Mulçumanos mancham mais uma vez a imagem de uma religião com estigma de violenta, sectária e intolerante
Civis socorrem embaixador
americano na Líbia, que morreu em um ataque contra o consulado dos EUA
Qualquer que possa ter sido o
pretexto, e existem várias hipóteses sobre isso, os homens que assassinaram o
embaixador dos Estados Unidos na Líbia deram um golpe no islamismo e em seu
país. Coveiros de sua fé e de seu próprio futuro.
Na primeira versão dos
acontecimentos do dia, o ataque ao consulado americano em Benghazi, no leste do
país, faria parte de um movimento de protesto contra um filme americano que
insulta o islamismo. Destacando-se dos manifestantes, um comando armado de
fuzis de assalto e de lança-foguetes entrou no consulado e abriu fogo. O
embaixador Christopher Stevens foi morto, assim como três outros americanos.
Os manifestantes condenavam os
trechos de um filme – "A Inocência dos Muçulmanos" - divulgado na
internet no aniversário dos atentados do 11 de Setembro. Produzido na
Califórnia por um incorporador imobiliário israelense-americano, o filme chama
o islamismo de "câncer". Ele retrata o profeta Maomé com traços de
especial vulgaridade.
A divulgação desses trechos no
YouTube foi feita intencionalmente por seu autor-diretor, que atende pelo
pseudônimo de Sam Bacile. Ela foi seguida de uma violenta manifestação contra a
embaixada dos Estados Unidos no Cairo, além de passeatas de protesto no
Marrocos, na Tunísia, no Sudão e no Iêmen.
Se ele pertence a esse conjunto
de reações, a chacina de Benghazi faz parte de uma longa série criminosa que
contribuiu muito para dar ao islamismo a imagem de uma religião de violência
sectária e de intolerância. Isso vai desde o apelo lançado pelo Irã nos anos
1980 para matar o escritor Salman Rushdie até as ameaças proferidas contra um
ou outro caricaturista do profeta Maomé.
Cineasta quis expor falhas do
Islã em filme que causou ataque a consulado dos EUA na Líbia
Hillary Clinton, a secretária de
Estado, disse muito bem: "Os Estados Unidos lamentam qualquer ataque à
religião dos outros, mas que fique bem claro que nada, nenhuma justificativa,
pode desculpar atos de violência desse gênero".
O debate que pode haver sobre o
impacto na internet ou na questão dos limites a ser dado à liberdade de
expressão vem depois - só depois. E, caso ocorra, ele não poderia atenuar em
nada a condenação a esse tipo de violência.
As autoridades americanas
seguiram outra pista. O ataque ao consulado teria sido planejado há muito
tempo. O comando teria aproveitado a manifestação para agir, e pertenceria ao
movimento islamita mais radical, identificado como uma "franquia" da
Al-Qaeda.
O resultado é o mesmo. Levados
por uma ortodoxia delirante de uma guerra a ser conduzida "contra os
judeus e os cruzados", os jihadistas matam em nome de uma religião cuja
imagem eles mancham continuamente. No Estado desordenado da Líbia pós-Gaddafi,
é possível imaginá-los aliados com alguns partidários do antigo regime para
semear a morte e o caos.
É próprio das ditaduras mais
cruéis deixar como legado sociedades exauridas, uma vez abatidas. E que levam
tempo para se recompor.
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