AfD quer incluir posição anti-islã em seu programa partidário
Esboço de programa da Alternativa
para a Alemanha traça imagem da religião como ameaça universal, aproveitando-se
de temores difundidos contra o islã para angariar votos. Demais partidos e
associação islâmica reagem.
Se dependesse do partido
populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), minaretes e muçulmanas
cobertas de véus desapareceriam do país. Também o canto dos muezins, que, de qualquer
forma, quase não se ouve em território alemão, deveria ser proibido.
"O islã não faz parte da
Alemanha", consta no esboço para um novo programa de princípios
partidários da AfD. A vice-presidente da legenda, Beatrix von Storch, vai ainda
mais longe: "O islã, em si, é uma ideologia política incompatível com a
Lei Fundamental [Constituição] alemã."
Na edição de domingo do
Frankfurter Allgemeine Zeitung, ela e o segundo vice da AfD, Alexander Gauland,
apresentaram o curso político do partido. Para Gauland, o islamismo seria um
"corpo estranho" na República Federal da Alemanha, "sempre
relacionado intelectualmente à tomada do Estado", acrescentou, sem
apresentar provas para tal afirmativa.
O esboço de programa de duas
páginas e meia será votado no início de maio em Stuttgart. Ele não apenas
contém o rechaço a uma "sociedade paralela", com juízes norteados
pela sharia (a lei islâmica) e ao salafismo de tendência violenta, como também
propõe o fechamento das escolas corânicas. Igualmente descartada fica a equiparação
legal de organizações islâmicas a igrejas.
Suposta ameaça universal
Numa entrevista à emissora DLF, o
líder da AfD no estado da Renânia-Palatinado, Uwe Junge, reforçou: "O islã
é uma religião política. Ele não tem essa reserva, que normalmente esperamos de
uma religião, de se manter fora da política."
Seu partido não é contra todos os
muçulmanos, ressalvou Junge: ele não se refere aos que "conquistaram seu
lugar em nossa sociedade através da assimilação, da integração". Mas,
afinal, existe também outro islã, voltado contra tudo o que compõe a ordem
fundamental liberal-democrática, afirmou Junge. Esse islã seria intolerante,
avesso à liberdade de opinião e à igualdade de homens e mulheres.
Em sua explanação, o político não
se deu ao trabalho de esclarecer o que seria a regra e o que seria a exceção.
Com isso, ele reforça a imagem de uma religião que supostamente constitui uma
ameaça universal.
Partidos reagem
As afirmações do Alternativa para
a Alemanha alarmaram os demais partidos do país. Falando ao diário
Rhein-Neckar-Zeitung, Armin Laschet, vice-presidente da governista União
Democrata Cristã (CDU), frisa que campanhas eleitorais voltadas contra
religiões são um fenômeno novo, que "dividiria o país".
Também o vice-presidente da
bancada parlamentar do Partido Verde, Konstantin von Notz, acusa a AfD de
apostar intencionalmente numa divisão da sociedade, e de procurar atrair
eleitores representando o islã como encarnação do inimigo.
Kerstin Griese, encarregada para
assuntos religiosos do Partido Social-Democrata (SPD), também da coalizão
governamental, rebate que bem mais de 90% dos muçulmanos no país respeitam os
preceitos constitucionais. Portanto não se podem tirar conclusões sobre toda
uma comunidade religiosa com base em uns poucos grupos extremistas, apela.
Generalizações como estratégia
eleitoral
Não é a primeira vez que a AfD
apela para generalizações com o fim de ganhar espaço. Nas últimas eleições, ele
garantiu um maior apoio do eleitorado com sua crítica ao posicionamento do
governo da chanceler federal Angela Merkel na questão dos refugiados. Alarmados
pelo afluxo descontrolado de centenas de milhares de migrantes, muitos
eleitores de fato escolheram a legenda que defende um isolamento rigoroso da
Alemanha.
Nas eleições estaduais de março
deste ano, os populistas de direita alcançaram 15% dos votos em
Baden-Württemberg e quase 13% na Renânia-Palatinado. Na Saxônia-Anhalt, com
24%, a AfD consagrou-se até mesmo como segunda legenda mais forte.
No entanto, o número de
refugiados vem caindo rapidamente, sobretudo graças a medidas polêmicas nos
níveis nacional e da União Europeia. Junge refuta a acusação de que seu partido
só teria "descoberto" o islamismo agora como tema central, pelo fato
de a crise do euro e os refugiados ocuparem cada vez menos as manchetes.
"O islã é um tema constante, que nós naturalmente tematizamos em conexão
com a crise dos refugiados", alegou.
Islamofobia já existia
Para o presidente do Conselho
Central dos Muçulmanos da Alemanha, Aiman Mazyek, a AfD simplesmente lança mão
de reservas há muito difundidas. "Não é que esse partido tenha inventado
essa islamofobia: ele só nada nessa onda que já existe na nossa
sociedade", afirmou à emissora NDR.
"É a primeira vez, desde a
Alemanha de Hitler, que um partido volta a desacreditar toda uma comunidade
religiosa e a ameaçá-la em sua existência", condenou o representante
islâmico, indiretamente traçando um paralelo com o partido nazista.
Por outro lado, Mazyek está
convencido de que os estrategistas do grupo ultradireitista não visam os
muçulmanos em primeira linha. "Estaríamos caindo na cilada do partido, se
acreditássemos que o foco é realmente o islã." A intenção real da AfD
seria, antes, minar a ordem liberal-democrática, ao atacar a liberdade de
religião, assegura.
Fonte: http://noticias.terra.com.br
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