Cânticos e palavras de manifesto ecoam durante I Caminhada das Bandeiras de Matriz Africana – Por Rita Torrinha
Centenas de pessoas participaram
da caminhada, no centro de Macapá, em defesa da liberdade religiosa, na tarde
de quinta-feira, 21/01.
Funcionários do Instituto
Municipal de Políticas para Promoção da Igualdade Racial (Improir) também
integraram o evento que, independente do credo, fez com que todos vestissem
branco para pedir o fim da Intolerância Religiosa.
Durante todo o trajeto (com saída
da Praça Barão do Rio Branco, descendo a Cândido Mendes em direção ao Trapiche
Eliezer Levy), grupos religiosos de matriz africana lideraram a caminhada com
cânticos e palavras de manifesto, pedindo respeito e paz.
Antes de iniciar o percurso,
ainda na Praça Barão, representantes de diferentes religiões, autoridades
públicas, professores e doutores manifestaram suas impressões sobre a
realização dessa que foi a I Caminhada das Bandeiras de Matriz Africana – Diga
Não à Intolerância Religiosa.
Sacerdotisa da primeira casa Mina
Nagô do Amapá, que se tem conhecimento, onde soaram os primeiros toques de
tambor da religião, em 1962, mãe Jaguarema Moreira fez um apelo.
“Queremos ser respeitados como
respeitamos toda forma de credo e crença. Não atacamos ninguém, não ferimos
ninguém, só queremos ter garantido que nossos rituais e tudo aquilo em que
acreditamos possam ser realizados sem qualquer agressão, porque o que
propagamos é a paz e não a guerra. Mas, para que isso aconteça, é necessário
que a sociedade busque entender ainda mais sobre as diferentes religiões e
compreenda que todos têm um único Deus”.
O professor Maurício Pascoal foi
batizado na Igreja Católica e se considera fiel dedicado, mas fez questão de
participar da caminhada e destacou que o desrespeito ao diferente nasce da
falta de conhecimento.
“Acredito muito na diversidade
cultural e religiosa da qual o nosso povo brasileiro foi formado. Devemos muito
as matrizes africanas e a matriz indígena em nossa formação. Temos o dever de
respeitá-los. Não admito que a verdade esteja em uma só pessoa, em uma só
religião. A verdade está dentro de cada um de nós, por isso estou aqui e
estarei sempre, defendendo as diferenças que nos tornam irmãos, porque a
intolerância nasce da ignorância”.
Uma das coordenadoras da
caminhada, Mãe Nina, agradeceu pelo momento. “Nas nossas casas a gente presta
um serviço à comunidade, damos o nosso axé. Precisamos desse respeito perante a
sociedade e agradecemos a todos que estão aqui de boa fé”.
O presidente em exercício do
Improir, Adlan Bismarck, deixou seu recado, reforçando a união como ponto
fundamental de fortalecimento em busca de igualdade.
“Hoje celebramos a paz entre as
religiões, e nós, enquanto poder público e de promoção da igualdade racial,
estamos de peito aberto, caminhando de mãos dadas, porque somente juntos
podemos combater atos de preconceito e racismo. Juntos podemos mudar a realidade
que vive as casas de terreiro, os sacerdotes, e buscarmos uma sociedade mais
igualitária e justa”.
O número de pessoas que
acompanhou a caminhada ainda é pequeno diante da quantidade de casas de
religiões afro que se têm conhecimento. São mais de 300, somente em Macapá. No
entanto, para os líderes religiosos, a semente foi plantada e vingará pelos
próximos eventos.
“Se conseguirmos, em cada ato
como este, mudar o coração de uma, duas pessoas, já é válido. Queremos mostrar
à sociedade que este sentimento de medo em relação às nossas religiões é
herança de um Brasil preconceituoso, aonde tudo o que vem do negro não é bom.
Nossa luta é contra a intolerância religiosa, mas, principalmente, contra o
racismo, que é o que gera toda a forma de ódio”, deixou seu recado o pai
Moraes, sacerdote candomblecista.
Terminadas as falas, o encontro
que mobilizou casas de terreiros, templos afro religiosos, integrantes de
Marabaixo, do hip-hop, da capoeira, gente de todas as classes, idades e
diferentes religiões seguiu em marcha pelo centro de Macapá.
Na linha de frente, as enormes
bandeiras das casas de terreiro balançaram ao vento, anunciando que Macapá
também está se fortalecendo para exigir seus direitos. Ao chegar ao Trapiche
Eliezer Levy, o movimento continuou com rituais místicos, rodas de cantigas, de
Marabaixo e de capoeira.
Fonte: http://chicoterra.com
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