Turismo impulsiona novo apogeu de dança cambojana – Por Marina Wentzel
A dança Apsara, uma tradicional arte
de origem religiosa banida durante os anos do regime do Khmer Rouge, vive
atualmente um novo pico de popularidade com a explosão do turismo no Camboja.
O interesse dos viajantes pela cultura
local tem fomentado a divulgação dessa arte, e tudo indica que o fluxo de
estrangeiros para o país deve continuar aumentando. O Ministério do Turismo do
Camboja estima a chegada de quatro milhões de turistas em 2013, um recorde que
gerará mais de US$ 2,2 bilhões.
Apesar de praticada há mais de mil
anos, a dança foi considerada burguesa durante os anos de regime comunista de
Pol Pot (1975-1979), quando o Royal Ballet do Camboja foi fechado. Diversos
bailarinos foram perseguidos, presos em campos de trabalho forçado ou
assassinados.
Nos anos 60, a Apsara ganhou
notoriedade mundial com a ajuda da princesa Norodom Buppha Devi, que se
apresentou com o balé real em diversos países. Originalmente, a dança era
reservada somente à corte e significava uma sagrada adoração aos deuses.
Novo
momento
Uma dançarina e empresária que integra
este novo momento da tradicional dança conta que seu pai chegou a ser preso e
teve a sorte de sobreviver aos anos de opressão. "Ele me ensinou tudo que
sei e fico feliz que ele está vivo pra ver esse sucesso", disse So Phorn à
BBC Brasil.
Ela começou a praticar a Apsara ainda
criança e hoje é agente de uma trupe com 34 bailarinos que se apresentam em
restaurantes e hotéis de Siem Reap, principal destino turístico do país, onde
fica o complexo de templos de Angkor.
Não há dados oficiais para o número de
grupos ou artistas que apresentam a Apsara, mas a tendência de popularização é
evidente pela grande oferta de shows em Siem Reap. So Phorn afirma que nunca foi tão
próspera e seu negócio só tende a crescer. "É o turismo que ajuda",
reconhece.
Ela recorda que parte das coreografias
foram esquecidas e as imagens esculpidas nos templos ajudaram a recordar os
passos. "Muitos amigos do meu pai
morreram. Ele teve sorte de escapar. Tivemos de redescobrir a tradição",
diz.
Mitologia
A Apsara tem suas origens em
narrativas mitológicas do hinduísmo, onde ninfas angelicais dançavam para
homens e deuses. As oito diferentes posições da mão representam o ciclo da
vida, com a fecundação de uma nova planta.
Interpretada individualmente ou em
grupos, a dança é uma coreografia lenta embalada pelo som de xilofone,
percussão e flauta.
Sri Mai tem 21 anos e é uma das
estrelas da trupe de So Phorn. Ela começou a praticar aos oito anos de idade no
templo de Wat Chok e conta que a parte mais difícil é desenvolver a
elasticidade das mãos para conseguir virar a ponta dos dedos em direção ao
braço.
Um projeto do Centro de Estudos Khmer
filmou entre 2008 e 2012 mais de 40 entrevistas e performances com os
integrantes originais do Royal Ballet do Camboja para registrar a tradição, que
foi declarada "patrimônio cultural da humanidade" pela Unesco em
2003.
"O material que coletamos
aumentará significativamente o entendimento que temos da dança Apsara",
escreveu Suppya Helene Nut, diretora do projeto.
"Imagino que com essa febre do
turismo a dança Apsara fique cada ainda mais popular e logo nossa tradição seja
conhecida em lugares distantes, como o Brasil", espera o guia turístico Ly
Sarith.
Fonte: http://www.bbc.co.uk
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