Curitiba violenta: eclipse do altruísmo e do amor* - Por Luiz Flávio Gomes
Em 2000, Curitiba tinha 26,2
homicídios a cada 100 mil habitantes. De acordo com os levantamentos realizados
pelo Instituto Avante Brasil, a partir dos dados do Datasus (Ministério da
Saúde), a capital paranaense fechou o ano de 2010 com uma taxa de 56 homicídios
a cada 100 mil habitantes.
Falta em Curitiba, assim como falta no Brasil
inteiro (e em grande parte do mundo) a A-Himsa, que é o contrário de egoísmo.
A-Himsa é altruísmo e amor absoluto. A-Himsa é ação reta. Mahatma Gandhi fez da
A-Himsa o báculo de sua doutrina política. Gandhi definiu a manifestação da
A-Himsa assim:
"A não violência não
consiste em renunciar a toda a luta real contra o mal. A não-violência, como eu
a concebo, empreende uma campanha mais ativa contra o mal que a Lei de Talião,
cuja própria natureza dá por resultado o desenvolvimento da perversidade. Eu
levanto frente ao imoral uma oposição mental, por conseguinte, moral. Trato de
inutilizar a espada do tirano não fazendo cruzá-la com um aço de melhor
qualidade e sim defraudando sua esperança ao não oferecer resistência física
alguma. Ele encontrará em mim a resistência da alma que fugira do seu ataque.
Essa resistência primeiramente o cegará e depois o obrigará a dobrar-se. E o
fato de dobrar-se não humilhará o agressor e sim o dignificará... Não existe
arma mais poderosa do que a mente bem canalizada!"
Do total de 3.606 assassinatos
que ocorreram no estado do Paraná, 980 (27%) ocorreram em Curitiba em 2010 e,
considerando-se que naquele ano a capital possuía 1.751.907 de habitantes (de
acordo com os números do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), chega-se à taxa de 56 homicídios/100 mil habitantes.
Esta, assim como a de muitas
outras cidades e estados brasileiros, é uma taxa de assassinatos extremamente
alta, tendo em vista que, conforme os padrões da OMS (Organização Mundial de
Saúde), uma região que possua mais de 10 assassinatos a cada 100 mil habitantes
já é qualificada como uma zona epidêmica de homicídios (Veja: Diminuição da
violência na cidade do Rio de Janeiro não é o bastante e Percepção da violência
pelos belo-horizontinos não condiz com a realidade).
Considerando-se que, em 2000, o
índice na cidade era de 26,2 homicídios a cada 100 mil habitantes (dados do
Mapa da Violência 2012), é possível notar que ele dobrou em dez anos. Naquele
ano, o número absoluto de homicídios na cidade também era reduzido pela metade,
416 assassinados.
Na época, há dez anos atrás, a
cidade ocupava a 18ª colocação dentre as capitais mais violentas do país,
posição que em 2009 regrediu para o 6º lugar. O elevado número de mortes na
cidade ensejou, inclusive, a criação de um site que veicula chocantes casos de
assassinatos ali ocorridos, chamado www.crimescuritiba.com.
Dessa forma, a violência e o
morticínio vêm contaminando cada vez mais os estados e cidades brasileiras,
sejam elas do norte e nordeste, onde a violência toma proporções desastrosas,
seja no sudeste ou sul, onde apesar de mais desenvolvidos economicamente, os
estados e suas capitais também se encontram mergulhados em um mar de sangue.
Não será o momento de criação de um sério plano nacional de combate à
violência? Ou melhor: uma política ética de não-violência, como pregava Gandhi?
**Colaborou: Mariana Cury Bunduky
– Advogada, Pós Graduanda em Direito Penal e Processual Penal e Pesquisadora do
Instituto Avante Brasil.
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