Público lota a Igreja da Sé, em Olinda, para a abertura da MIMO – Por Gabriela Alcântara

Mostra de cinema exibiu o longa:
 
 'Futuro do pretérito: Tropicalismo now!'

O público lotou o pátio da Igreja da Sé, em Olinda, na noite da quarta-feira (5), quando aconteceu a abertura da etapa olindense da MIMO 2012. A noite começou com a mostra de cinema do festival, que exibiu o longa "Futuro do pretérito: Tropicalismo now!", de Ninho Moraes e Francisco César Filho.
 
Como a sessão acontece ao ar livre, o público se dividia entre espectadores atentos e aqueles que usavam as cadeiras do espaço apenas para sentar junto dos amigos e bater um papo. Mesmo assim, tinha gente em pé ou sentada na ladeira para assistir ao primeiro longa do festival, que segue até domingo (9).
 
Na tela, o filme de Moraes e César Filho parecia se encaixar perfeitamente com o clima do lugar: despudorado, o documentário foge do habitual e incorpora o clima da tropicália.

Fugindo do posto de documento sobre o Tropicalismo, "Futuro do pretérito" traz o movimento para os dias de hoje, numa espécie de antropofagia de uma cultura já antropofágica. Misturados aos depoimentos de estudiosos como José Miguel Wisnik e do próprio Gilberto Gil, um show de André Abujamra (filmado no Teatro Oficina especialmente para o longa) e esquetes de alguns atores juntam ficção e documentário em um clima bem interessante.
 
Dentro disso, a participação de Gero Camilo e da atriz Alice Braga, que se transforma na Lindoneia de Caetano Veloso, são a representação da bela poesia tropicalista.

Para os que sentiram a falta de mais depoimentos dos próprios artistas - Caetano, Mutantes e Tom Zé não aparecem no filme - Moraes chegou a comentar o assunto no Festival de Cinema de Gramado, lembrando que a intenção não é dar uma aula sobre o movimento.
 
A voz de Caetano, no entanto, está presente nos trechos de "Verdade Tropical", que são citados pelos atores e entrevistados. E mesmo sem a presença de nomes tão importantes, o filme cumpre sua proposta, e traz bons momentos, como a participação de Luiz Caldas, que canta "Marginália", de Gil, ou ainda quando Gero Camilo entra em cena no palco do Uzyna Uzona e recita um trecho de seu "Manifesto Antroprofágico".
 
O longa é, enfim, um belo retrato de um movimento e seu impacto nos dias de hoje, aguçando a curiosidade do público quanto ao Tropicalismo e possivelmente complementando o filme "Tropicália", de Marcelo Machado, que também estreia este ano. Quem não pôde assisti-lo nessa quarta terá uma nova chance na quinta (6), quando ele passa no Mercado da Ribeira, às 16h.

Suavidade e jazz

Completando a belíssima noite de abertura da MIMO, os músicos Richard Bona, Sylvain Luc e Marcos Suzano emocionaram e divertiram o público que conseguiu assistir ao concerto da Sé. Com os ingressos esgotados, a fila chegou a dar a volta na lateral da igreja, mas a espera de mais de uma hora não foi em vão. Dono de uma voz suave e de uma simpatia sem tamanho, Bona encheu todos os espaços do local com seu baixo e seu canto.
 
Acompanhado pelo guitarrista Sylvain Luc e pelo percussionista Marcos Suzano, o músico - que é de Camarões - trouxe para Olinda um jazz delicioso e hipnotizante. No início do concerto, os três músicos demonstraram toda a sua habilidade, com arranjos perfeitos e um pouco da obra de Luc e Bona.


Misturando idiomas, o músico emocionou o público em diversos momentos. O mais marcante foi, possivelmente, quando ele entoou uma música sozinho, na língua nativa de Camarões, duala, sem amigos ou instrumentos, e o público ouviu em silêncio, respiração suspensa. A sensação de magia durou e até que o próprio Bona brincou, olhando para um relógio imaginário para ver por quanto tempo conseguiria segurar uma nota, arrancando risadas dos presentes.
 
Um pouco depois, ele arranhou um português cheio de caras e bocas, explicando logo ao público que, para ter coragem de cantar na língua pouco conhecida, foi preciso tomar uns goles de cachaça. Mesmo com sotaque forte e por vezes difícil de compreender, Bona cantou "A Felicidade" de Tom Jobim, além de "Assum Preto" e "Asa Branca", de Luiz Gonzaga, sendo acompanhado por um coro de toda a igreja.
 

 

 

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