“O homem tem que saber como funcionam as leis do universo” - Por Nelson Junior



 A relação entre fé, religião e ciência foi tema de uma mesa redonda na noite de ontem na UTFPR de Pato Branco. 

Vistas geralmente como uma dualidade inconciliável, a religiosidade e a pensamento científico foram esmiuçados por representantes de três das religiões mais influentes do mundo: o cristianismo, o judaísmo e o islamismo.

Representantes das três crenças apresentaram seus pontos de vista no encontro promovido pelo curso de Letras. Adeptos de outras religiões também estiveram no encontro. O sheik Abdelbagi Sidahmed Osman representou o islamismo.

O sudanês, naturalizado brasileiro, é diretor executivo do Instituto Latino-Americano de Estudos Islâmicos e já prestou consultoria à Rede Globo em assuntos relacionados à cultura islâmica.

O próprio Abdelbagi é um exemplo de como os muçulmanos são conhecidos superficialmente por grande parte do público. Ele, assim como a maioria dos seguidores do islamismo, não é árabe. 

“O país com o maior número de muçulmanos no mundo é a Malásia. Hoje há em torno de um bilhão de adeptos do islamismo e cerca de 15% dos muçulmanos estão no mundo árabe. E nem todos os árabes são muçulmanos. Há árabes cristãos, judeus, ateus”, detalhou.

A relação entre a etnia e a crença pode estar ligada ao fato de o Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, ter sido revelado em árabe, analisa o sheik.

Ciência

Estimular a busca pelo conhecimento é um princípio que faz parte da doutrina islâmica, explica Abdelbagi. Segundo ele, o ser humano é o vice-gerente de Deus na administração do universo, que funciona de acordo com leis naturais criadas por ele. “O vice-gerente tem que saber como funcionam essas leis, para ele administrar de acordo com a vontade de Deus”, continuou.

O princípio presente na cultura muçulmana ajudou a fundar algumas das primeiras universidades do mundo, e foi o responsável por avanços em várias áreas, sobretudo na matemática.

Ele diz ainda que o islamismo vai além do conceito tradicional de religião, pois é encarado por seus seguidores como um sistema completo de vida. “A reflexão é feita na relação do ser humano com Deus, com seu semelhante, com o meio ambiente, enfim, na sua relação com o contexto em que vive”, detalhou.

No Brasil

A religião islâmica fez parte das grandes navegações, pois muitos guias de navegação das caravelas eram muçulmanos, conta o sheik.

O período da escravidão, quando negros eram transportados do continente africano para o Brasil, também ajudou a trazer o islamismo no continente. “Atualmente temos comunidades muçulmanas de origem árabe, que vieram ao Brasil a partir do século 19, e também há muçulmanos brasileiros”, contou.

Política

Apesar de o Brasil ser um estado laico, o sheik Abdelbagi acredita que as religiões tem papel importante na inversão de um quadro que ele chama de “decadência dos valores morais” na sociedade brasileira.

“Na primeira administração de Lula criou-se uma lei federal que estabelece o ensino religioso nas escolas. Nós consideramos isso um grande passo, pois reconhece o papel fundamental que a religião exerce na moralidade do individuo dentro da sociedade”
, justifica.



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