Tradição cristã da Alemanha obriga o país a receber os cristãos sírios
Defensores da ideia dizem que
tradição cristã da Alemanha obriga o país a receber os cristãos sírios.
Críticos afirmam que não se deve diferenciar por confissão religiosa na hora de
oferecer ajuda a refugiados.
O deputado Volker Kauder, líder
da bancada dos partidos União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã
(CSU) no Bundestag, afirmou ao jornal Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung
que acolher cristãos sírios na Alemanha é um ato de humanidade. Em declaração
ao mesmo jornal, o ministro alemão do Interior, Hans-Peter Friedrich, da CSU,
também afirmou ser favorável à acolhida aos cristãos sírios, pois, segundo ele,
eles são a minoria mais perseguida na Síria.
Cristãos sob pressão
Há mais de 2.000 anos os cristãos
habitam o território da atual Síria, ou seja, desde o surgimento do
cristianismo. A Igreja Ortodoxa Síria é uma das mais antigas do mundo. Muitos
de seus fiéis ainda falam o aramaico, a língua de Jesus. Também na atual
República Árabe Síria, os cristãos continuaram desempenhando um papel
importante. O ex-primeiro-ministro Faris al-Khoury, que ocupou o cargo nos anos
1940, era cristão.
Entre 8% e 10% dos habitantes da
Síria são cristãos, sendo que mais de 65% destes pertencem à Igreja Ortodoxa Síria.
Os outros são ligados à Igreja Católica ou são cristãos assírios. Sob o regime
de Bashar al-Assad, eles puderam viver sem grandes incômodos.
Em comparação à situação dos
cristãos em outros países do mundo árabe, os cristãos desfrutavam de muitas
liberdades na Síria. Desde o início da revolta popular no país, contudo, o
regime tenta fazer crer que a resistência está atrelada à confissão religiosa,
puxando os cristãos para seu lado. Isso faz com que os cristãos sejam vistos
como suspeitos por alguns dos opositores do governo.
Para o cientista político Ralph
Ghadban, essa impressão é compreensível, pois, há cerca de um ano e meio, a
maioria dos representantes oficiais das igrejas cristãs estava do lado de
Assad. No entanto, completou o especialista em Oriente Médio em entrevista à
Deutsche Welle, a postura de muitos cristãos mudou desde então. O cristão
George Sabra, por exemplo, recém-eleito presidente do Conselho Nacional Sírio,
defendeu publicamente o apoio aos rebeldes no combate ao governo.
País das minorias
O bispo Friedrich Weber,
presidente da Comunidade de Igrejas Cristãs (ACK, na sigla original), declarou
à Deutsche Welle seu apoio à ideia de a Alemanha abrigar cristãos sírios. “A
Alemanha é um país marcado pelo cristianismo. Estes sírios são nossos irmãos de
fé. Eles nos são próximos e por isso temos uma obrigação especial de dar
claramente nomes às coisas e não deixar tudo como está com uma postura comedida”,
completou o bispo.
Esta é uma posição rejeitada com
veemência pelo cientista político Ralph Ghadban. Segundo ele, “privilegiar um
grupo só pode ser considerado quando está claro que ele está sendo perseguido.
E não se tem nenhum indício, seja por parte dos cristãos na própria Síria, seja
por parte de Roma, de que esteja ocorrendo uma perseguição”, afirmou.
Ghadban, que nasceu no Líbano,
mas vive e trabalha há 40 anos na Alemanha, defende um tratamento igualitário
para os cristãos e os outros refugiados. Ele acentua o fato de a Síria sempre
ter sido um país de minorias, com uma população de curdos, drusos, cristãos,
alevitas, yezidis e muitos outros grupos religiosos e étnicos, que há séculos
convivem pacificamente no país.
Apoio na própria Síria
Além disso, a situação dos
cristãos na Síria não é tão clara: alguns apoiam as tropas de Assad e outros se
aliaram aos rebeldes. Os observadores dizem que o governo combate os cristãos,
que são ainda expostos a represálias nos campos de refugiados por parte dos
islâmicos.
Mesmo assim, analisou Ghadban, a
migração de cristãos sírios para a Alemanha ou para outros países europeus
deveria ser a última opção. Durante seus 17 anos de trabalho com refugiados,
ele disse ter aprendido que o melhor é mantê-los perto de seus países de origem
(neste caso, na Jordânia, na Turquia ou no Líbano), oferecendo a eles apoio.
“Primeiro, isso gera menos custos do que financiar essas pessoas na Alemanha.
Em segundo lugar, é um bom investimento, porque eles poderão voltar para casa
quando a guerra acabar. E também porque é melhor para a Síria se eles não
deixarem simplesmente o país”, concluiu.
Segundo Weber, muitos cristãos
sírios veem a situação exatamente da mesma maneira. “Ouvimos isso também deles.
Por isso muitos optam por ficar nos acampamentos, apesar dos sequestros e das
perseguições. O primeiro impulso de ajuda tem que ir para lá”, afirmou o
religioso.
Além disso, lembrou Weber, a
maioria dos cristãos sírios têm uma boa formação escolar e é, por isso,
especialmente importante para a reconstrução do país.
Fonte: http://www.amigodecristo.com
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