O Alto-Comissário para as Migrações defendeu hoje que Portugal tem um "clima de tolerância e diálogo inter-religioso" que pode servir de exemplo a outros países europeus.
"Nestes tempos de
sobressalto, Portugal tem um extraordinário clima de tolerância e diálogo
inter-religioso, o que pode torná-lo exemplar para outros países
europeus", afirmou hoje Pedro Calado, Alto-Comissário para as Migrações, à
agência Lusa.
Falando na Mesquita Central de
Lisboa, momentos antes do início da tertúlia "O autoproclamado Estado
Islâmico, os refugiados e os desafios que se colocam à Europa", Pedro
Calado alertou para a importância de "não confundir agressores e vítimas
no caso dos refugiados, sob pena de estes se tornarem duplamente vítimas".
"Um dos atuais desafios
europeus é equilibrar a segurança com a tolerância, que é um valor
civilizacional a preservar", afirmou o Alto-Comissário para as Migrações à
Lusa, acrescentando que "o grande objetivo destas iniciativas é passar uma
mensagem de serenidade e segurança", nomeadamente face à comunidade
islâmica, atualmente com cerca de 50.000 pessoas em Portugal.
Por seu lado, Emília Lisboa,
coordenadora do Gabinete de Asilo e Refugiados do Serviço de Estrangeiros e
Fronteiras, sublinhou que "não há evidências de que os atentados tenham
sido cometidos por infiltrados integrados na vaga de refugiados, tudo apontando
para indivíduos já residentes na União Europeia", pelo que "não faz
sentido alimentar receios com base em especulações".
"Os refugiados procuram
escapar às violações de direitos humanos, à guerra e ao terrorismo nos seus
países de origem", disse ainda Emília Lisboa à agência Lusa, também a
poucos minutos de intervir na tertúlia organizada pelo Clube de Filosofia
Al-Mu`tamid, da Universidade Lusófona, em parceria com a Comunidade Islâmica de
Lisboa.
Igualmente presente na
iniciativa, Abdool Vakil, presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa,
salientou que "as pessoas questionam o acolhimento dos refugiados, mas
ajudar os necessitados, socorrer os que pedem auxílio, é um gesto muçulmano,
tal como é judaico ou cristão, é um ato de humanidade transversal a várias
religiões".
Em declarações à Lusa, Abdool
Vakil referiu também que "o autoproclamado Estado Islâmico, que usa essa
designação abusivamente, não tem qualquer direito de matar, gesto que é,
inclusive, contrário ao Islão", e deu o exemplo de "termos que estão
a ser deturpados", caso de `jihad`, que significa, na realidade, "o
controlo da alma para resistir às tentações do mal".
Além de Pedro Calado, Emília
Lisboa e Abdool Vakil, estava também prevista na tertúlia a presença de Rui
Pereira, presidente do Observatório de Segurança, Crime Organizado e Terrorismo
e antigo Ministro da Administração Interna, e Ziyaad Yousef, assistente do
ex-presidente norte-americano Jimmy Carter, jornalista da BBC e dirigente da
ONG "Save the Children" em Jerusalém.
A tertúlia, aguardada por cerca
de 70 pessoas, foi antecedida da apresentação do livro "Mais um estranho
na escola", da autoria de Alexandre Honrado e Paulo Mendes Pinto, com
ilustrações de Joana Rita.
O volume é o primeiro de uma
série destinada a explicar as religiões às crianças e que conta já com um
segundo título, "Jesus vive na rua", dos mesmos autores e ilustrado
por Dara Deer.
Também moderador da tertúlia,
Paulo Mendes Pinto, responsável pela área de Ciência das Religiões na
Universidade Lusófona, explicou à Lusa que esta iniciativa, a 18.ª em menos de
dois anos, visa "mostrar que o religioso só faz sentido na sociedade
através do cívico".
Fonte: http://www.rtp.pt
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