Psicografia científica
Cientistas brasileiros e
norte-americanos usaram as mais modernas técnicas de neuroimagens para analisar
o cérebro de médiuns brasileiros.
Os estudos foram feitos durante
sessões de psicografia, uma forma de comunicação em que o espírito de uma
pessoa já falecida escreve por meio das mãos do médium. A nova pesquisa revelou
resultados intrigantes da atividade cerebral, como um estado descrito pelos
cientistas como "dissociativo".
Os médiuns mais experientes
apresentaram uma redução na atividade cerebral, apesar do complexo conteúdo
escrito produzido por eles. Os resultados foram publicados na revista
científica PLOS ONE.
Ciência e mediunidade
"Já se sabe que as
experiências espirituais afetam a atividade cerebral. Mas a resposta cerebral à
mediunidade, a prática de supostamente estabelecer comunicação ou ser
controlado por uma pessoa já falecida, tem recebido pouca atenção
científica," disse Andrew Newberg, da Universidade Thomas Jefferson (EUA),
que coordenou o estudo.
Segundo ele, a partir destas primeiras
constatações, novos estudos sobre o assunto deverão começar a ser feitos. Foram analisados 10 médiuns,
cinco deles classificados como "experientes" e cinco como "menos
experientes".
Todos receberam uma injeção de um
marcador radioativo (radiofármaco) para capturar sua atividade cerebral durante
processos normais de escrita e durante a prática da psicografia, que envolve um
estado similar ao transe.
Os médiuns foram analisados
usando um exame chamado SPECT (single photon emission computed tomography,
tomografia computadorizada por emissão de fóton único), que é capaz de
registrar as áreas ativas e as áreas inativas do cérebro a cada momento.
Transe mediúnico
O estudo mostrou que os
psicografistas experientes apresentaram menores níveis de atividade no
hipocampo esquerdo (sistema límbico), giro temporal superior direito e regiões
do lobo frontal do cingulado anterior esquerdo e giro precentral direito
durante a psicografia, em comparação com sua escrita normal, fora do transe
mediúnico.
As áreas do lobo frontal estão
associadas com o planejamento, raciocínio, produção da linguagem, movimento e
resolução de problemas. Os cientistas levantam a hipótese
de que isto reflete, durante o transe mediúnico, uma ausência de foco,
autopercepção e consciência durante a psicografia.
Já os médiuns menos experientes
apresentaram exatamente o efeito oposto, o que os cientistas sugerem estar
associado ao maior esforço que eles fazem para executar a psicografia.
Avaliação neurocientífica da
mediunidade
Os textos psicografados foram
analisados pelos cientistas, que verificaram que os textos produzidos durante o
transe mediúnico apresentaram complexidades maiores do que aqueles produzidos
espontaneamente pelo próprio médium para referência, que não eram oriundos de
psicografia.
Em particular, os médiuns mais
experientes produziram textos com maiores pontuações no quesito complexidade,
que normalmente exigiriam mais atividade no córtex frontal e temporal -
exatamente o oposto do que os exames verificaram.
O conteúdo produzido durante as
psicografias versava sobre princípios éticos, a importância da espiritualidade,
e a aproximação entre ciência e espiritualidade.
"Esta que é a primeira
avaliação neurocientífica já realizada dos estados de transe mediúnico revela
alguns dados interessantes para melhorar a nossa compreensão da mente e sua
relação com o cérebro. Estas descobertas merecem estudos mais aprofundados,
tanto em termos de replicação quanto de hipóteses explicativas," concluiu
o Dr. Newberg.
O estudo foi orientado pelo Dr.
Newberg e contou com a participação dos brasileiros Júlio Fernando Peres
(Universidade da Pensilvânia), Alexander Moreira Almeida e Leonardo Caixeta
(Universidade Federal de Juiz de Fora) e Frederico Leão (Universidade de São
Paulo).
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