesso à Revelação cristã e não
é adepto à Igreja e não recebe os sacramentos, mas busca viver identificado com
a reta consciência e com as determinações divinas, possui a fé cristã, mesmo
sem ter consciência dessa sua realidade. Esta pessoa é definida como cristão
anônimo.
* Mestre em Ciência da Religião
pela PUC Minas. Especialista em Pedagogia Empresarial pela FINOM. Licenciado em
Filosofia pela PUC Minas. Atualmente é Diretor Acadêmico da FINOM.
Fonte: http://paracatu.net
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