Uma festa religiosa chamada Carnaval - Por Jarbas Aragão
Ligações com religião
afro-brasileira ficam evidentes nas ruas.
Embora o nome remeta à “festa da
carne”, o Carnaval (do latim: “carne vale”) é uma festa espiritual desde sua
origem. Acredita-se que se originou na Grécia. Nas festas os gregos realizavam
seus cultos em agradecimento aos deuses pela fertilidade do solo e pela
produção.
Com a cristianização do mundo, a
Igreja Católica “adotou” o evento no ano 590. Seu final, a “Quarta-feira de
cinzas” deveria ser um dia de contrição e marca o início da Quaresma. O carnaval moderno tinha seu
principal expoente durante o século XIX na cidade de Paris, de onde se espalhou
por toda Europa.
Mas foi no Brasil que se originaram os desfiles de escolas de
samba. O carnaval do Rio de Janeiro está no Guinness Book como o maior carnaval
do mundo. Em 1995, o Guinness declarou o Galo da Madrugada, da cidade do
Recife, como o maior bloco de carnaval do mundo.
Em 2016, a atriz Viviane Araújo
reacendeu uma discussão sobre a relação do Carnaval brasileiro e as religiões
afro-brasileiras. Durante os ensaios da escola de
samba Salgueiro, da qual ela é “rainha de bateria”, pareceu ter incorporado a
Pomba-gira, entidade também chamada de Maria Padilha da umbanda. O enredo da
Salgueiro este ano mostrará vários dos espíritos invocados no candomblé.
A atriz negou que tenha
incorporado, mas justificou: “Eu respeito e admiro muito o espiritismo. Mas o
que eu estava fazendo ali era apenas a interpretação de uma personagem. É claro
que, por ser uma figura que é da umbanda ou do candomblé, que seja, as pessoas
que são dessa religião vão se manifestar a favor e as que não são vão ser
contra… Estamos falando de carnaval e não de religião ou intolerância, nada
disso”.
Segundo reportagem da rede Band,
este ano a escola de samba Estácio de Sá terá como enredo São Jorge. O
presidente da escola, Leziário Nascimento, levou a ideia ao cardeal arcebispo
dom Orani Tempesta.
Além do arcebispo, membros da
Cúria visitaram o barracão da Estácio e disseram que está tudo “de acordo
com as orientações da Arquidiocese”. Essas orientações são duas: as
imagens do santo deveriam estar estilizadas e nada de nudez. Sincretizações não
foram vetadas. Ou seja, nenhum problema em dizer que São Jorge e Ogum são a
mesma coisa.
No Recife, a abertura do Carnaval
ocorreu na sexta (05/02). É quando o cortejo de maracatus faz uma procissão
religiosa com os diversos grupos, chamados de nações, marchando (a maioria
descalços).
Para Wanessa Paula Santos,
presidente da nação Nação Cambinda Estrela, fundada em 1935, a questão
religiosa está muito presente no maracatu. Conta que só os batizados nas
religiões de matriz africana podem ocupar os cargos de alta patente, como a
“Dama do Paço” e o “Rei”.
Nos desfiles deste sábado em São
Paulo, a escola Águia de Ouro trouxe um enredo sobre a Virgem Maria. O desfile
mostrou vários elementos religiosos, em especial as imagens da Nossa Senhora,
tendo ainda uma encenação teatral do flagelo de Cristo. A atriz Nicete Bruno no
papel da mãe de Jesus. Segundo os jornalistas que cobriram a primeira noite,
“parecia uma procissão de fé”.
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