Antropólogo realiza observações científicas a respeito do impacto da religião na vida das pessoas
Uma das descobertas científicas mais impressionantes sobre religião nos últimos
anos é que ir à igreja uma vez por semana faz bem.
Frequentar a igreja e no
mínimo, a religiosidade, melhora o sistema imunológico e diminui a pressão
arterial. Isso pode acrescentar até dois ou três anos de vida. A razão para
isso não está inteiramente clara.
O apoio social é sem dúvida uma parte da história. Nas igrejas evangélicas que
estudei como antropólogo, as pessoas realmente parecem cuidar umas das outras.
Elas apareciam com o jantar quando os amigos estavam doentes e se sentavam com
eles quando estavam tristes. A ajuda às vezes era surpreendentemente concreta.
Talvez um terço dos membros da igreja pertenciam a pequenos grupos que se
encontravam semanalmente para falar sobre a Bíblia e suas vidas. Uma noite, uma
jovem de um grupo no qual eu tinha entrado começou a chorar. Seu dentista tinha
dito que ela precisava de um procedimento de US$ 1.500, e ela não tinha o
dinheiro. Para meu espanto, nosso pequeno grupo, cuja maioria era de estudantes,
simplesmente cobriu os custos, com doações anônimas.
Um estudo realizado na
Carolina do Norte descobriu que fiéis frequentes tinham redes sociais maiores,
com mais contatos, mais afeição e mais tipos de apoio social do que as pessoas
que não frequentavam igrejas. E nós sabemos que o apoio social está diretamente
ligado a uma saúde melhor.
O comportamento saudável é, sem
dúvida, outra parte. Certamente muitos fiéis lutam com comportamentos que
gostariam de mudar, mas, em média, os frequentadores regulares de igrejas bebem
menos, fumam menos, usar menos drogas recreativas e são menos sexualmente
promíscuos do que os outros.
Isso corresponde às minhas próprias
observações. Numa igreja que eu estudei no sul da Califórnia, a história de
conversão mais comum parecia ser ter encontrado Deus e nunca mais ter tomado
metanfetaminas. (Uma mulher me disse que ao esquentar sua dose, ela desencadeou
uma explosão no apartamento de seu pai que estourou as portas de vidro. Ela me
disse: "Eu sabia que Deus estava tentando me dizer que eu estava indo pelo
caminho errado.") Na igreja seguinte, lembro-me de ter ido a um grupo que
ouvia uma mulher falar sobre um vício que ela não conseguia largar. Assumi que
ela estava falando sobre sua própria batalha contra a metanfetamina. No fim,
ela achava que lia romances demais.
No entanto, acho que pode haver outro
fator. Qualquer religião demanda que você vivencie o mundo como algo mais do
que é apenas material e observável. Isso não significa que Deus é imaginário,
mas que, como Deus é imaterial, os que creem nele precisam usar sua imaginação
para representar Deus. Para conhecer Deus numa igreja evangélica, você deve
experimentar o que só pode ser imaginado como real, e você deve experimentar
isso como algo bom.
Quero sugerir que esta é uma
habilidade e que pode ser aprendida. Podemos chamá-la de absorção: a capacidade
de se envolver em sua imaginação, de uma maneira que você goste. O que eu vi na
igreja como um observador antropológico foi que as pessoas eram incentivadas a
ouvir a Deus em suas mentes, mas apenas para prestar atenção às experiências
mentais que estavam de acordo com o que elas considerassem ser o caráter de
Deus, que elas consideram bom. Vi que as pessoas eram capazes de aprender a
vivenciar Deus dessa forma, e que aquelas que eram capazes de vivenciar um Deus
amoroso de forma vívida, eram mais saudáveis, pelo menos, julgando por uma
escala psiquiátrica padronizada. Cada vez mais, outros estudos confirmam esta
observação de que a capacidade de imaginar um Deus amoroso vividamente leva a
uma saúde melhor.
Por exemplo, num estudo, quando Deus
era experimentado como algo mais remoto não amoroso, quanto mais alguém
rezava, mais sofrimento psiquiátrico parecia ter; quando Deus era experimentado
como próximo e íntimo, quanto mais alguém orava, menos doente ficava. Em outro
estudo, numa faculdade cristã particular no sul da Califórnia, a qualidade
positiva de um apego a Deus diminuiu significativamente o estresse e fez isso
de forma mais eficaz do que a qualidade das relações da pessoa com outras
pessoas.
Eventualmente, isso pode nos ensinar
como aproveitar o efeito "placebo", uma palavra terrível, porque
sugere uma ausência de intervenção em vez da presença de um mecanismo de cura
que não depende de produtos farmacêuticos nem de cirurgia. Nós não entendemos o
efeito placebo, mas sabemos que é real. Ou seja, temos cada vez mais provas de
que o que os antropólogos chamariam de "curas simbólicas" têm efeitos
físicos reais sobre o corpo. No cerne de alguns destes efeitos misteriosos pode
estar a capacidade de confiar que aquilo que só pode ser imaginado seja real, e
seja bom.
Mas nem todos se beneficiam da cura
simbólica. No início deste mês, o filho mais novo do famoso pastor Rick Warren
se suicidou. Sabemos poucos detalhes, mas a perda nos lembra que sentir
desespero quando você quer sentir o amor de Deus pode piorar a sensação de alienação.
Necessitamos com urgência de mais pesquisas sobre a relação entre doença mental
e religião, não só para que possamos compreender mais intimamente essa relação,
as formas pelas quais elas estão ligadas e são diferentes, mas para reduzir a
vergonha daqueles que são religiosos e, no entanto, precisam buscar outros
cuidados.
*T. M. Luhrmann, professor de
antropologia na Universidade de Stanford e autor do livro "When God Talks
Back: Understanding the American Evangelical Relationship With God" [algo
como: "Quando Deus Responde: Entendendo a Relação dos Evangélicos
Norte-Americanos com Deus"] é um colunista convidado.
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