Ensino religioso conquista os alunos- Por Priscilla Castro
Português, matemática e ciências são matérias obrigatórias na grade curricular de qualquer aluno. Do 1º ao 9º ano, crianças e adolescentes estudam as mais diferentes disciplinas e exercitam atividades para auxiliar no aprendizado do que vai servir para o futuro vestibular. Essas práticas são obrigações, ou seja, ninguém pode escolher se quer ou não estudar.
No entanto, nem tudo é compulsório dentro das salas de aula e um tema que vem ganhando destaque e interesse dos jovens é exatamente um que eles podem escolher: o ensino religioso. Obrigatório às escolas públicas e particulares de Ensino Fundamental desde 1997, mas facultativo aos alunos, o ensino religioso está conquistando a adesão dentro das salas de aula. Os estudantes se mostram interessados não só em conhecer outras crenças, mas também em entender como a religião funciona na vida de cada um.
Segundo os professores, as turmas são completamente preenchidas pelos alunos que passam a reconhecer a importância do tema. “Desinteresse existe em todas as aulas, mas no ensino religioso é pouco porque essa ciência desperta a curiosidade deles”, contou o professor Janilson Gomes. Teoricamente o ensino não possui caráter discriminatório ou foco em religiões. Ou seja, pessoas com qualquer crença, e até mesmo aqueles que não acreditam na presença de um poder maior, podem instruir-se na disciplina. Pelo menos é o que determina a Lei do Ensino Religioso, Lei 9.475/97: “O ensino religioso (...) constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo”.
Segundo a presidente da comissão de Ensino Religioso da Secretaria Estadual de Educação do RN (SEEEC), Maria Augusta de Souza, todos os sistemas de ensino têm a obrigação de tratar essa área como as demais, embora o trato da disciplina tenha características específicas. “A operacionalização do ensino religioso deve ser feito numa visão pluralista para que o aluno se conecte com o seu sagrado. O professor chega à sala, enxerga a pluralidade que existe ali e forma sua aula”, garantiu. A disciplina ainda é desconhecida por muitos que não entendem os assuntos e eixos tratados em sala de aula. Se não estudam as doutrinas de uma determinada religião, o que os alunos aprendem? Segundo os cientistas da religião, o foco é a dimensão da fé na vida de cada um, é mostrado como ele pode influenciar nas escolhas e decisões do indivíduo e, também, se aprende doutrinas das religiões maiores. E a matéria não é pouca, são necessários nove anos de estudo para entender toda a complexidade da religião. No RN, o ensino é feito sobre cinco eixos temáticos: cultura e tradição religiosa, escrituras sagradas, teologia, ritos e Ethos.
Muitos alunos, mesmo os que admitem não serem apaixonados pela disciplina, reconhecem a importância do tema. “Eu assisto às aulas, mas gosto mais ou menos desse tema. Como eu não tenho religião, eu acabo não me interessando muito, mas acho que é necessária porque o aluno conhece sobre outras religiões também”, disse a estudante do sétimo ano Amanda Vitória. A aluna Joyce Renata, do sexto ano, é evangélica e diz ter a disciplina como base. “Fala sobre fraternidade, versículos, cidadania, temas gerais”.
Falta corpo docente especializado
Na rede pública, o Ensino Fundamental é atribuição de estado e município. Portanto, todas as escolas, do 1ª ao 9ª ano, sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Educação de Natal (SME) e da Secretaria Estadual de Educação e Cultura do RN (SEEC) devem obrigatoriamente oferecer a disciplina. Ambas as coordenações de ensino religioso garantem que o salário oferecido a esses docentes é o mesmo pago aos professores de outras matérias. A diferença é que, segundo a coordenadora da disciplina na rede municipal, Socorro Oliveira, o ensino religioso está garantido pelos 60 professores formados em ciências da religião que compõem o quadro, enquanto que na rede estadual, a carência no número e na qualidade desses docentes ainda traz dificuldades para o bom ensino. “Muitos dos que ensinam hoje são estagiários e bolsistas que ainda estudam ciências da religião ou professores de outras áreas que, infelizmente, complementam a carga horária com o ensino religioso”, admitiu a presidente da comissão de Ensino Religioso da SEEC, Maria Augusta de Souza.
Na Escola Estadual Calazans Pinheiro, por exemplo, das nove séries que precisam receber a disciplina, apenas duas turmas assistem às aulas, e apenas porque a professora de inglês Cândida Melo precisa complementar a carga horária necessária. Sem formação específica na área, ela pediu ajuda a professora de história que ensinou a disciplina no ano passado, Edilma Alves. “Eu pedi sugestão à turma de temas que eles gostariam de discutir em sala de aula, fiz uma pesquisa sobre os assuntos e trouxe para sala de aula. Nós tentamos trabalhar temas gerais e transversais que não foquem em uma religião específica”, contou Edilma, que é evangélica mas garante que é neutra no ensino. O quadro ainda não pôde ser aperfeiçoado devido a problemas estruturais da Secretaria. “O último concurso foi realizado em 2006, mas alguns aprovados não foram convocados. “Não se pôde chamar todos por problemas estruturais da Secretaria, mas o déficit ainda é alto. Nós temos 180 professores hoje e precisamos de muito mais e com formação especializada”, disse Maria Augusta. No RN, apenas a UERN oferece o curso de licenciatura em ciências da religião, que habilita o aluno a ensinar a disciplina. A confusão com o curso de teologia é comum e os alunos que estudam para ensinar dizem ser vítimas do preconceito. “Muita gente pergunta se nós estamos estudando para ser freira ou pastor, se vamos ensinar os padres e não é assim”, contou a aluna Aline Bruna.
Fonte: http://tribunadonorte.com.br
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