Banco de Portugal apresenta igreja que receberá o Museu do Dinheiro - Por Alexandra Prado Coelho
Onde antes estavam encaixadas
casas-fortes cheias de dinheiro surge agora o que resta de um antigo altar-mor.
Onde anteriormente estacionavam carros, abre-se agora, clara e limpa, a nave
principal do templo - depois de mais de dois anos de trabalhos, o Banco de
Portugal apresentou ontem a convidados a obra de recuperação da antiga Igreja
de São Julião, na Baixa de Lisboa.
O edifício, que durante anos
serviu de armazém do Banco de Portugal, sendo violentado de diversas maneiras,
foi agora recuperado com um projecto dos arquitectos Gonçalo Byrne e João Pedro
Falcão de Campos, e receberá, a partir do segundo semestre de 2013, o Museu do
Dinheiro.
As imagens do que era a igreja
até há relativamente pouco tempo impressionam. Pela porta principal, virada
para a Praça do Município, entravam os carros, que estacionavam no interior. E,
ao fundo, no que tinha sido a capela-mor, estavam, rompendo literalmente a
parede, as caixas-fortes. "O que fizemos foi uma limpeza sucessiva para
remover o betão, as argamassas, o cimento. Não fizemos mais do que
relevar", disse João Pedro Falcão de Campos durante a visita.
O projecto - com um custo final
de perto de 34 milhões de euros, mais IVA - fez ainda "crescer" um
piso as partes laterais da igreja, que passaram assim a cumprir o plano que o
marquês de Pombal fez para a Baixa depois do terramoto de 1755 e que até agora
a Igreja de São Julião não cumpria.
Na esquina do lado direito de quem está
virado para a igreja surge agora um óculo de vidro azulado - um dos detalhes
mais polémicos da obra. "Não fizemos [o novo piso] de forma mimética,
assumimos a contemporaneidade", explicou Falcão de Campos, reconhecendo,
contudo, que "a concretização ficou aquém" das expectativas.
O aumento de um piso permite que
a visita à igreja e aos espaços onde será instalado o Museu do Dinheiro se faça
de forma circular. Foi criado um corredor elevado junto à fachada principal,
separado da igreja por uma parede de vidro, que serve não só para ligar as duas
alas, como para reforçar a fachada principal, que corria riscos de derrocada em
caso de sismo.
"Jogo de equilíbrios"
A igreja, originalmente do século
XVII, mas reconstruída depois do terramoto, está integrada num quarteirão que
pertence, todo ele, ao Banco de Portugal - foi, aliás, o último dos nove
edifícios que o banco foi adquirindo entre 1868 e 1933, "fechando"
assim o quarteirão. A recuperação foi uma tarefa de grande complexidade, não só
pelas descobertas arqueológicas (ver caixa) mas também pelas exigências actuais
de segurança e conforto. Onde colocar toda a parafernália técnica necessária?
A solução foi sacrificar dois dos
edifícios do quarteirão, contíguos à igreja, colocando neles toda a parte
técnica, do ar condicionado aos elevadores, escadas de emergência e cabos. Não
era possível enterrar tudo, por um lado, porque, segundo Falcão de Campos,
"o nível freático é muito elevado" na zona e, por outro, as
descobertas arqueológicas não o permitiam. A parte técnica ficou assim
concentrada nos chamados "edifícios-sacrifício". "Esta obra é um
jogo de equilíbrios", afirmou o arquitecto.
A ideia é que o público passe a
usar a porta antes usada pelos carros para entrar na igreja e aceder quer ao
Museu do Dinheiro, quer às próprias instalações do Banco de Portugal, que podem
ser vistas por detrás de um longuíssimo pano dourado, criado (tal como os
painéis laterais nas antigas capelas) pela artista plástica Fernanda
Fragateiro. A nave central é um espaço polivalente, que pode servir para
concertos ou exposições temporárias.
O museu será, disse Luís Abreu
Nunes, responsável pelo projecto de conteúdos, uma "porta para a literacia
financeira". Embora inclua peças do espólio do Banco de Portugal - para já
o único objecto que pode ser visto é a enorme porta da antiga casa-forte onde
se guardavam as reservas de ouro do país -, não será um museu
"contemplativo", mas antes um espaço interactivo, no qual será contada
a história do dinheiro e das trocas no mundo.
Fonte: http://www.publico.pt
Comentários