Festa da padroeira da Bahia é celebrada por adeptos de diferentes religiões – Por Alexandro Mota
O feriado desta
terça-feira (08/12) marca a celebração pelo dia da padroeira da Bahia, Nossa
Senhora da Conceição.
Ao Comércio,
ponto alto da festa, compareceram pela manhã gerações diferentes de fiéis
e também adeptos de outras religiões. Entre eles, a estudante goiana Alessandra
Rita Almeida, 22 anos, que mora em Salvador e frequenta a seita religiosa do
Santo Daime.
Ela fez orações
e observou os fiéis. “Tenho uma admiração pela virgem, que é chamada assim não
somente por não ter contato sexual, mas por ser uma mulher independente dos
homens. É legal ver a crença das pessoas e o sincretismo", Com contas e
roupa de baiana, a aposentada Lucília Silva, 78, acompanhou o cortejo
reforçando o sincretismo. "A gente agradece a Oxum e a Imaculada
Conceição", afirmou.
Junto com uma
multidão, ela seguiu a procissão após missa campal celebrada, às 9h, pelo
arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Murilo Krieger. Foram percorridos
pouco mais de dois quilômetros, o cortejo passou pelas ruas Miguel Calmon e da
Polônia e retornou pela Avenida da França à Basílica de Nossa Senhora
da Conceição da Praia. O trânsito foi interditado em algumas ruas do
bairro por conta da celebração.
Na frente da
dona da festa, no Comércio, outros santos abriram o caminho para passagem da
homenageada. As imagens de Santa Bárbara, Senhor do Bonfim e São José foram
aplaudidas antes dos fogos, balões brancos e papéis picados que anunciaram a
saída da padroeira da Bahia da igreja para percorrer as ruas do bairro. Um
corredor com fiéis segurando cerca de vinte bandeiras de municípios baianos
contribuíram com o colorido.
Foi só a imagem
da santa deixar a igreja que a aposentada Maria Conceição Amorim, 74, se segurou
no andor e percorreu toda a procissão assim, embaixo da estrutura.
“A minha devoção
vem do coração. Meu pai que escolheu o meu nome, a gente não pode deixar de vir
agradecer as graças”, afirmou.
Também estavam
previstas missas, alvoradas e procissões em homenagem à santa em outras
paróquias da cidade, como em Itapuã, Periperi e Lapinha. Nesses bairros, a
programação se concentra no final da tarde. Em Itapuã, ocorre missa celebrada
por dom Murilo às 16h30, seguida de procissão às 18h.
Crise política
Em seu sermão no Comércio, dom Murilo tocou em temas da atualidade, listou os recentes atentados em Paris, destacou a crise política no Brasil, falou ainda sobre a insegurança e outros problemas relacionados ao tráfico de drogas na capital.
"Vemos a
falta de bom senso de nossos legisladores em buscar o diálogo e em pessoas que
estão apenas buscando o resultado dos seus interesses pessoais”, disse ele
sobre o cenário político. Após listar essas situações, amarrou: “estamos todos
à procura de esperança”.
No final da
missa no Comércio, dom Murilo agradeceu a prefeitura pela estrutura montada
para a festa.
“No ano passado,
tivemos problemas com a fragilidade do palco e tivemos que fazer a missa dentro
da igreja com muitos do lado de fora. A mesma boca que criticou hoje vem
agradecer a prefeitura pela estrutura deste ano”, comentou.
Em 2014, o palco
foi considerado pequeno pela igreja e a segurança da montagem foi questionada.
Na época, o prefeito ACM Neto se desculpou publicamente pela estrutura.
Celebração de fé
Apesar da presença de alguns jovens, a aposentada Marilene da Paixão, 56, sente um esvaziamento da festa a cada ano.
“Os jovens estão
perdendo a fé”, acredita ela, que lembra que houve anos em que teve dificuldade
de entrar na igreja devido ao público e hoje, apesar da aglomeração em frente à
igreja, conseguiu com facilidade levar até a santa as flores azuis que comprou.
De acordo com a Polícia Militar, cerca de 3.500 pessoas participaram da
missa campal e da procissão.
A estimativa foi
informada pelo major Ibrahim de Almeida, comandante 16ª Companhia Independente
da Polícia Militar (CIPM/Comércio). Para quem foi pela primeira
vez na festa, como a dona de casa Maria de Lourdes Souza, 72, a quantidade de
pessoas impressionou.
“Meu coração é
dela, de Maria. Eu moro em Aurelino Leal (Sul do estado) e ela é a
padroeira de lá. Então todo ano, eu estou na festa lá no interior. Essa igreja
aqui é muito linda e são tantas pessoas aqui em uma só fé que é de emocionar”,
disse Maria de Lourdes.
Para os
comerciantes, que montam barracas em frente à igreja, o movimento este ano foi
menor. “Está mais vazio por ter caído um dia de terça-feira, muita gente
viaja. Mas ao longo dos anos, a festa vem enfraquecendo”, afirmou o
comerciante Ademilton Santos, conhecido como Boca. Ele conta que
“religiosamente” vende drinques nas festas de largo da região.
Para o Padre
Adilton Lopes, pároco da basílica, o que tem ocorrido é uma descentralização
das visitas dos fiéis. “São mais de 30 mil pessoas que passam na igreja ao
longo do dia, desde a missa das 5h, logo depois da alvorada, que este ano
estava bastante cheia, até a noite. São várias celebrações”, pondera.
História
A primeira vez que uma imagem de Nossa Senhora da Conceição desembarcou em Salvador em 1549, trazidas pelos jesuítas que acompanhavam o então governador.
No livro: Festas
Populares da Bahia, do jornalista Nelson Cadena, há a lembrança de que o nome
da paróquia ganhou o nome de Conceição da Praia pôr na época o local ainda ser
uma praia, aterrada no início do século XX. Era uma festa de pompa, que exigia
figurino impecável da elite da época.
A festa mudou de
perfil e chegou a um processo de decadência, para os historiadores, a partir do
momento em que houve a mudança do perfil dos moradores na região, a partir dos
anos 40/, com ocupações por pessoas de baixa renda na região da Ladeira da
preguiça.
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