Bienal Universitária reúne estudantes de arte brasileiros e estrangeiros em Belo Horizonte – Por Walter Sebastião
Irônica, sentimental, lírica. As
palavras do escritor modernista Oswald de Andrade (1890–1954), postas nessa
ordem, no texto do escritor elas aparecem na ordem inversa, definem o tom da
maioria das obras reunidas na Bienal Universitária de Arte – Bienal 1.
São
trabalhos de 69 artistas em duas mostras. Uma, com 61 artistas, em cartaz no
CentoeQuatro; a outra, na Galeria GTO do Sesc Palladium. Vale o conjunto, que
vem marcado pela vontade de questionar. Muitos temas são postos na berlinda sem
retórica e com pequenos gestos.
Não se faz arte estritamente conceitual, mas os
artistas evitam se deter no simplesmente artesanal. O resultado é arte muito
crítica, que potencializa observações e reflexões pessoais.
Está na exposição a religião
vista com ironia mordaz em trabalhos de Clarice Steinmuller e Fernando Antônio
Siqueira Ferreira. Registra-se a dubiedade da família e dos valores familiares
nas obras de Camilla Otto e Renata Laguardia Xavier.
A cidade é vista como
ruína e colagem por Camila Leroy e Marcelo Albuquerque. Há quem se volte para
rasura da legibilidade e confronto com o objeto, como José Veloso Júnior, Clara
Mendes e Bruno Gonçalves Oliveira Rios. Questiona-se o objeto artístico e o
sistema de arte por meio da criação de André Terayana, Esther de Oliveira
Azevedo, Barbara Mol e Danilo Bezerra.
As formas deixam dúvidas se querem
estruturar algo, como evidenciam trabalhos de Jérémy Pauly, Dally Velloso Lemos
e Cristiano Araújo. Às vezes, a mesma peça cruza, alucinadamente, todas essas
dimensões.
A Bienal 1 afirma a diversidade,
sem que isso signifique ecletismo. Apresenta desde trabalhos minúsculos até
grandes formatos. A questão da técnica utilizada pelos artistas nem se coloca,
já que todos apresentam misturas dos mais diversos procedimentos.
E mesmo quem
se vale de um único meio realiza obras tão atravessadas de elementos, práticas
e informações díspares, que o resultado é sempre tenso, quase reação à técnica
tornada algo distante e estranho. O mesmo, de alguma forma, vale para variedade
de escalas e modos de se alojar no espaço. Nada tem ares de espetáculo e tudo
cobra atenção do espectador.
Pode-se desejar mais ousadia nas
formatos – há trabalhos que pedem maior dimensão, assim como outros que não
justificam monumentalidade. Ou mais clareza nas proposições, que se afiguram
prejudicadas por peça única ou conjuntos prolixos e pouco esclarecedores. E até
um pouco mais de elaboração e aprofundamento na pesquisa. Não se trata de
mostra escolar: é uma bienal.
Mas são aspectos que vêm com mais vivência e prática.
E, além disso, são raras as mostras de fôlego que permitam, se não visões
panorâmicas, pelo menos conjunto expressivo que se possa observar o que vem das
escolas de arte. A mostra talvez não chegue a tanto, mas está, certamente, no
caminho.
AVANÇOS
“O novo vem com a moçada, mas
falta espaço para eles apresentarem o que vêm fazendo”, avisa Fabrício
Fernandino, coordenador da Bienal Universitária de Arte, lembrando que o tempo
anda fechado para os jovens e a disputa por locais para exposições “é feroz”.
Ele destaca como objetivo da Bienal 1 enfrentar a situação, abrindo espaço para
o estudante universitário ligado às práticas artísticas.
Motivo de satisfação para
Fernandino é a bienal apresentar trabalhos que extrapolam questões tradicionais
da arte. Problema, lembra, é a falta de recursos para o projeto. “Foi trabalho
movido a paixão, mais do que qualquer outra coisa”, afirma, contando que o
evento ficou em R$ 150 mil.
Se a bienal realizada em 2010 foi laboratório, a
deste ano define alguns eixos que serão permanentes, como mostras em vários
locais, abertura para a cidade, programa de residência e realização, a cada
edição, de homenagem a um artista. Este ano, o homenageado é Alberto da Veiga
Guignard.
O coordenador confirma nova
edição da bienal para 2014, compromisso assumido pelos reitores da UFMG e Uemg,
respectivamente Clélio Campolina e Dijon de Moraes, na abertura da mostra.
Bienal Universitária de Arte –
Bienal 1
. CentoeQuatro, Praça Rui
Barbosa, 104, Centro, (31) 3222-6457. Terça a domingo, das 14h às 22h. Até 2 de
dezembro. Entrada franca.
. Galeria de Arte GTO, Sesc
Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, (31) 3279-1500. Terça a domingo,
das 14h às 21h. Até 2 de dezembro. Entrada franca.
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