Regressão a vidas passadas: fantasia ou realidade? – Por Caroline Treigher
Resolvi escrever sobre este tema
tão polêmico por sugestão do blogueiro Wanfil. Costumo evitar os territórios
dos debates infrutíferos, mas como acho que é possível chegar a uma conclusão
coerente, em se falando de regressão a supostas vidas passadas, sem ferir a
crença ou descrença de quem quer que seja, resolvi aceitar o desafio e aqui
estou.
Regressão de memória a vidas
passadas é um tema intrigante por fomentar questões existenciais que nos fazemos
desde as eras remotas: “De onde viemos? Para onde vamos? Por que estamos aqui?”
É verdade que já faz algum tempo
que a Ciência negou-se a examinar tais perguntas, relegando-as ao domínio da
Filosofia e da Religião. Entretanto, uma
verdadeira revolução paradigmática, encabeçada pela Física
Quântica, tem recuperado as reflexões
existenciais como objeto dos meios científicos. Mas este é um movimento recente
e, quando o assunto envolve regressão de memória a vidas passadas, ainda há
muito preconceito a ser enfrentado.
A discriminação acerca deste tema
deve-se principalmente ao fato de as vidas passadas pertencerem mais ao escopo
das tradições espirituais que ao da pesquisa acadêmica propriamente dita. Mesmo
assim, nos meios científicos, há pesquisadores que enveredam na investigação da
possibilidade literal da reencarnação, como Yan Stevenson, autor de Twenty
Cases Suggestive of Reincarnation e, mais recentemente, Amit Goswami, que no
seu livro: Physics of the Soul.
Mas independente de ser
comprovada ou não da reencarnação, é possível trabalhar com regressão de
memória a vidas passadas. Basta simplesmente assumir que, para fins
terapêuticos, não interessa comprovar a multiplicidade das existências. Não é
este o papel de um terapeuta. O objetivo maior de uma terapia, afinal, é ajudar
o cliente, e não resolver o problema filosófico da existência humana. Segundo o
terapeuta junguiano de Oxford, Dr. Roger Woolger (2008):
“Quando uma memória de vida passada
é evocada ou ocorre espontaneamente na terapia, não a vejo como um fim em si
mesma, mas apenas como um meio que pode favorecer a catarse emocional, a auto
compreensão e a cura que, em minha opinião, são os verdadeiros objetivos da
terapia.”
Mesmo assim, não é tão simples
separar posturas profissionais de convicções pessoais. Naturalmente pessoas que
acreditam em reencarnação vêem-se mais propensas a trabalhar com regressão de
memória a vidas passadas. Porém é possível guiar-se, para explicar o fenômeno
de lembrança de outras vidas, pela hipótese junguiana de que somos todos
capazes de mergulhar nas memórias coletivas da humanidade e que as recordações
mencionadas não são mais que experiências deste tipo. Por outro lado, nada nos
impede também, ainda citando Woolger, de “abraçar a reencarnação em toda sua
sublime simplicidade”.
Permanece então a dúvida no campo
da verdade literal das vidas passadas, mas não a respeito da verdade do
fenômeno denominado regressão a vidas passadas.
Segundo Dr. Woolger, “para o terapeuta há um outro tipo de verdade, a
verdade psíquica: aquilo que é real para o paciente.” Ou, como diria o
psiquiatra suíço Carl G. Jung (2008):
“Para o psicólogo, nada há mais
estúpido do que o ponto de vista do missionário que declara ilusórios os deuses
dos pobres pagãos. No entanto, infelizmente, hoje ainda se costuma dogmatizar,
como se aquilo que chamamos realidade também não fosse ilusório. No domínio
psíquico, como na experiência em geral, realidade são os fatores eficazes.”
(grifo meu).
Portanto, quando perguntam, a
respeito da regressão de memória a vidas passadas, se é realidade ou fantasia,
não constituirá um contrassenso responder: as duas coisas. Por que, enfim, o
que no faz acreditar que o que denominamos realidade não é, na essência, uma
fantasia?
Citações:
WOOLGER, Roger. As várias Vidas
da Alma. São Paulo, Cultrix, 2008.
JUNG, Carl. Ab-reação, Análise
dos Sonhos, Transferência. Petrópolis, RJ. Vozes, 2008.
Comentários