Você sabe qual é a importância da cultura negra para a história do Brasil? – Por Adriana Franzin
A partir da metade do século 16,
os africanos chegaram ao Brasil para trabalhar como escravos. Com eles, vieram
os costumes, as religiões, as tradições, uma cultura forte e diferente das que
já estavam aqui, vindas dos europeus e dos índios.
A união e a mistura de todos
esses elementos deram origem à identidade brasileira.
As contribuições da cultura de
origem africana para a construção da personalidade brasileira são inegáveis.
Elas estão em toda parte.
Música
Além do samba, que é o
estilo brasileiro mais famoso no mundo, outros ritmos também vieram da mãe
África: Maracatu, Congada, Cavalhada, Moçambique. Além disso, muitos
instrumentos musicais:
- afoxé: tipo de chocalho feito com uma cabaça e uma rede de miçangas;
- agogô: cones de metal tocados com uma baqueta; barimbau;
- caxixi: cesto de vime em forma de chocalho encerrado no fundo uma cabaça com sementes;
- atabaque: tambor alto;
- cuíca: parecido com tambor, mas com uma varinha encostada à pele, que fricciona produzindo som; djembe; ganzá e muitos outros.
Culinária
Ingredientes como o
leite de coco, a pimenta malagueta, o gengibre, o milho, o feijão preto, as
carnes salgadas e curadas, o quiabo, o amendoim, o mel, a castanha, as ervas
aromáticas e o azeite de dendê não eram conhecidos nem usados no Brasil antes
da chegada deles. Muitos pratos conhecidos e apreciados aqui vieram de lá:
vatapá, o caruru, o abará, o abrazô, o acaçá, o acarajé, o bobó, os caldos,o
cozido, a galinha de gabidela, o angu, a cuscuz salgado, a moqueca e a famosa
feijoada.
E os doces? Canjica, mungunzá, quindim, pamonha, angu doce, doce de
coco, doce de abóbora, paçoca, quindim de mandioca, tapioca, bolo de milho,
bolinho de tapioca entre outros.
Saiba um pouco mais sobre alguns
pratos:
- Abará: Bolinho feito com massa de feijão-fradinho temperada com pimenta, sal, cebola e azeite-de-dendê, camarão seco, inteiro ou moído e misturado à massa, que é embrulhada em folha de bananeira e cozida em água;
- Acaçá: Bolinho feito de milho macerado em água fria e depois moído, cozido e envolvido, ainda morno, em folhas verdes de bananeira;
- Ado: Doce de origem afro-brasileira feito de milho torrado e moído, misturado com azeite-de-dendê e mel;
- Aluá: Bebida refrigerante feita de milho, de arroz ou de casca de abacaxi fermentados com açúcar ou rapadura, usada tradicionalmente como oferenda aos orixás nas festas populares de origem africana;
- Quibebe: Prato feito de carne-de-sol ou com charque, refogado e cozido com abóbora;
- Acarajé: Bolo de feijão temperado e moído com camarão seco, sal e cebola, frito com azeite de dendê;
- Mungunzá: Feito de milho em grão e servido doce (com leite de coco) ou salgado com leite;
- Vatapá: Papa de farinha-de-mandioca com azeite de dendê e pimenta, servida com peixe e frutos do mar.
Religiões
Na África, há muitas
religiões diferentes. Antes de vir para cá, cada um seguia a religião de sua
família, clã, ou grupo. Mas quando chegaram aqui, os escravos foram separados
de seus parentes e pessoas próximas.
Por isso, passaram a se reunir com pessoas
de outras etnias para realizarem os cultos secretamente. Para que todos
pudessem participar, essas reuniões eram uma mistura de cada religião, com
rituais e cultura, unidos e partilhados. Daí surgiu o Candomblé.
A crença
nasceu na Bahia e tem sido sinônimo de tradições religiosas afro-brasileiras em
geral. A Umbanda, que também tem origens africanas, une práticas de várias
religiões, inclusive a Católica. Ela se originou no Rio de Janeiro, no início
do século 20. Tem muitas outras religiões de origem africana:
- Babaçu (PA);
- Batuque (RS);
- Cabula (ES, MG, RJ e SC);
- Culto aos Egungun (BA, RJ e SP);
- Culto de Ifá (BA, RJ e SP)
- Macumba (RJ),
- Omoloko (RJ, MG, SP),
- Quimbanda (RJ, SP),
- Tambor-de-Mina (MA),
- Terecô (MA),
- Xambá (AL, PE),
- Xangô do Nordeste (PE),
- Confraria,
- Irmandade dos homens pretos,
- Sincretismo
Artes marciais
A capoeira, uma
mistura de dança e luta, foi criada pelos escravos como uma estratégia de
defesa. Como os treinamentos de combate eram proibidos, os escravos que
conseguiam fugir mas que eram recapturados ensinavam aos demais os movimentos.
Embalados pelo som do berimbau, eles enganavam os capatazes, que achavam que
estavam apenas dançando.
Assim, eles treinavam nos engenhos sem levantar
suspeitas. A capoeira só deixou de ser proibida no Brasil apenas na década de
1930. Em 1953, o mestre Bimba apresentou a arte ao então presidente Getúlio
Vargas, que a chamou de “único esporte verdadeiramente nacional”.
Língua: As línguas africanas
exerceram tanta influência no modo de falar do povo brasileiro que a nossa
língua já é considerada diferente do Português de Portugal. Na Bahia, são
usadas cerca de 5 mil palavras de origem africana.
A maior parte das palavras
que enriqueceram o vocabulário brasileiro vem do quimbundo, língua do povo
banto. Na época da escravidão, o quibundo era a língua mais falada nas regiões
Norte e Sul do país.
Palavras de origem banta:
- BAGUNÇA – desordem, confusa, baderna, remexido.
- BANZÉ – confusão, barulho.
- BATUCAR – repetir a mesma coisa insistentemente.
- BELELÉU – morrer, sumir, desaparecer.
- BERIMBAU – arco-musical, instrumento indispensável na capoeira.
- BIBOCA – casa, lugar sujo.
- BUNDA – nádegas, traseiro.
- CACHAÇA – aguardente que se obtém mediante a fermentação e destilação do mel ou barras do melaço.
- CACHIMBO – pipo de fumar.
- CAÇULA – o mais novo dos filhos ou irmãos.
- CAFOFO – quarto, recanto privado, lugar reservado com coisas velhas e usadas.
- CAFUNÉ – ato de coçar, de leve, a cabeça de alguém, dando estalidos com as unhas para provocar o sono.
- CALANGO – lagarto maior que lagartixa.
- CAMUNDONGO – ratinho caseiro.
- CANDOMBLÉ – local de adoração e de práticas religiosas afro-brasileiras da Bahia.
- CANGA – tecido utilizado como saída-de-praia.
- CANGAÇO – o gênero de vida do cangaceiro.
- CAPANGA – guarda-costas, jagunço.
- CAPENGA – manco, coxo.
- CARIMBO – selo, sinete, sinal público com que se autenticam os documentos.
- CATINGA – cheiro fétido e desagradável do corpo humano, certos animais e comidas deterioradas.
- CHIMPANZÉ – espécie muito conhecida de macaco.
- COCHILAR (a ortografia correta deveria ser coxilar) – dormir levemente.
- DENDÊ – palmeira ou fruto da palmeira.
- DENGUE – choradeira, birra de criança, manha.
- FUNGAR – aspirar fortemente com ruído.
- FUZUÊ – algazarra, barulho, confusão.
- GANGORRA – balanço de crianças, formado por uma tábua pendurada em duas cordas.
- JILÓ – fruto do jiloeiro, de sabor amargo.
- MACUMBA – denominação genérica para as manifestações religiosas afro-brasileiras.
- MANDINGA – bruxaria, ardil, mau-olhado.
- MARIMBONDO – vespa.
- MAXIXE - fruto do maxixeiro.
- MINHOCA – verme anelídeo.
- MOLEQUE – menino, garoto, rapaz.
- MOQUECA – guisado de peixe ou de mariscos, podendo também ser feito de galinha, carne, ovos etc.
- MUCAMA – criada, escrava de estimação, que ajudava nos serviços domésticos e acompanhava sua senhora à rua, em passeios.
- QUIABO – fruto do quiabeiro.
- QUILOMBO – povoação de escravos fugidos.
- SENZALA – alojamentos que eram destinados aos escravos no Brasil.
- SUNGA – calção de criança.
- TANGA – tapa-sexo.
- TITICA – fezes, coisa sem valor, excremento de aves.
- ZABUMBA – bombo.
Fonte: http://www.ebc.com.br
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