Morro da Conceição acolhe adeptos de diversas religiões no Recife
A dona de casa Luciene da Silva
Tenório, 55 anos, mora na Rua Morro da Conceição e há dez anos deixou de seguir
os preceitos católicos para se converter ao protestantismo.
Hoje frequentadora
da Assembleia de Deus, localizada na mesma rua, ela conta que respeita as
tradições que lhe cercam, em especial nesta época de homenagem à santa.
“Antes a maioria era católica,
mas aí abriu essa Assembleia e depois uma Presbiteriana. Com essas duas igrejas
as pessoas têm buscado mais o evangelho. Mas todos se respeitam e aceitam as
crenças do próximo”, pontuou.
A “ex-católica” ainda aluga a
garagem de sua casa para ser a sede de uma igreja evangélica. Luciene relata
que a festa de Nossa Senhora da Conceição só impede a realização de cultos no
próprio dia 8 de Dezembro por causa do grande fluxo de pessoas no morro.
“Além de prejudicar o dia do
culto, a festa só atrapalha quem mora por aqui, independente da região, no que
diz respeito à circulação dos ônibus e a chegada da água encanada. Fora isso, poderia ter festa todos os dias que eu não me incomodaria”, comentou a dona de
casa.
Já o babalorixá José Bonfim de
Souza, 52 anos, mais conhecido como Pai Bonfim, acredita que as religiões
católica e de matriz africana, como umbanda e candomblé, são mais próximas do
que a maioria dos fiéis imagina. Há cerca de 15 anos os adeptos do candomblé de
todo Estado saudavam a imagem de Nossa Senhora da Conceição, no Morro do
Recife, como se a mesma representasse Iemanjá, celebrada na mesma data. Com o
tempo, no entanto, esse espaço foi sendo tolhido e as oferendas à imagem
reduzindo.
“Esse sincretismo vem do tempo dos escravos, quando eles não podiam adorar seus orixás e faziam suas homenagens aos santos católicos, mas na verdade estavam rezando para as divindades do Candomblé. Esse costume era reproduzido aqui no Morro da Conceição, mas agora nós não podemos mais fazer nossos rituais. Sentimos falta, mas temos que lutar contra essa resistência”, explicou o pai Bonfim.
“Esse sincretismo vem do tempo dos escravos, quando eles não podiam adorar seus orixás e faziam suas homenagens aos santos católicos, mas na verdade estavam rezando para as divindades do Candomblé. Esse costume era reproduzido aqui no Morro da Conceição, mas agora nós não podemos mais fazer nossos rituais. Sentimos falta, mas temos que lutar contra essa resistência”, explicou o pai Bonfim.
Apesar das restrições, o
babalorixá acredita que a proximidade com a santa torna as pessoas mais
espiritualizadas, o que reduz a intolerância religiosa na região. No local,
inclusive, existem apenas dois terreiros de candomblé, os quais são respeitados
pelos demais moradores do Morro da Conceição.
“Não vou dizer que não tem
discriminação por causa da nossa religião, mas nós percebemos que aqui as
pessoas respeitam quem segue as religiões de matriz africana”, pontuou o
religioso.
Festa de Iemanjá
Este ano o Projeto Orixamar ganha
2ª edição nesta terça-feira (08/12), dia de celebrar Iemanjá para os adeptos
das religiões de matriz africanas. O evento promoverá shows, palestras,
degustação gratuita de comidas de santo e a reunião de 14 terreiros de
candomblé na praia de Barra de Jangada, em Jaboatão dos Guararapes. Milhares de
pessoas são esperadas para a manifestação religiosa.
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