Estudo do IP aponta que umbanda e santo daime influenciam saúde mental e física – Por Mariana Grazini
Estudo realizado no Instituto de
Psicologia (IP) da USP apresentou a relação entre religiosidade e saúde ao
analisar duas religiões brasileiras: Santo Daime, que faz uso sacramental da
bebida psicoativa Ayahuasca, e a Umbanda, ambas com rituais fundamentados em
práticas de estados diferenciados de consciência.
A psicanalista Suely Mizumoto, em
sua dissertação de mestrado Dissociação, religiosidade e saúde: um estudo no
Santo Daime e na Umbanda, fez suas observações a partir das condições de saúde e de indicadores de
bem estar psicológico e social dos membros envolvidos na pesquisa.
Constatações
Entre diversas constatações,
adeptos do Santo Daime e da Umbanda apresentaram diferenças significativas
quanto à redução da frequência de mudanças de humor e de sentimentos contraditórios,
e quanto ao aumento de domínio sobre essas alterações. As diferenças foram baseadas nas experiências
anteriores e posteriores à participação nos rituais de cada religião.
Quando
comparados a um grupo controle, os adeptos mostraram ter maior equilíbrio de
humor e emoção. Os praticantes do Santo Daime ainda revelaram ter maior domínio
sobre quadros de base depressiva. Já na Umbanda, o aumento de domínio foi mais
aparente em experiências de alteração de identidade.
A comunidade religiosa, provedora
de apoio emocional, material e afetivo, pode também ser compreendida como uma
comunidade terapêutica para as condições psicológicas estressantes.
Os adeptos
podem encontrar em suas comunidades suporte em momentos de fragilidade. É comum
a quem desconhece a questão do transe mediúnico temer algum tipo de aumento na
mediunidade ou descontrole. No entanto, Suely diz que, na verdade, o
aprendizado que essas religiões proporcionam podem ensinar seus adeptos a ter
um domínio maior quanto ao enfrentamento espiritual dessas questões, diminuindo
experiências mediúnicas traumatizantes.
Ayahuasca
A dissertação de Suely ainda
tratou da polêmica em torno da utilização do psicoativo Ayahuasca. Geralmente
condenado, o uso do psicodélico mostrou associar a experiência de cura
espiritual desfrutada por participar aos rituais a mudanças no estilo de vida
dos usuários.
A ruptura de velhos padrões com a adoção de outros novos e
saudáveis causou reflexo no combate ao risco de dependências da nicotina,
álcool, cannabis sativa e cocaína. O ritual com aAyahuasca aumentou, em altas
porcentagens, a recuperação declarada quanto ao abuso e risco de dependência
para usuários das substâncias citadas.
Na esfera da afetividade, a
Ayahuasca serviu como uma espécie de antidepressivo, ou como a psicóloga conta,
aqueles que faziam parte dos rituais com o psicoativo diziam ter os períodos
muito longos de tristeza cada vez menores e mais raros, como se a Ayahuasca
fosse equivalente a um banho de serotonina. Segundo Suely, é possível que a busca
por uma religião que faça uso da ayahuasca possa resultar em efeitos
terapêuticos para aqueles vulneráveis a quadros bipolares ou à depressão.
Método e alguns dos resultados
A dissertação contou com a
orientação do professor Wellington Zangari e foi baseada em questionários e
escalas aplicadas a um grupo de 106 pessoas; 42 dos voluntários eram adeptos do
Santo Daime, 44 da Umbanda e houve também o grupo controle composto por 20
pessoas.
O grupo controle serviu para comparar a influência da religiosidade
nos participantes. Além disso, tanto no grupo de Santo Daime como no de Umbanda
havia a presença de praticantes novatos e experientes.
A psicóloga empregou um
questionário que abordava o perfil social, a religiosidade e a saúde, tanto
física como mental, dos voluntários. Dados sociodemográficos evidenciaram
poucas diferenças entre os grupos, principalmente entre gênero, idade, grau de
instrução, faixa salarial e condição de moradia.
Os resultados obtidos dos
perfis sociais, saúde e religiosidade e das escalas revelaram indicadores de
bem estar que confirmam índices de saúde inteiramente satisfatórios e até
melhores quando comparados aos resultados do grupo controle, relata a
pesquisadora.
Contribuições
Não há, até o momento, a precisão
da verificação dos resultados apresentados e correlacionados nas comunidades
estudadas. Com o tema de sua dissertação, Suely espera incentivar os estudos
acerca do psicoativo Ayahuasca e os benefícios a ele associados, em especial,
ao seu potencial terapêutico para o tratamento de dependências. Ela buscou
amenizar os preconceitos com as religiões afro brasileiras.
A Umbanda é um
exemplo de religião que trabalha exclusivamente na arte do ensino da prática
mediúnica, não faz uso de psicoativos, mas mesmo assim pode ser não bem
interpretada. Não havendo nocividade nestas práticas, a relação entre religião
e saúde, mais bem esclarecida por esta pesquisa, pode ajudar a desconstruir
muito do senso comum que envolve a religiosidade no País.
Mais informações: email
suely_mizumoto@yahoo.com.br, com Suely Mizumoto
Fonte: http://www.salariominimo.net
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