Depois de 25 anos de sua morte, Drummond é tido como um dos maiores poetas do século 20 – por Amanda Serra
No aniversário de 25 anos de sua
morte, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), o “poeta que não queria ser
moderno, mas eterno”, é lembrado como um dos maiores escritores contemporâneos,
por conta da simplicidade, clareza e dramaticidade de sua obra.
"O Drummond é um dos maiores
poetas do século 20. Ele não é importante apenas para o país, mas para o
mundo”, afirma o jornalista Flávio Moura ao UOL, responsável pela
homenagem ao escritor na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) deste
ano.
Com mais de 40 títulos, entre
poesias, ensaios, crônicas e artigos, publicados e a maioria traduzida para
países como Alemanha, Argentina, Cuba, Chile, Espanha, Estados Unidos, França,
Dinamarca, Holanda, Inglaterra, Itália, Noruega, Suécia, Peru, Portugal e
Tchecoslováquia, o mineiro completaria 110 anos em outubro deste ano, senão
tivesse falecido em 17 de agosto de 1987, vítima de problemas cardíacos.
Para o poeta, crítico e professor
de literatura brasileira da Universidade de São Paulo (USP) Alcides Villaça, a
efeméride pouco importa.
“Cento e dez anos não quer dizer nada, quanto ao
legado gigantesco de Drummond. Sua importância como poeta já ultrapassou os
limites nacionais, universalizando-se e consagrando sua poesia como uma das
mais expressivas e representativas”.
Faces
Alcides conta que Drummond era capaz de abrigar diversas facetas, que vão da irônica, passando pela confidencial, à especulativa e comovida, além das muitas variações de humor. Assim ele exorcizava sua solidão frente aos excessos do mundo e de sua desconfiança profunda pelo moderno.
“As faces se misturam,
compõem uma personalidade complexa e miram-se para um espelho de altas
exigências. Esse espelho serve para todos”, analisa o crítico.
Obra
Inspirada pelo Brasil da década de 50, que buscava o progresso, pelas consequências da Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), pela Ditadura Militar brasileira (1964-1985), a poesia do escritor de Itabira (MG) oscila entre a roça e o elevador, entre o mítico e o cotidiano, entre o clássico e a experimentação.
“A relativização dos valores e dos dogmas, temas principais de
quem considera a modernidade, é uma força da obra de Drummond”, explica o
professor Alcides. "Ele não parecia alimentar qualquer ilusão quanto à
evolução humana”.
Reservado e desinteressado pela fama, o funcionário público preferia se comunicar por cartas com os amigos, como fez por muitos anos com o escritor paulistano Mário de Andrade.
“Ele
parecia gostar de gente como gostava do mundo; de preferência mediado por
palavras. Exceção feita às moças bonitas, claro”, justifica Alcides em
referência à paixão que Drummond mantinha pelas mulheres.
Casado com Dolores Dutra de
Morais por mais de 60 anos, até sua morte em agosto de 1987, Drummond manteve
um caso com Lygia Fernandes, sua amante por 36 anos. O romance era conhecido
por todos, mas nunca foi assumido pelo poeta.
Comentários